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ENERGIA
Presidente dos EUA diz que etanol "vai substituir" a gasolina; governo defende subsídios para produtores americanos
Bush congela reservas para segurar petróleo
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Dias depois de o barril do petróleo bater os US$ 75, a poucos meses das eleições que renovarão
parte do Congresso norte-americano e em meio a uma crise de
credibilidade do governo, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, anunciou um plano
para tentar conter a atual alta do
preço do combustível e evitar que
o aumento chegue às bombas de
gasolina.
O ponto principal, a curto prazo, é que os Estados Unidos congelarão seus depósitos no fundo
de emergência de petróleo. Outros pontos incluem investimentos em novos combustíveis, como
o etanol, a busca de novas reservas de petróleo, a criação de novas
refinarias e uma investigação federal que verificará se os grandes
produtores norte-americanos
manipularam o mercado.
Após o anúncio de Bush, o petróleo caiu na Bolsa de Nova
York. O contrato para entrega em
junho teve queda de 0,6%, fechando a US$ 72,88. Já na Bolsa de
Londres, o petróleo do tipo Brent
fechou a US$ 73,21 o barril, após
subir 0,3%.
Atualmente, o governo do país é
obrigado a atualizar quadrimestralmente o estoque da Reserva
Estratégica de Petróleo, criada para manter os setores-chave funcionando em caso de crise grave
internacional, conflito ou ataque e
alta incontrolável do preço do
barril. O fundo tem 727 milhões
de barris, o suficiente para 37 dias.
"Ao atrasar [o depósito] no estoque até o outono, teremos um
pouco mais de petróleo no mercado", afirmou Bush durante discurso à Associação de Combustíveis Renováveis, em Washington,
em que colocou mais peso no que
havia dito no começo do ano, em
seu discurso sobre o Estado da
União, sobre a dependência dos
EUA de petróleo: "Nosso vício em
petróleo é uma questão de segurança nacional", disse ontem.
O presidente anunciou também
uma utilização mais agressiva do
álcool combustível. "O etanol vai
substituir o consumo de gasolina", previu. A notícia de que a Casa Branca fará um investimento
mais maciço no setor veio na
mesma semana em que dois ministros de Estado brasileiros passaram pelo país para promover o
produto e a tecnologia nacionais
(leia texto nesta página) -mas
não foi de todo auspiciosa.
Apesar de citar, não-nominalmente, a bem-sucedida experiência brasileira com uma frota bicombustível, Bush elogiou o programa de subsídio de seu governo
ao produtor de etanol norte-americano.
"O que é interessante e que os
americanos não percebem é que,
com um pouco mais de gasto, nós
podemos converter um automóvel regular em um chamado "flex
fuel". E esse veículo "flex fuel" pode
rodar com combustível feito 85%
de etanol. Incrível, não?", perguntou o presidente à platéia, composta na maioria por agricultores,
representantes e lobistas do agronegócio.
Mas emendou: "O etanol precisa de nosso apoio. Em outras palavras, para fazer esta indústria se
desenvolver, é preciso um pequeno empurrão do governo federal". E contabilizou: "Desde que
eu assumi o governo, aumentamos o crédito fiscal de US$ 0,51
por galão para os fornecedores.
Criamos um novo crédito fiscal
de US$ 0,10 para prover ajuda extra aos pequenos produtores de
etanol e fazendeiros".
O presidente anunciou também, entre outras medidas, que a
Comissão Federal de Comércio e
o ministério da Justiça investigarão se houve manipulação por
parte dos produtores e refinarias
de petróleo do país para aumento
do preço ao consumidor final.
"Essa administração não tolerará
manipulação", disse ele.
O pacote chega em um momento delicado para o republicano,
que amarga o pior índice de aprovação de seus dois mandatos
(37% dos norte-americanos, em
média, consideram que o presidente vem realizando um bom
trabalho) e enfrenta críticas em
seu próprio partido, preocupado
com as eleições do final do ano.
Comitês democratas por todo o
país já exortam que os candidatos
de oposição realizem comícios
em postos de gasolina como maneira de politizar a crise de gasolina. Antes das eleições, porém, há
o verão no hemisfério Norte, período de férias escolares, em que o
consumo de combustível no país
aumenta. Analistas prevêem que
o preço da gasolina passe dos
atuais US$ 3 por galão (cerca de
R$ 1,70 por litro).
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