São Paulo, domingo, 26 de abril de 2009

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Para autor de best-seller, administrador ético é mais importante do que nunca

DA REPORTAGEM LOCAL

O livro "O Monge e o Executivo: Uma História sobre a Essência da Liderança", do americano James Hunter, é uma espécie de Bíblia da gestão de pessoas que virou moda há cerca de quatro anos. Narra a história de um executivo que, enfrentando problemas na vida profissional e pessoal, se refugia em um mosteiro em busca de respostas.
Lá, ele participa de um grupo com outras pessoas também à procura de novas inspirações para atividades em vários campos. Todos são orientados por um monge que antes havia atuado por décadas na vida empresarial.
O executivo descobre que o grande segredo de um bom líder é se colocar a serviço dos seus funcionários, colegas, clientes e acionistas para tentar contemplar, nos negócios, os interesses de todos. O livro enaltece virtudes consideradas simples, mas nem sempre fáceis de colocar em prática, como saber ouvir. Embora essa abordagem esteja sendo encarada com ceticismo atualmente, Hunter reafirma que nunca o líder servidor se fez tão necessário.
Leia a seguir trechos da entrevista que o autor, consultor em recursos humanos, concedeu à Folha, por telefone, do seu escritório nos EUA. (DG)

 

FOLHA - Apesar do recente aprimoramento das práticas de administração de empresas, o mundo está mergulhado em uma crise econômica gigantesca -e companhias de muitos segmentos são protagonistas do desastre. O que deu errado?
JAMES HUNTER
- Nos EUA, houve muita falta de liderança, e não estou falando apenas das companhias, mas do ambiente político igualmente. Houve decisões ruins e a ganância. Essas pessoas gananciosas decidiram servir a si mesmas e não à sociedade, eis aí o problema.

FOLHA - Entretanto, o conceito de líder servidor também está sendo questionado. Vários executivos tidos como super-heróis falharam. O senhor não vê a necessidade de mudar a imagem que temos dos dirigentes das empresas?
HUNTER
- Vejo exatamente o oposto. Vejo a ideia do líder servidor ainda mais importante. No meu país, por exemplo, existe uma maior demanda por moral e ética na liderança devido aos abusos cometidos.

FOLHA - Mas somos todos humanos e queremos ganhar bem. Como conciliar os nossos objetivos pessoais com os da sociedade quando estamos gerindo uma empresa?
HUNTER
- Adotando uma estratégia holística. Pensar apenas em nós mesmos, tirando vantagens da economia, do ambiente ou dos empregados, pode até funcionar no curto prazo, mas não é sustentável. A longo prazo, algo vai desandar. Se não cuidarmos bem dos funcionários, eles não estarão comprometidos com a companhia, não vão entregar bons produtos e não vão atender bem os clientes. Quando se satisfaz a necessidade da equipe, ela satisfaz a necessidade da empresa. Liderança significa refletir sobre o longo prazo: o que é bom para meus empregados, clientes, acionistas, executivos?

FOLHA - É animador ouvir tudo isso, só que na realidade as coisas funcionam de modo bem diferente. Algumas empresas estão no mercado há 20, 30 anos e são um péssimo exemplo de administração de pessoas. Como convencer os seus líderes de que estão usando a tática errada, mesmo quando ela parece correta, já que dá resultado?
HUNTER
- O mundo está mudando muito rápido, estamos no início de um novo século. As empresas que não cuidam dos seus funcionários e dos seus clientes não serão sustentáveis no longo prazo. As organizações ótimas vão tirá-las do jogo. Por exemplo, entre as montadoras, a Toyota, que emprega o conceito de liderança servidora, é a única que vai bem nos EUA. As demais estão quebrando. Demora um pouco, claro. O que podemos fazer é divulgar o que as empresas excelentes estão tentando fazer.

FOLHA - Como as lideranças empresariais devem agir agora para motivar as suas equipes e tirar as companhias das dificuldades que enfrentam?
HUNTER
- Nos EUA, as empresas ótimas reconhecem que, para sair da crise melhores do que entraram, devem focar nas pessoas. É um momento que pode ser usado para o fortalecimento da corporação. Enquanto isso, as companhias ruins estão pensando em cortar treinamento, benefícios. Cada um faz a sua escolha, mas é de pessoas que as grandes empresas são construídas. Os melhores e mais brilhantes não vão trabalhar para empresas ruins -simplesmente vão embora.


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