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Corrupção afeta grau de investimento
Agências de risco acompanham denúncias, mas ainda não vêem sinais preocupantes nos escândalos em curso no país
Preocupação maior é com efeito paralisante de uma grande crise que possa ameaçar reformas e atual política econômica
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
A economia brasileira vai
bem, e isso sensibiliza as agências de classificação de risco,
mas escândalos de corrupção
-como o da Operação Navalha
e o do mensalão- que de tempos em tempos despontam no
cenário político podem atrasar
a ambição brasileira de obter o
grau de investimento, selo de
qualidade de bom pagador que
abriria o país para a entrada de
dinheiro farto e barato para financiar seu crescimento.
Estudo do Ibmec-SP desenvolvido pelo professor José
Luiz Rossi, obtido pela Folha,
mostra que, além das variáveis
econômicas, as agências de
classificação de risco estão de
olho em fatores como percepção de corrupção, respeito a liberdades individuais, fragilidade no marco regulatório, indústria de liminares e mesmo a
formação educacional deficiente-variáveis que podem limitar o crescimento do país.
"Todos olhavam apenas para
as contas externas, então fui
pesquisar outras variáveis que
indiquem o grau de respeito às
regras do jogo. E as conclusões
são que o lado externo continua sendo o mais importante,
mas outros fatores também pesam. E eles mudam ao longo do
tempo", disse Rossi.
Segundo o estudo, as agências Moody's e Fitch avaliam a
qualidade das agências reguladoras, enquanto a Standard &
Poor's considera o grau de corrupção do país uma variável
importante na determinação
de uma nota. Já a variável relativa a "voz e transparência", indicador de respeito a liberdades individuais, é significativa
para a Moody's e para a S&P.
Rossi fez um levantamento
minucioso da atuação das
agências de classificação de risco Moody's, S&P e Fitch, todas
dos EUA, de 1997 a 2004. Concluiu que não há um comportamento único e que o peso de algumas variáveis mudam ao
longo do tempo. De acordo
com o estudo, a expectativa é
que o Brasil obtenha o grau de
investimento a partir de 2008.
Segundo Rossi, as agências
estão mais preocupadas com a
instabilidade que os escândalos
podem trazer ao país. "Escândalos geram instabilidade que
atrapalham o andamento das
reformas. Se aumentar a probabilidade de o país eleger um
populista, que coloque em dúvida o pagamento da dívida, vai
preocupar as agências", disse.
Mauro Leos, analista sênior
da Moody's, admite que a agência acompanha com atenção os
desdobramentos dos escândalos de corrupção, como a Operação Navalha. Ele afirma, no
entanto, que os escândalos
mais recentes não foram capazes de alterar a condução da
política economia, nem quando Antonio Palocci deixou o
comando da Fazenda.
"É importante acompanharmos os escândalos, mas eles só
preocupam à medida que os
custos políticos impliquem
romper com as regras de pagamento. Os escândalos não têm
sido fatores determinantes na
capacidade de pagamento do
Brasil. Apesar dos escândalos,
o país continuou cumprindo
suas metas fiscais", disse.
Rafael Guedes, analista da
Fitch, afirma que a crise política só preocupa quando causa
uma paralisia no governo e no
Congresso, o que ainda não
acontece. Lisa Schineller, analista da Standard & Poor"s, afirma que a Operação Navalha só
terá impacto sobre a classificação do Brasil caso venha a prejudicar as políticas do governo.
"Se algum caso de corrupção
tem impacto na política do governo, pode ter impacto [na
classificação do país], mas não
diretamente", disse ela.
Fabio Akira, economista do
JP Morgan, concorda que escândalos de corrupção podem
limitar a avaliação do país se
afetar sua capacidade de pagamento. Mesmo assim, afirma
que o lado político pode ser
contrabalanceado se o país tiver condições excepcionais de
crescimento ou criar condições
favoráveis para diminuir seus
gastos, como por meio de reformas estruturais. "O canal de
contaminação é quando a
questão política impede o
avanço das reformas", disse.
Para Sérgio Werlang, diretor
do Itaú e ex-diretor do Banco
Central, escândalos políticos
não devem atrasar o grau de investimento. "Pode afetar perto
de uma eleição, se houver um
candidato com chances de vencer, que não deixe claro como
será sua política econômica."
História
A pesquisa mostra que mais
de 60% dos países com grau especulativo, como o Brasil, estão
ou já estiveram em situação de
"default". "Países com melhor
qualidade de regulação apresentam uma melhor classificação de risco. Isso acontece porque a variável sinaliza o grau de
respeito às regras de mercado e
é um indicador de como a sociedade aceita rupturas", disse
Rossi.
O modelo que Rossi elaborou
para entender a concessão do
grau de investimento foi testado com o Brasil. Ele concluiu
que o país está no caminho de
obter a aguardada chancela.
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