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Brasil cede em acordos com Argentina
Países buscam soluções devido à queda de 36% no intercâmbio comercial; concessões são maiores do lado brasileiro
Brasil aceitou limitar suas exportações ao vizinho nos setores de autopeças e papel e deve fazer o mesmo em móveis e calçados
THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES
Após dois meses de negociações entre empresários de Brasil e Argentina, que buscam soluções para a queda de 36% no
comércio bilateral neste ano e o
crescente protecionismo regional, as concessões predominam
no lado brasileiro, que já limitou suas exportações em dois
setores (autopeças e papel) e
caminha para fazê-lo em outros
dois (móveis e calçados).
As conversas começaram em
25 de março, como aposta dos
governos para reverter o mau
momento da troca comercial,
que chegou a inéditos US$ 30
bilhões em 2008. Entre janeiro
e abril, as exportações brasileiras à Argentina caíram 42,6%, e
as importações, 28,2%.
A crise global motivou medidas de defesa comercial de ambos os lados, como licenças de
importação, preços mínimos e
investigações antidumping
(venda abaixo do custo). No caso argentino, as licenças não
automáticas, pelas quais o governo administra os volumes
que entram, atingem 14% das
importações do Brasil. Empresários brasileiros reclamam
que as licenças superam o prazo máximo de 60 dias da Organização Mundial do Comércio.
O primeiro acordo saiu em
celulose e papel. Com anuência
das empresas, os países renovaram acordo de 1999 e mantiveram a cota de 50 mil toneladas
por ano para exportações brasileiras de papel de imprimir e
escrever. A Argentina foi destino de 23,6% dos embarques
brasileiros de papel em 2008.
Em autopeças, setor em que
a Argentina reclama de déficit
de US$ 200 milhões com o Brasil, produtores brasileiros aceitaram reduzir em 32% as vendas de baterias em 2009. Analisam agora proposta de corte de
30% em freios e embreagens.
Leite em pó foi o único setor
com concessão argentina até o
momento -aceitaram subir o
preço mínimo (US$ 1.780 para
US$ 2.200 por tonelada) e definir cota de 3.000 toneladas por
mês. As importações de leite
em pó argentino aumentaram
285% no primeiro trimestre do
ano, o que fez a indústria láctea
brasileira denunciar dumping.
Em negociação
Calçados e móveis são dois
setores no Brasil que criticam
entraves argentinos a suas vendas e agora são instados a autolimitar embarques. Milton Cardoso, da Abicalçados, disse-se
"inconforme" com a condução
do processo pela Argentina
-diz que a fatia brasileira das
compras vizinhas caiu de 71%
em 2005 para 45% em 2009,
quando foi superada pela Ásia.
O Brasil oferece redução de
10% nas suas vendas em relação a 2008, para 16,5 milhões
de pares, mas os argentinos pedem 20%. O setor brasileiro
quer ainda participação de 75%
nas compras do vizinho e limite
mínimo de 300 mil pares por
ano para pequenas empresas.
Em móveis, as exportações à
Argentina estão "inviabilizadas" pelos entraves desde março, diz José Luiz Fernandes, da
Abimóvel. O setor argentino fez
proposta de cotas, que a associação estuda para verificar o
quanto representa em redução
do comércio. O Brasil exportou
US$ 155 milhões em móveis à
Argentina em 2008 -até março deste ano, US$ 16,5 milhões.
Acordo distante
Mas há setores em que acordos ainda estão longe, aponta
um técnico do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior que acompanha as conversas. Em vinhos,
por exemplo, brasileiros querem conter a entrada do produto argentino, elevando o preço
mínimo por 12 garrafas de US$
8 -desde em 2005- para US$
18. Já vitivinicultores argentinos querem zerar o valor.
O setor têxtil é outro a sofrer
o impacto das restrições. Segundo Aguinaldo Diniz Filho,
da Abit (associação do setor), os
embarques caíram 48% neste
ano e há 131 produtos submetidos a licenças não automáticas.
"O mais grave é que terceiros
países estão ocupando esse
mercado. Isso é um crime", diz.
A indústria nacional de máquinas também pede rapidez
na liberação das importações.
"Eles concordaram, vamos discutir agora o que é rápido", diz
Carlos Nogueira, da Abimaq.
O governo brasileiro reconhece as dificuldades. "É uma
negociação difícil, porque na
maioria dos casos se trata de
restringir o comércio", diz o secretário-executivo do MDIC,
Ivan Ramalho.
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