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Sesc diz que atividades terão de ser reduzidas em um terço
DA REPORTAGEM LOCAL
Danilo Miranda, diretor regional do Sesc (Serviço Social
do Comércio) em São Paulo, diz
que as atividades da entidade
serão reduzidas em um terço,
caso o orçamento diminua de
acordo com a proposta do governo. Segundo ele, as entidades podem ir à Justiça contra as
mudanças no Sistema S.
FOLHA - Qual será o impacto no
Sesc-SP se houver essas mudanças?
DANILO MIRANDA - A ação do governo é uma intervenção, grave, efetiva no chamado sistema
S. Esse documento revela, primeiro, manifesta desconfiança
do trabalho que está sendo feito
pelos órgãos de formação profissional do Brasil, entre eles o
Senac e o Senai. Em segundo
lugar, é uma falácia, dizendo
que, em nome de uma formação profissional nova, retira-se
dinheiro de instituições que
trabalham no social e no cultura, que são Sesc e Sesi.
FOLHA - O governo alega que o Sistema S é uma caixa-preta e por isso
as mudanças seriam necessárias.
MIRANDA - Não admito. Não
existe sistema S, mas várias instituições vinculadas a um modo
de agir. Nós não temos nada a
ver com Sesi e Senac, do ponto
de vista administrativo e financeiro. Temos um sistema de fiscalização dos mais rigorosos.
Temos não apenas auditorias,
como também conselhos fiscais com a maioria do governo,
inclusive representantes do
Ministério do Trabalho que assinam essa proposta com o da
Educação. Os organismos de
formação profissional, o Senac
e o Senai, têm representante do
Ministério da Educação em todos seus conselhos. É um tiro
no pé porque o ministério poderia ter feito sugestões, se tivesse participação efetiva.
FOLHA - O governo então não tem
participação efetiva no conselho?
MIRANDA - Eles têm assento, se
não falam é porque não querem. E agora fazem uma proposta à revelia de todos os participantes do processo. Somos
cerca de 120 mil funcionários
do Sistema S no Brasil todo.
Quantos participaram dessas
discussões? Todos são trabalhadores remunerados, concursados. Estou há 40 anos na
instituição. Nunca tiveram a
gentileza de nos convidar para
uma reunião. Desde o ano passado, estou tentando contato
pessoal com o ministro da Educação sobre isso. Fui recebido
há duas semanas por funcionário da área de formação profissional, sendo que eu, como
Sesc, não tenho nada a ver com
formação profissional. O chamado Sistema S lida com formação profissional, e todo o
restante do chamado bem-estar social, incluindo saúde, educação, lazer, cultura, esporte,
transporte e vestuário é do Sesc
e do Sesi. Essas entidades foram criadas privilegiando a formação profissional porque era
uma necessidade naquele momento. Criar fundo agora, com
recursos dessas entidades, para
que o empresariado, com governo e trabalhadores administrem esse recurso, como se fosse um recurso absolutamente
público e sem controle dos departamentos regionais e técnicos, é uma intervenção pura.
FOLHA - Em quanto seria reduzido
o orçamento do Sesc?
MIRANDA - Em 33% da receita,
hoje em R$ 30 milhões por
mês, no Sesc São Paulo. Perderemos R$ 10 milhões ao mês.
FOLHA - A parte de São Paulo nas
verbas do Sistema S não é maior? Ao
todo não são R$ 8 bilhões?
MIRANDA - Não sei quem fez essa conta. Esse montante seria
somando no país as nove entidades ligadas ao chamado Sistema S. Só que a caixa-preta é
outra. Não sabemos com exatidão como esse recurso é aplicado em nível nacional e o montante do que é recolhido pela
Previdência e, hoje, pela Super-Receita. Temos questões a respeito de arrecadação. Se há caixa-preta, não está aqui, porque
a nossa é publicada. Lá dentro,
como é distribuído esse recurso, a gente não sabe. Porque
tem fundo nacional de telecomunicações, fundo ligado à
área de transporte aéreo. Está
tudo misturado nesses tais terceiros da Previdência. Nós pagamos ao governo, que tem essa
máquina arrecadadora, para
usar o sistema. É um serviço
prestado. O recurso não é público, no sentido de participar
do Tesouro. Esse dinheiro é carimbado, como os recursos do
fundo de garantia: é recolhido,
mas é do trabalhador. É obrigatório pagar, mas é destinado a
um fim específico. É uma intervenção radical, profunda.
FOLHA - Por quê?
MIRANDA - Achava que era só
sobre aquele montante tirado
do Sesc que teria a participação
do conselho do fundo, presidido pelo ministro. Mas não. Eles
vão administrar também os recursos que são do Senac e do
Senai hoje. E não aprofundaram o estudo. Tive uma reunião
com o sr. Getúlio Marques, responsável no ministério pela
educação profissional, que não
sabia que os sistemas financeiro e bancário não contribuem.
FOLHA - Há o risco de as atividades
do Sesc diminuírem?
MIRANDA - Nosso plano de expansão, quadro de pessoal e atividades do dia-a-dia, tudo terá
de ser diminuído em um terço.
FOLHA - Não seria possível fazer
mais atividades com os mesmos recursos que o Sesc conta?
MIRANDA - Não. O grande relatório diário que fazemos está
com as pessoas que vão a nossas unidades. Há grande distância entre isso e dizer que é
tudo ruim e não funciona, não
tem transparência, é uma caixa-preta. A grande maioria, o
que é mostrado efetivamente
para a sociedade, é uma realidade absolutamente diferente.
FOLHA - Algumas pessoas dizem
que o ministro Fernando Haddad está sendo usado pelo presidente Lula.
MIRANDA - Se for verdade, é engano da parte dele. Há quem diga que o Haddad faz isso para se
credenciar à sucessão do presidente. O único diploma que Lula tem é do Senai. Isso sempre
orgulhou as entidades que fazem parte do sistema.
FOLHA - Vocês estudam ir à Justiça
caso o projeto seja levado à frente?
MIRANDA - Sem dúvida, provavelmente, sim. O projeto é pouco profundo sobre o artigo 240,
que fala com todas as letras que
essas entidades são intocáveis.
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