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MERCADO FINANCEIRO
Números elevados no índice de inflação poderiam antecipar a alta; impacto sobre Brasil é dúvida
Para analistas, juro dos EUA sobe em agosto
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Apostas de quando os juros subirão nos EUA concentram-se entre junho, julho e agosto, segundo
analistas de bancos estrangeiros.
Eles também se dividem quanto
aos reflexos da elevação da taxa
sobre o Brasil. A maioria, porém,
tende a considerar que, apesar de
um ajuste inicial de preços, que já
começou, o fluxo para mercados
emergentes não deverá se alterar
muito, se a alta dos juros for moderada como se espera.
Há o lado positivo da elevação
de taxas. Isso sinaliza recuperação
do crescimento norte-americano,
o que afasta o risco de recessão
mundial e fomenta o comércio e
fluxo de recursos.
Mais do que quando os juros
vão subir, o que já é dado como
certo, interessa saber quanto e
com que velocidade a taxa subirá.
Para muitos analistas, o Fed (Federal Reserve, o banco central
norte-americano) não elevará a
taxa antes de preparar bem o
mercado e ganhar tempo. Muitos
investidores fizeram apostas com
alavancagem e há risco de quebra
dessas apostas.
"O Fed está desarmando essa
bomba. Grandes investidores
compraram títulos mais longos,
que rendiam 3,5% a 4% ao ano, e
tomaram dinheiro no curto prazo
a 1%. Se a subida for muito rápida,
as taxas longas sobem muito e
muita gente quebra", diz Gilberto
Kfouri, do BNP Paribas, que espera elevação da taxa entre junho e
agosto.
A cautela do presidente do Fed,
Alan Greenspan, que deverá se
traduzir em alta moderada dos juros, tende a beneficiar o Brasil, segundo economistas. O primeiro
movimento deve ser de 0,25 ponto percentual, segundo consenso
no mercado norte-americano.
"O impacto da mudança nos juros deve levar a um mercado com
tendência de queda dos títulos da
dívida pública de países emergentes, inclusive Brasil", afirma o economista Paulo Leme, do banco
Goldman Sachs, em Nova York.
Em um pior cenário, de alta dos
juros com volatilidade, o fluxo
poderia ser cerceado temporariamente para o país, afirma Leme.
"Isso pressionaria o câmbio,
elevaria os juros e reduziria o
crescimento. No entanto, nada na
escala de 2002, uma crise e, sim,
pressões desfavoráveis", diz.
O Goldman Sachs não alterou
sua previsão de que o ciclo de aumento de taxas comece em 2005.
Em sua avaliação, não há pressão
no mercado de trabalho nem a inflação preocupa, o que justificasse
aumento ainda neste ano.
Apesar disso, segundo Leme,
cresceu a probabilidade de que
dados de atividade e emprego,
ainda que não de inflação, venham "muito fortes até junho.
Por isso, não descartamos que a
alta de juros comece aí, mas mais
provavelmente em agosto."
O contrato de junho no mercado futuro embute probabilidade
de 50% de aumento de 0,25 ponto
percentual. Mas a maior parte do
mercado ainda aposta em agosto.
Para Paulo Tenani, economista
do Citigroup Asset Management,
o Brasil ainda é vulnerável.
"As reformas não reduziram
vulnerabilidade. Seria preciso reduzir mais a volatilidade do câmbio, tirar a CPMF. O país não
agüenta alta de cinco pontos percentuais. Agüenta de um ponto,
1,5 ponto percentual nas taxas
longas [de títulos de dez anos]."
Para outros analistas, não há razão para tanta preocupação, ainda mais depois do resultado recorde de superávit primário registrado no primeiro trimestre.
"Existe pressão, mas já sofremos pressões piores. O câmbio é
flexível. Não vejo dificuldade de
rolagem, porque a situação hoje é
diferente", diz Roberto Dumas,
professor do Ibmec.
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