São Paulo, segunda-feira, 26 de abril de 2004

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MERCADO FINANCEIRO

Números elevados no índice de inflação poderiam antecipar a alta; impacto sobre Brasil é dúvida

Para analistas, juro dos EUA sobe em agosto

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Apostas de quando os juros subirão nos EUA concentram-se entre junho, julho e agosto, segundo analistas de bancos estrangeiros.
Eles também se dividem quanto aos reflexos da elevação da taxa sobre o Brasil. A maioria, porém, tende a considerar que, apesar de um ajuste inicial de preços, que já começou, o fluxo para mercados emergentes não deverá se alterar muito, se a alta dos juros for moderada como se espera.
Há o lado positivo da elevação de taxas. Isso sinaliza recuperação do crescimento norte-americano, o que afasta o risco de recessão mundial e fomenta o comércio e fluxo de recursos.
Mais do que quando os juros vão subir, o que já é dado como certo, interessa saber quanto e com que velocidade a taxa subirá.
Para muitos analistas, o Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) não elevará a taxa antes de preparar bem o mercado e ganhar tempo. Muitos investidores fizeram apostas com alavancagem e há risco de quebra dessas apostas.
"O Fed está desarmando essa bomba. Grandes investidores compraram títulos mais longos, que rendiam 3,5% a 4% ao ano, e tomaram dinheiro no curto prazo a 1%. Se a subida for muito rápida, as taxas longas sobem muito e muita gente quebra", diz Gilberto Kfouri, do BNP Paribas, que espera elevação da taxa entre junho e agosto.
A cautela do presidente do Fed, Alan Greenspan, que deverá se traduzir em alta moderada dos juros, tende a beneficiar o Brasil, segundo economistas. O primeiro movimento deve ser de 0,25 ponto percentual, segundo consenso no mercado norte-americano.
"O impacto da mudança nos juros deve levar a um mercado com tendência de queda dos títulos da dívida pública de países emergentes, inclusive Brasil", afirma o economista Paulo Leme, do banco Goldman Sachs, em Nova York.
Em um pior cenário, de alta dos juros com volatilidade, o fluxo poderia ser cerceado temporariamente para o país, afirma Leme.
"Isso pressionaria o câmbio, elevaria os juros e reduziria o crescimento. No entanto, nada na escala de 2002, uma crise e, sim, pressões desfavoráveis", diz.
O Goldman Sachs não alterou sua previsão de que o ciclo de aumento de taxas comece em 2005. Em sua avaliação, não há pressão no mercado de trabalho nem a inflação preocupa, o que justificasse aumento ainda neste ano.
Apesar disso, segundo Leme, cresceu a probabilidade de que dados de atividade e emprego, ainda que não de inflação, venham "muito fortes até junho. Por isso, não descartamos que a alta de juros comece aí, mas mais provavelmente em agosto."
O contrato de junho no mercado futuro embute probabilidade de 50% de aumento de 0,25 ponto percentual. Mas a maior parte do mercado ainda aposta em agosto.
Para Paulo Tenani, economista do Citigroup Asset Management, o Brasil ainda é vulnerável.
"As reformas não reduziram vulnerabilidade. Seria preciso reduzir mais a volatilidade do câmbio, tirar a CPMF. O país não agüenta alta de cinco pontos percentuais. Agüenta de um ponto, 1,5 ponto percentual nas taxas longas [de títulos de dez anos]."
Para outros analistas, não há razão para tanta preocupação, ainda mais depois do resultado recorde de superávit primário registrado no primeiro trimestre.
"Existe pressão, mas já sofremos pressões piores. O câmbio é flexível. Não vejo dificuldade de rolagem, porque a situação hoje é diferente", diz Roberto Dumas, professor do Ibmec.


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