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ENTRETENIMENTO
Com mercado americano saturado, News Corp., Time Warner e outros gigantes mapeiam novos territórios
Mídia dos EUA quer crescer no exterior
TIM BURT
JOSHUA CHAFIN
DO "FINANCIAL TIMES"
Por anos, as fortunas do setor de
mídia dos Estados Unidos vêm
dependendo das demandas de
um mercado doméstico que movimenta mais de US$ 500 bilhões
ao ano em faturamento. Mas os
executivos nas sedes da News
Corporation, da Time Warner e
de outros gigantes da mídia cada
vez mais mapeiam um futuro em
novos territórios.
O conselho da News Corp., presidido por Rupert Murdoch, foi
informado na semana passada sobre as mais recentes iniciativas da
empresa para explorar os altos índices de crescimento e margens
de lucros oferecidos pelos mercados emergentes. A empresa acaba
de concluir duas aquisições no
segmento de publicidade exterior
na Turquia e na Ucrânia, ampliando sua presença pequena
mas de crescimento acelerado em
publicidade em outdoors.
A News Corp. já é mais internacional do que qualquer uma de
suas rivais americanas, com uma
carteira de propriedades que inclui a StarTV, na Ásia, jornais no
Reino Unido e na Austrália, o grupo de TV por assinatura Sky Italia
e a maior empresa de publicidade
exterior da Rússia. Mas, ainda assim, depende dos EUA para 75%
de suas receitas e isso pode ser
causa de preocupação.
"Existe uma compreensão de
que, quando você observa os nossos negócios, estamos em um
monte de áreas maduras: jornais,
estações de TV. São nossa principal fonte de renda, mas não geram crescimento da ordem de
dois dígitos", disse um executivo
da News Corp. "Planejamos usar
a internet e os videogames, nos
Estados Unidos, e investimentos
internacionais para procurar por
um melhor equilíbrio."
Essas aspirações internacionais
são compartilhadas, de maneira
cada vez mais urgente, por outros
grupos norte-americanos.
Bob Wright, presidente do conselho da NBC Universal, deve indicar movimentos semelhantes
na semana que vem, quando conversar com seus executivos na Europa, tentando emular a presença
mundial de que desfrutam empresas como a Walt Disney. "Presença internacional está ganhando importância é o assunto do dia
entre as empresas de mídia", disse
Andy Bird, presidente da divisão
internacional da Disney.
Os gastos dos norte-americanos
com mídia, que crescem em ritmo
composto de 5,4% ao ano, podem
ser causa de inveja para diversos
outros setores, mas ficam atrás
dos 10% da Ásia e dos cerca de 7%
da América Latina.
O sinal possivelmente mais claro quanto à importância do mercado internacional chega de
Hollywood: os estúdios colhem a
maior parte de seu faturamento
em bilheteria no exterior.
O crescimento internacional
não sinaliza um êxodo das grandes empresas de mídia atualmente posicionadas no mercado dos
Estados Unidos. Mesmo em 2008,
o mercado de mídia norte-americano continuará dominante, respondendo por US$ 680 bilhões do
US$ 1,67 trilhão de gastos e investimento estimados. "Mesmo que
o mercado norte-americano talvez perca velocidade nos próximos cinco anos, são precisos os
próximos 10 ou 12 países do mundo combinados para que cheguemos perto do montante agregado
que representa o mercado dos Estados Unidos", diz Jeff Bewkes,
presidente do conselho das operações de entretenimento da Time Warner.
Mas Bewkes, que supervisiona a
Warner Bros., New Line Cinema,
HBO, CNN e Cartoon Network,
admite que o mercado norte-americano não é capaz de sustentar o negócio sem ajuda. "A longo
prazo, todos nós precisamos estar
nos mercados de crescimento. No
período 2010-2020, imensa porcentagem do crescimento e do valor agregado virá dos mercados
menos desenvolvidos na Europa
Oriental, no Sudeste Asiático e na
América Latina."
Essas empresas também estão
de olho no mercado internacional
porque existem menos oportunidades de aquisição disponíveis no
mercado interno. As avaliações
das empresas passíveis de compra
são elevadas demais. Um veterano investidor em mídia diz que
"nos EUA, a menos que você tenha a capacidade de levantar e
bancar um total de US$ 20 bilhões, é impossível adquirir qualquer coisa significativa. Trata-se
de um mercado de gigantes".
O desafio para as empresas de
mídia norte-americanas não é
simplesmente ampliar sua participação de mercado no exterior,
mas fazê-lo de maneira lucrativa.
Mas uma presença em um novo
território não necessariamente
quer dizer lucros, ou até mesmo
uma grande contribuição para a
receita, compensando qualquer
fraqueza que venha a surgir no
mercado norte-americano.
A Viacom, gigante da mídia
norte-americana que está preparando uma cisão em duas empresas, está enfrentando esse dilema.
Sua divisão MTV Networks vem
registrando crescimento mais rápido fora dos Estados Unidos.
Mas, mesmo com operações em
170 países e 40 lançamentos de
produtos só no ano passado, as
vendas internacionais da MTV
respondem por menos de 20% do
faturamento total da divisão.
Exportações
Os executivos concordam que
as exportações de mídia norte-americanas, especialmente se o
clima geopolítico atual persistir,
não servirão como propulsor de
crescimento a longo prazo. Em
lugar disso, as empresas terão de
tomar seus modelos de negócios
e, em termos práticos, vesti-los
com roupas locais.
A Time Warner, por exemplo,
está aumentando o número de filmes em idiomas que não o inglês
em sua lista de produções de 32
este ano a 44 em 2006.
Bewkes insiste em que, se os
grupos norte-americanos não
vierem a refletir as culturas e gostos locais, empresas locais vão explorá-los. "Para nós, a idéia de
que é possível criar produtos de
mídia que sirvam a todos os mercados e consumidores é questionável", diz.
À medida que os grupos de mídia norte-americanos enfrentam
esse problema, também se deparam com a ascensão de empresas
locais de mídia fortes e menos
avessas a riscos.
A News Corp. já teve de enfrentar essa ameaça na Itália, onde a
sua divisão de TV por assinatura
Sky Italia enfrenta competição de
um serviço de TV digital a cabo. A
News Corp. acredita que essas
ameaças possam ser superadas
porque oferece melhores programas e marcas que os telespectadores consideram como líderes.
A Disney também acredita que
marcas façam a diferença entre o
reconhecimento internacional e
ser apenas mais uma empresa
chegando ao mercado de mídia.
"Posso ir a praticamente qualquer
lugar do mundo, distribuir meu
cartão e todo mundo conhece a
Disney", diz Bird. Os benefícios
para a Disney são claros, e a empresa obteve 35% dos seus lucros
operacionais no mercado internacional em 2004.
Bird diz que a estratégia reflete a
crescente consciência, entre as
empresas norte-americanas, de
que elas precisam adotar uma estratégia de marca mais sofisticada, com mais produção local, e
usar novas plataformas tecnológicas para explorar o potencial dos
mercados externos.
A NBC Universal está implementando uma estratégia tripla
para solucionar os problemas em
suas áreas sensíveis e explorar novos mercados. Quer expandir os
canais de TV a cabo que já controla, puxados por marcas como o
canal Sci-Fi. A empresa espera
crescer em mercados de expansão
mais rápida, como a Europa Central e a Europa Oriental.
Essas oportunidades podem
equilibrar a situação das operações norte-americanas. Como
afirma um executivo da NBC, a
expansão internacional "deixou
de ser um luxo. Tornou-se uma
obrigação".
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