São Paulo, sexta-feira, 26 de março de 2010

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JUAN QUIRÓS

Amigos, amigos, negócios à parte!


Quando falamos de exportações, devemos ser pragmáticos, pois estamos tratando de negócios


A PROXIMIDADE da desincompatibilização de cargos dos postulantes à Presidência da República desencadeia os debates sobre as prioridades econômicas. A iniciativa privada já emitiu sinais de que o foco deve ser no reaquecimento da produção, na ampliação do crédito e na retomada dos investimentos em infraestrutura, mas chama especial atenção para o seu interesse em reestruturar o comércio exterior, tendo empresários como gestores no futuro governo. A boa notícia é que esse processo não seria prejudicado por questões como a retaliação de produtos dos Estados Unidos, autorizada pela OMC (Organização Mundial do Comércio) devido ao desrespeito de Washington a sua determinação de extinguir os subsídios ao algodão.
Essa é uma disputa trivial e civilizada entre economias, no âmbito de legítimo organismo multilateral. Ademais, trata-se de oportunidade de negociar a redução tarifária, na alfândega norte-americana, de itens da pauta brasileira de exportações. De todo modo, paira no meio empresarial preocupação quanto à capacidade do Brasil de manter e/ou continuar ampliando as exportações.
Parte do ceticismo atribui-se aos resquícios da crise econômica nos Estados Unidos e na União Europeia, mas as dúvidas parecem ter como principais causas retrocessos na estratégia comercial e a contaminação do comércio exterior por interesses políticos.
Embora a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento mantenha-se otimista com a projeção de US$ 172 bilhões em exportações para este ano, é inevitável recorrermos à avaliação do desempenho da corrente comercial, que, no ano passado, caiu 25% em relação a 2008, somando pouco mais de US$ 280 bilhões. A crise teve impacto negativo, mas vale reconhecer que o Brasil mostrou-se muito vulnerável em três aspectos: competitividade, acesso a mercados e eficiência na gestão.
O equacionamento do primeiro implica desoneração tributária, resgate dos gargalos da logística e da infraestrutura e incremento da inovação tecnológica. Quanto ao segundo ponto, pressupõe-se atuação mais assertiva nas negociações multi e bilaterais e a inserção de mercadorias, bens e serviços com base de distribuição e comercialização em mercados estratégicos. Isso resultaria na redução do espaço entre os produtos e os consumidores.
Finalmente, é preciso haver mais sinergia na gestão da política comercial, a ser compartilhada entre governo e empresários. Fazendo tais lições, o Brasil superaria de modo significativo a meta de exportações para 2010. E mais: a combinação de maior competitividade e organização da infraestrutura e logística com um conjunto de ações estruturadas dos setores público e privado reduziria o impacto do câmbio.
São legítimos os estímulos do governo às exportações, como a redução tributária sobre insumos de bens voltados às vendas externas e o pacote de incentivos ao exportador, a ser anunciado em breve pelo Ministério da Fazenda, incluindo a criação do Eximbank do Brasil. Contudo, devemos concentrar esforços em retomar a identidade do comércio exterior, focando resultados, a partir de estratégia orientada à conquista de novos compradores e, sobretudo, na agregação de valor às exportações.
É inútil tergiversar. Ninguém perde mercados devido ao exercício diplomático e ao debate civilizado com as nações amigas. Porém, é preciso ficar claro que, quando falamos de exportações, devemos ser pragmáticos, pois estamos tratando de negócios!

JUAN QUIRÓS é presidente do Grupo Advento e vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e da Abdib (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base).

Excepcionalmente, hoje, a coluna de LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS não é publicada.



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