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SP lança apartamento com área igual à de 29 casas do pacote do governo federal
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Até mesmo os potenciais
compradores de um apartamento de 1.200 m2 podem ter
dúvidas no reconhecimento
dos cômodos, quando ainda
não há móveis nem acabamento. No lançamento do
edifício Adolpho Carlos Lindemberg, anteontem, no Jardim Morumbi (zona oeste),
foi preciso chamar um especialista para explicar o que
era aquele quarto sem janelas, de 16 m2, com uma pia
dentro. "É um lavabo", insistia uma assessora.
Lavabo sem vaso sanitário?
Nada parece estranho
quando se trata de um "consumidor diferenciado", que
vai desembolsar por volta de
R$ 13 milhões no "maior
apartamento de uma laje só
de São Paulo". Só o "banheiro
da senhora" mede 28 m2: o
vaso e o bidê estão tão diminuídos no contexto que mais
parecem dois pombos órfãos.
A área do imóvel equivale a
28,6 apartamentos do pacote
habitacional lançado ontem
pelo governo -na faixa para
famílias com renda mensal
de até três salários mínimos.
O corretor Fábio Rossi, diretor no Brasil da Sotheby's
International Realty, o braço
imobiliário da famosa casa de
leilões, aparece para revelar a
função do quarto com a pia.
"É uma adega", diz.
Com um tom professoral,
Rossi pergunta: "Por que a
pia?". Ele próprio responde:
"Quem tem uma adega dessas
vai querer lavar ele mesmo
seus copos Riedel...".
E se ele não souber o que é
um copo Riedel? "Esse consumidor gosta de aprender."
Não parece difícil arrumar
12 pessoas que tenham R$
13,5 milhões: imagina-se que
um imóvel com essas dimensões esteja até em falta.
O empreendedor Adolpho
Lindemberg diz que sim. "Se
você procura um imóvel de
três quartos, com 100 m2, há
uma infinidade. Mas de 1.200
m2 são quantos?" Ele diz que
o comprador daquela unidade "tem 40, 45 anos, e está começando na vida..." Nem é
preciso desejar boa sorte.
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