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INTERNET
Brasil não pode ser ignorado, diz fundador da empresa de mídia mais valorizada da Bolsa de NY, que já começa a contratar em SP
Google abre no país neste ano, diz fundador
SÉRGIO DÁVILA
DA CALIFÓRNIA
O Google, empresa de mídia
mais valorizada na Bolsa de Valores de Nova York, abrirá filial no
Brasil até o final de 2005. Quem
fala é um dos fundadores e criador do mecanismo de busca mais
utilizado da internet no mundo, o
moscovita naturalizado norte-americano Sergey Brin, 31. "Vamos abrir uma filial do Google no
Brasil em 2005, não posso lhe dizer a data específica por uma
questão estratégica", disse ele em
resposta à Folha na sede da empresa, em Mountain View, no Vale do Silício californiano.
Segundo Brin, a empresa deve
anunciar filiais em outros lugares
da América Latina e da Ásia, "especialmente em países da dimensão do Brasil, que não podem ser
ignorados como mercado". Por
enquanto, foi aberto apenas um
escritório voltado para a venda de
espaços publicitários, que já funciona em caráter provisório em
São Paulo, com dois funcionários,
sob o comando do gerente de
vendas Emerson Calegaretti, ex-UOL. Mas a empresa procura um
diretor-geral e já tem pelo menos
mais 17 vagas para a operação
brasileira, a maioria nas áreas técnica e de vendas.
Até agora, o único produto disponível é o AdWords, o carro-chefe de vendas do Google mundial, que vincula as palavras-chave das buscas a anúncios. É o mecanismo que faz com que anunciantes cujos produtos tenham a
ver com os termos buscados pelo
internauta apareçam no canto superior direito da tela de resultados. A Folha apurou que o plano
para o Brasil, no entanto, é que
serviços como o Google News, um
organizador de notícias automático, ganhem versão em língua
portuguesa e que produtos como
o Google Enterprise, que realiza
busca apenas na rede interna de
uma empresa, venham a seguir.
O interesse pelo país faz sentido.
Nos EUA, em que o mercado publicitário movimenta US$ 280 bilhões por ano, a publicidade on-line é o setor que mais cresce
-aumentou 25% em 2004 em relação ao ano anterior, segundo o
"Insider's Report", da Universal
McCann, ante apenas 3% nas
emissoras de TV aberta. Pois
aquele país abocanha 50% de todo dólar gasto com publicidade
on-line no mundo, enquanto o
Brasil fica apenas com 7%, de
acordo com estudos do próprio
Google. A idéia é ampliar essa
porcentagem a curto prazo.
Mercado para isso parece existir. De acordo com pesquisa Ibope/NetRatings divulgada anteontem, cresceu o número de internautas brasileiros domésticos ativos, de 11,37 milhões em abril para 11,51 milhões -os números excluem os usuários em empresas,
internet cafés e telecentros comunitários. Aumentou também o
número de horas que essa tropa
passa on-line: média de 16 horas e
55 minutos por mês por usuário,
ou 5% mais do que o tempo registrado em abril e recorde desde
que essa medição é feita.
"O Brasil é um dos maiores
mercados mundiais em termos de
tráfego no Google, é o país em que
o [site de relacionamentos virtuais] Orkut é o mais popular, por
exemplo", disse à Folha o fundador, que não dá os números exatos "por motivos estratégicos".
Brin criou o Google com seu ex-colega da Universidade Stanford
Larry Page em 1998. Começou a
empresa na garagem de um amigo, em Menlo Park, também no
Vale do Silício. Hoje, ambos têm
uma fortuna pessoal avaliada em
US$ 7 bilhões cada um.
Na primeira semana de junho, o
Google se tornou a empresa de
mídia mais valiosa da Bolsa de
Valores de Nova York. Naquele
dia, as ações do site passaram de
US$ 292, ou mais de três vezes o
valor quando da abertura de capital da empresa, no ano passado, o
que a deixou com um valor de
mercado de US$ 80 bilhões, batendo a gigante Time Warner, então primeira colocada, com US$
78 bilhões. Há dois poréns significativos: a Time Warner faturou
US$ 42 bilhões em 2004, ante US$
3,2 bilhões da atual campeã; e a
Google não é uma empresa de mídia no sentido tradicional do termo, de vender conteúdo e cobrar
por isso. Ou é?
Caminha para ser, a se levar em
conta um dos produtos mais recentes anunciados por Eric
Schmidt, o CEO da empresa, em
entrevista coletiva em maio. Trata-se do GoogleFusion, que permite que o internauta personalize
sua página inicial, colocando notícias providas pelo próprio Google News, além do jornal "The
New York Times" e o serviço britânico BBC News, mais o Gmail (o
e-mail gratuito da empresa), a
previsão do tempo de acordo com
o código postal do usuário, cotações de ações, horários de cinema
e outros atrativos.
Como já fazem nomes como
AOL, Yahoo, MSN. Que não são
mecanismos de busca, mas portais. A recíproca, porém, é verdadeira. Desde a explosão do Google, também esses portais investem cada vez mais nos mecanismos de busca. O Google é o líder
inconteste, segundo levantamento do comScore Media Matrix,
mas o Yahoo Search vem chegando perto, seguido do MSN Search,
do Ask Jeeves e do AOL Search.
Num seminário no final de
maio, Bill Gates, fundador da Microsoft, usou sua palestra para dar
uma lambada em seus jovens
concorrentes. "O Google ainda é
perfeito, a bolha ainda está flutuando, e eles podem tudo", disse,
de maneira sarcástica. "Vocês deveriam comprar as ações deles a
qualquer preço. Nós também tivemos um período de dez anos
assim." Ninguém no Google fala
sobre a competição ou mesmo
comenta a movimentação em direção aos portais. "Nosso foco será sempre a busca", desconversa
Schmidt.
A partir deste ano, essa busca
incluirá o mercado brasileiro.
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