São Paulo, domingo, 26 de junho de 2005

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Governo fala em elevar crescimento, mas descarta truques e heterodoxia

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse à Folha que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está preocupado com o crescimento do país. O ministro admite que, em resposta às solicitações de Lula, o governo estuda formas para acelerar o ritmo da atividade econômica, mas ressalta que "sem truques, sem pirotecnia, malabarismos ou heterodoxia".
"O presidente recebe as demandas, vai aos eventos, tem contato com a sociedade. Ele passa para a gente o que o preocupa e o que preocupa a sociedade. Eu, por exemplo, me preocupo o tempo todo com essa questão [garantir o crescimento econômico]", disse.
Há pouco mais de dez dias, conforme a Folha revelou, o presidente Lula reuniu os ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e Paulo Bernardo, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o presidente do BNDES, Guido Mantega, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), o ex-ministro José Dirceu e o deputado Delfim Netto (PP-SP). Foi nessa ocasião em que o presidente Lula cobrou medidas para garantir um crescimento acima de 3% neste ano.
No jantar, Delfim Netto apresentou proposta para que o governo aprofunde sua política de aperto fiscal. No lugar de perseguir um superávit primário (economia de receitas sem considerar gastos com juros), o governo passaria a definir metas para zerar o seu déficit nominal (inclui os gastos com juros).
Ao gastar menos, o governo daria uma forte demonstração de confiança ao mercado financeiro e estimularia menos a inflação, permitindo que o BC reduzisse os juros rapidamente, segundo o raciocínio de Delfim.
Paulo Bernardo disse que se trata de "uma discussão interessante" e que pediu à sua equipe que estudasse a viabilidade das medidas sugeridas. Mas ressaltou que, se algo vier a ser adotado nessa linha, não será nada "mirabolante". "Não vamos zerar os juros ou a inflação, não é nada disso."

Superávit primário
A meta de superávit primário hoje está em 4,25% do PIB. Bernardo não descarta um simples aumento do superávit, apesar de frisar que o assunto ainda não foi debatido pela equipe econômica. Ele destaca também que, se os gastos correntes forem mantidos estáveis por seis anos, como sugere Delfim, já seria "um ganho, um sinal muito positivo que equivale a um superávit [maior]".
"Aumentaríamos só os recursos para investimentos, segurando a despesa corrente. Com isso você estimula o crescimento sem jogar peso na inflação. Assim, gradativamente você vai ter diminuição da relação dívida/PIB."
Paulo Bernardo destacou como fator positivo o fato de vários índices de preços nos últimos dias terem registrado deflação. "Esse quadro cria uma expectativa boa de investimentos, e o governo vai atuar no sentido de ajudar."
O ministro ressalta que a crise política não tem afetado a economia. "Nós temos uma crise política. Não há nenhum componente afetando a economia, a política econômica do governo. O governo segue o mesmo rumo. O mercado enxerga isso claramente."


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