São Paulo, sábado, 26 de abril de 2008

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Sesc diz que atividades terão de ser reduzidas em um terço

DA REPORTAGEM LOCAL

Danilo Miranda, diretor regional do Sesc (Serviço Social do Comércio) em São Paulo, diz que as atividades da entidade serão reduzidas em um terço, caso o orçamento diminua de acordo com a proposta do governo. Segundo ele, as entidades podem ir à Justiça contra as mudanças no Sistema S.

 

FOLHA - Qual será o impacto no Sesc-SP se houver essas mudanças?
DANILO MIRANDA
- A ação do governo é uma intervenção, grave, efetiva no chamado sistema S. Esse documento revela, primeiro, manifesta desconfiança do trabalho que está sendo feito pelos órgãos de formação profissional do Brasil, entre eles o Senac e o Senai. Em segundo lugar, é uma falácia, dizendo que, em nome de uma formação profissional nova, retira-se dinheiro de instituições que trabalham no social e no cultura, que são Sesc e Sesi.

FOLHA - O governo alega que o Sistema S é uma caixa-preta e por isso as mudanças seriam necessárias.
MIRANDA
- Não admito. Não existe sistema S, mas várias instituições vinculadas a um modo de agir. Nós não temos nada a ver com Sesi e Senac, do ponto de vista administrativo e financeiro. Temos um sistema de fiscalização dos mais rigorosos. Temos não apenas auditorias, como também conselhos fiscais com a maioria do governo, inclusive representantes do Ministério do Trabalho que assinam essa proposta com o da Educação. Os organismos de formação profissional, o Senac e o Senai, têm representante do Ministério da Educação em todos seus conselhos. É um tiro no pé porque o ministério poderia ter feito sugestões, se tivesse participação efetiva.

FOLHA - O governo então não tem participação efetiva no conselho?
MIRANDA
- Eles têm assento, se não falam é porque não querem. E agora fazem uma proposta à revelia de todos os participantes do processo. Somos cerca de 120 mil funcionários do Sistema S no Brasil todo. Quantos participaram dessas discussões? Todos são trabalhadores remunerados, concursados. Estou há 40 anos na instituição. Nunca tiveram a gentileza de nos convidar para uma reunião. Desde o ano passado, estou tentando contato pessoal com o ministro da Educação sobre isso. Fui recebido há duas semanas por funcionário da área de formação profissional, sendo que eu, como Sesc, não tenho nada a ver com formação profissional. O chamado Sistema S lida com formação profissional, e todo o restante do chamado bem-estar social, incluindo saúde, educação, lazer, cultura, esporte, transporte e vestuário é do Sesc e do Sesi. Essas entidades foram criadas privilegiando a formação profissional porque era uma necessidade naquele momento. Criar fundo agora, com recursos dessas entidades, para que o empresariado, com governo e trabalhadores administrem esse recurso, como se fosse um recurso absolutamente público e sem controle dos departamentos regionais e técnicos, é uma intervenção pura.

FOLHA - Em quanto seria reduzido o orçamento do Sesc?
MIRANDA
- Em 33% da receita, hoje em R$ 30 milhões por mês, no Sesc São Paulo. Perderemos R$ 10 milhões ao mês.

FOLHA - A parte de São Paulo nas verbas do Sistema S não é maior? Ao todo não são R$ 8 bilhões?
MIRANDA
- Não sei quem fez essa conta. Esse montante seria somando no país as nove entidades ligadas ao chamado Sistema S. Só que a caixa-preta é outra. Não sabemos com exatidão como esse recurso é aplicado em nível nacional e o montante do que é recolhido pela Previdência e, hoje, pela Super-Receita. Temos questões a respeito de arrecadação. Se há caixa-preta, não está aqui, porque a nossa é publicada. Lá dentro, como é distribuído esse recurso, a gente não sabe. Porque tem fundo nacional de telecomunicações, fundo ligado à área de transporte aéreo. Está tudo misturado nesses tais terceiros da Previdência. Nós pagamos ao governo, que tem essa máquina arrecadadora, para usar o sistema. É um serviço prestado. O recurso não é público, no sentido de participar do Tesouro. Esse dinheiro é carimbado, como os recursos do fundo de garantia: é recolhido, mas é do trabalhador. É obrigatório pagar, mas é destinado a um fim específico. É uma intervenção radical, profunda.

FOLHA - Por quê?
MIRANDA
- Achava que era só sobre aquele montante tirado do Sesc que teria a participação do conselho do fundo, presidido pelo ministro. Mas não. Eles vão administrar também os recursos que são do Senac e do Senai hoje. E não aprofundaram o estudo. Tive uma reunião com o sr. Getúlio Marques, responsável no ministério pela educação profissional, que não sabia que os sistemas financeiro e bancário não contribuem.

FOLHA - Há o risco de as atividades do Sesc diminuírem?
MIRANDA
- Nosso plano de expansão, quadro de pessoal e atividades do dia-a-dia, tudo terá de ser diminuído em um terço.

FOLHA - Não seria possível fazer mais atividades com os mesmos recursos que o Sesc conta?
MIRANDA
- Não. O grande relatório diário que fazemos está com as pessoas que vão a nossas unidades. Há grande distância entre isso e dizer que é tudo ruim e não funciona, não tem transparência, é uma caixa-preta. A grande maioria, o que é mostrado efetivamente para a sociedade, é uma realidade absolutamente diferente.

FOLHA - Algumas pessoas dizem que o ministro Fernando Haddad está sendo usado pelo presidente Lula.
MIRANDA
- Se for verdade, é engano da parte dele. Há quem diga que o Haddad faz isso para se credenciar à sucessão do presidente. O único diploma que Lula tem é do Senai. Isso sempre orgulhou as entidades que fazem parte do sistema.

FOLHA - Vocês estudam ir à Justiça caso o projeto seja levado à frente?
MIRANDA
- Sem dúvida, provavelmente, sim. O projeto é pouco profundo sobre o artigo 240, que fala com todas as letras que essas entidades são intocáveis.


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