São Paulo, domingo, 26 de maio de 2002

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MERCADO BALANÇA

Mudanças na contabilização dos ativos e novo tipo de leilão cambial afetam rentabilidade do investidor

Fundos DI deixam de ser "porto seguro"

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

As trapalhadas do Banco Central na administração do papelório que lastreia a dívida pública balançaram o chamado "porto seguro" dos pequenos e médios investidores: os fundos DI.
Desde abril, os DIs de bancos como ABN Amro, Unibanco, Banespa, JP Morgan, Dresdner e BMG (veja quadro) começaram a chacoalhar, apresentando rentabilidade negativa ou menor que 60% do CDI (Certificado de Depósito Bancário) em alguns dias. O CDI é a taxa de juros praticada nas operações entre os bancos e é o referencial de rentabilidade dos fundos DI.
A oscilação foi constatada em levantamento feito pelo Laboratório de Finanças da FIA-FEA/ USP (Fundação Instituto de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo) com 181 fundos DI vendidos no varejo. Em média, esses fundos rendem 86% do CDI.
Segundo analistas de mercado, a oscilação apenas começou e deve atingir todos os fundos dessa categoria nos próximos meses. "Fundo DI rendendo 100% do CDI e sem volatilidade vai acabar", diz Alexandre Póvoa, diretor de investimentos do ABN Amro Asset Management.
O que fez balançar os fundos DI foi o aumento da volatilidade (oscilação de preço) das LFTs (Letras Financeiras do Tesouro) no mercado e a mudança na forma de contabilizar os ativos desses fundos. Os DI são os maiores detentores desses títulos. Eles carregam R$ 180 bilhões em LFTs, 60% do total desses papéis emitidos pelo governo.

Barbeiragem
A volatilidade das LFTs se acentuou a partir de fevereiro, quando o BC anunciou o leilão de LFTs com "swap" cambial em substituição aos papéis cambiais tradicionais (NTN-Ds e NBC-Es). O objetivo era diminuir o custo de rolagem da dívida pública (leia texto na pág. B1).
A manobra acabou aumentando a oscilação de preços no mercado de LFTs. As tesourarias dos bancos, só interessadas no "swap", em busca de proteção cambial para repassar a empresas interessadas em fazer hedge (proteção), passaram a vender as LFTs no mercado com deságio. Diante da queda de preço do papel, os fundos começaram a fugir dele, realimentando a volatilidade.

Mudança de norma
A maior oscilação dos preços das LFTs acabou impactando os fundos DI porque veio acompanhada de uma mudança nas normas de contabilização das suas carteiras determinada pelo BC.
Até fevereiro a contabilização desses papéis pelos gestores de fundos era feita pelo seu custo de aquisição, acrescido diariamente dos respectivos rendimentos. Essa metodologia é chamada de "curva do papel".
De lá para cá o BC passou a exigir (circular 3.086) que a contabilização dos títulos e valores mobiliários dos fundos de investimentos seja feita pela chamada "marcação a mercado". Isso significa que o gestor tem de reconhecer diariamente as oscilações de preço dos papéis, computando as valorizações ou desvalorizações no resultado do fundo.
Esses ganhos ou perdas são refletidos no valor das cotas dos fundos. Em abril alguns gestores passaram a adotar a nova prática contábil e por isso seus fundos tiveram perdas. "Toda a indústria de fundos vai passar por esse processo até setembro, prazo dado pelo BC para a aplicação das novas normas", diz Póvoa.
Assim, quem tem dinheiro aplicado em um fundo que apresentou variação negativa ou perda de rentabilidade, segundo ele, não deve migrar temendo novas perdas. O risco de trocar de aplicação é sofrer novas perdas quando o gestor do novo fundo fizer o ajuste da cota, adotando a nova forma de contabilização dos ativos.
"O fundo que oscilou já fez o ajuste e tende a recuperar as perdas ao longo do tempo", diz Eduardo Mafra, responsável pela área de renda fixa do JP Morgan Fleming Asset Management. Segundo ele, a maioria dos gestores dos DI carrega as LFTs até a data do seu vencimento, quando são resgatadas pelo BC pelo valor contratado, anulando as variações de preço passadas.
"O DI deixou de ser o porto seguro, mas ainda é o melhor para a pessoa física. Em outras aplicações há risco de mercado, ou seja, de o gestor fazer operações erradas e o investidor perder."


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