São Paulo, domingo, 26 de abril de 2009

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ROGER AGNELLI

Loco por ti, America



No mundo global, as esferas políticas e econômicas têm de se integrar para permitir a maior união do continente


HÁ DUAS semanas, Trinidad e Tobago sediou a 5ª Cúpula das Américas, que reuniu 34 líderes para debaterem o futuro do continente. Mais do que pelo documento final, a Cúpula entra para a história pelos gestos e palavras, como os de Barack Obama, que disse ser a hora de uma nova relação entre os países da região, e os do presidente Lula, que confirmou a imagem de líder global. O fórum foi a oportunidade para a construção da integração das Américas, onde as disputas deram lugar à cooperação para o fortalecimento da região e para a criação de sinergias que nos permitam sair da crise melhores e mais fortes.
O encontro abriu um diálogo franco entre os países, alguns até surpreendentes, como o início da reaproximação dos Estados Unidos com os países latino-americanos, em especial com Cuba. Apesar da crise, os EUA continuam com papel estratégico, mas precisam de parceiros alinhados e com mercados. Seria um erro os norte-americanos continuarem a ver os latino-americanos como um grupo de necessitados.
A integração das Américas cria um gigante econômico capaz de enfrentar outros blocos, como os tigres asiáticos, região que concentra o crescimento global atual. Nas Américas estão importantes reservas de petróleo (14,6%, sem contar o pré-sal), minério de ferro (31,8%), carvão (31,5%), potássio (57,8%), entre outros. Também somos grandes produtores de alimentos, em especial de grãos e de carnes.
Culturalmente próximas, as Américas, quando integradas, ganharão sinergia para agregar valor a recursos que hoje são exportados "in natura". Um exemplo é o minério de ferro, que sai do Brasil para a China e volta para os EUA em forma de aço. Unida, a região ganha força para enfrentar a crise de forma sustentável. Em fóruns dos quais participo, defendo a integração e tenho convocado empresas de vários países a se engajarem nesse projeto. Na nova ordem geopolítica do "pós-subprime", a parceria é o caminho para sairmos da crise e alcançarmos um mundo mais igualitário.
O capital privado também precisa entrar nessa luta. Acho que o fórum de CEOs do Brasil e dos Estados Unidos, criado por Lula e por Bush, seria o local adequado para essa discussão. Ele reúne importantes líderes empresariais, que podem ajudar nesse processo. Seria uma ótima oportunidade, já na primeira visita do presidente norte-americano, que a integração constasse da pauta de conversas entre Lula e Obama e os empresários dos dois países.
No mundo global, as esferas políticas e econômicas precisam se integrar, sob risco de não se passar do discurso a ações concretas que permitam unir o continente. É preciso estar pronto para a competição com os gigantes do Oriente, como China e Índia, que surgem com grande força: recursos financeiros, crescimento econômico e populacional, mercado consumidor e tecnologias. Juntos, temos vantagens competitivas, como abundância de recursos naturais e de produção de alimentos.
A integração do continente não passa apenas e exclusivamente pelo aspecto político, mas também pela eliminação de barreiras comerciais e fiscais e pela integração dos diversos fatores de produção, principalmente do capital.

ROGER AGNELLI, 49, economista e diretor-presidente da Vale, escreve neste espaço a cada quatro semanas.


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