São Paulo, quarta-feira, 26 de abril de 2006

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ENERGIA

Presidente dos EUA diz que etanol "vai substituir" a gasolina; governo defende subsídios para produtores americanos

Bush congela reservas para segurar petróleo

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Dias depois de o barril do petróleo bater os US$ 75, a poucos meses das eleições que renovarão parte do Congresso norte-americano e em meio a uma crise de credibilidade do governo, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, anunciou um plano para tentar conter a atual alta do preço do combustível e evitar que o aumento chegue às bombas de gasolina.
O ponto principal, a curto prazo, é que os Estados Unidos congelarão seus depósitos no fundo de emergência de petróleo. Outros pontos incluem investimentos em novos combustíveis, como o etanol, a busca de novas reservas de petróleo, a criação de novas refinarias e uma investigação federal que verificará se os grandes produtores norte-americanos manipularam o mercado.
Após o anúncio de Bush, o petróleo caiu na Bolsa de Nova York. O contrato para entrega em junho teve queda de 0,6%, fechando a US$ 72,88. Já na Bolsa de Londres, o petróleo do tipo Brent fechou a US$ 73,21 o barril, após subir 0,3%.
Atualmente, o governo do país é obrigado a atualizar quadrimestralmente o estoque da Reserva Estratégica de Petróleo, criada para manter os setores-chave funcionando em caso de crise grave internacional, conflito ou ataque e alta incontrolável do preço do barril. O fundo tem 727 milhões de barris, o suficiente para 37 dias.
"Ao atrasar [o depósito] no estoque até o outono, teremos um pouco mais de petróleo no mercado", afirmou Bush durante discurso à Associação de Combustíveis Renováveis, em Washington, em que colocou mais peso no que havia dito no começo do ano, em seu discurso sobre o Estado da União, sobre a dependência dos EUA de petróleo: "Nosso vício em petróleo é uma questão de segurança nacional", disse ontem.
O presidente anunciou também uma utilização mais agressiva do álcool combustível. "O etanol vai substituir o consumo de gasolina", previu. A notícia de que a Casa Branca fará um investimento mais maciço no setor veio na mesma semana em que dois ministros de Estado brasileiros passaram pelo país para promover o produto e a tecnologia nacionais (leia texto nesta página) -mas não foi de todo auspiciosa.
Apesar de citar, não-nominalmente, a bem-sucedida experiência brasileira com uma frota bicombustível, Bush elogiou o programa de subsídio de seu governo ao produtor de etanol norte-americano.
"O que é interessante e que os americanos não percebem é que, com um pouco mais de gasto, nós podemos converter um automóvel regular em um chamado "flex fuel". E esse veículo "flex fuel" pode rodar com combustível feito 85% de etanol. Incrível, não?", perguntou o presidente à platéia, composta na maioria por agricultores, representantes e lobistas do agronegócio.
Mas emendou: "O etanol precisa de nosso apoio. Em outras palavras, para fazer esta indústria se desenvolver, é preciso um pequeno empurrão do governo federal". E contabilizou: "Desde que eu assumi o governo, aumentamos o crédito fiscal de US$ 0,51 por galão para os fornecedores. Criamos um novo crédito fiscal de US$ 0,10 para prover ajuda extra aos pequenos produtores de etanol e fazendeiros".
O presidente anunciou também, entre outras medidas, que a Comissão Federal de Comércio e o ministério da Justiça investigarão se houve manipulação por parte dos produtores e refinarias de petróleo do país para aumento do preço ao consumidor final. "Essa administração não tolerará manipulação", disse ele.
O pacote chega em um momento delicado para o republicano, que amarga o pior índice de aprovação de seus dois mandatos (37% dos norte-americanos, em média, consideram que o presidente vem realizando um bom trabalho) e enfrenta críticas em seu próprio partido, preocupado com as eleições do final do ano.
Comitês democratas por todo o país já exortam que os candidatos de oposição realizem comícios em postos de gasolina como maneira de politizar a crise de gasolina. Antes das eleições, porém, há o verão no hemisfério Norte, período de férias escolares, em que o consumo de combustível no país aumenta. Analistas prevêem que o preço da gasolina passe dos atuais US$ 3 por galão (cerca de R$ 1,70 por litro).


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