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Juro baixo leva fundo de pensão à Bolsa
Investidores nacionais e estrangeiros veem na mudança novo estímulo para impulsionar o mercado de ações brasileiro
Com juro de um dígito, fundos de pensão terão de diversificar investimentos para cumprir meta de retorno de 6% mais inflação
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os juros básicos brasileiros
nem chegaram a um dígito (estão em 10,25% anuais), mas já
mexeram com o rendimento da
poupança e forçam os fundos
de investimento a reduzirem as
taxas de administração. Nos
próximos meses, deve empurrar os fundos de pensão a reverem suas metas de rentabilidade e a aplicarem cada vez mais
em ações, novo ingrediente que
estimula a recente alta na Bolsa, segundo investidores.
Para cumprir a previsão de
pagamentos de aposentados e
pensionistas, a maioria dos
fundos de pensão tem uma meta anual de rendimento de 6%
mais a correção da inflação,
normalmente o INPC -é a meta atuarial. Acontece que os juros da renda fixa já não são
mais suficientes para cobrir esse compromisso. Já no ano passado, o CDI subiu 12,38% e foi
insuficiente para pagar a meta
de 12,87% (INPC mais 6%).
Para se adequarem ao novo
cenário, os fundos terão ou de
reduzir as metas atuariais ou
aumentar a exposição a risco.
Para reduzir a meta atuarial,
cada fundo tem de mexer em
seu estatuto. Já o aumento da
exposição à renda variável depende de mudança na lei.
Pelas regras do setor, os fundos de pensão podem investir
até 50% de seu patrimônio em
renda variável. Com exceção da
Previ (fundo dos funcionários
do Banco do Brasil), que tem
59% em renda variável, a maioria das fundações não coloca
mais de 20% -em fevereiro, a
posição geral era de 27%.
"A gente precisa se expor um
pouco mais a risco para bater a
meta atuarial. Quando a gente
estava conseguindo INPC mais
10%, 11% e 12%, não tinha problema. No momento em que [o
juro] está caindo, não se consegue mais isso. Mas não é a mudança da regra que impede os
fundos de se exporem à renda
variável. É a cautela. Nós não
somos especuladores, somos
investidores de longo prazo. Eu
aplico para resgatar daqui a 30
anos", disse José Mendonça,
presidente da Abrapp (associação dos fundos de pensão).
Para a Abrapp, foi esse conservadorismo que permitiu que
as fundações tivessem um retorno negativo de só 1,62% em
2008, enquanto os fundos de
países da OCDE tiveram queda
média de 19%.
Maior fundo de pensão brasileiro, a Previ tinha sozinha
59,52% de seu patrimônio de
R$ 121,6 bilhões em renda variável. Desde 2006, o fundo tem
meta atuarial de 5,75%. Eletros
(fundo da Eletrobrás) e Funcef
(Caixa) tinham meta de 5,5%.
Entre os grandes fundos, só o
Petros (Petrobras) ainda tem
meta de 6%. "A combinação da
queda nos juros com crescimento da economia vai fortalecer a migração de títulos públicos para a renda variável. Essa
mudança fará com que esses
ativos sejam cada vez mais alvo
de interesse", afirmou a Petros
em nota.
Para Roberto Nishikawa, responsável pela corretora do
Itaú, os estrangeiros estão
atentos para a necessidade de
os fundos de pensão brasileiros
diversificarem seus investimentos. Ele diz que hoje a
maior dúvida é como a economia brasileira conviverá com
juros básicos abaixo de 10%.
O Itaú reuniu em Nova York
230 fundos estrangeiros para
apresentá-los a presidentes de
empresas brasileiras. "Isso será
uma mudança também de
comportamento. Temos visto
que os investidores que conhecem profundamente o Brasil
estão fazendo alocação maior
de recursos no país", disse.
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