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sociais&cia.
Empresas querem legislação para lobby
Normas contábeis e vigilância da sociedade estimulam transparência nas abordagens do setor privado para o governo
Rotineira nos EUA, análise de leis, projetos e regulações nos órgãos do governo tem papel estratégico na vida das empresas e entidades
JULIANA GARÇON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Rigidez das normas contábeis, facilidade de disseminação de informações e olho na
sustentabilidade estão quebrando um tabu no meio empresarial. O relacionando com
o governo, estigmatizado por
escândalos, está na pauta de
companhias como a brasileira
Natura e a multinacional Kraft,
ambas com áreas profissionalizadas voltadas ao tema.
A idéia é que o nevoeiro da
falta de normas para o diálogo
entre empresas e governo pode
até ser útil momentaneamente,
mas sai cara num horizonte
maior. Envolvimento em casos
de corrupção e favorecimento é
um dos principais temores. Há
ainda o receio de que autoridades públicas, uma vez tratadas
com benesses, sempre demandarão recursos ou favores.
Por isso, a maioria apóia a regulamentação do lobby (leia
quadro), visto como ferramenta de representação peculiar às
democracias mais maduras.
"Não há lobby bom e lobby
ruim, já que todo interesse é legítimo para quem o defende" é
o mantra desse campo.
"Com a abertura do tema, ganha espaço quem é sério", diz o
diretor de assuntos corporativos e relações governamentais
da Kraft Foods do Brasil, Fabio
Acerbi, que pilota uma equipe
de 12 pessoas cujo trabalho envolve relações governamentais,
comunicação interna, assuntos
corporativos e responsabilidade social empresarial.
"Desejamos mostrar nosso
ponto de vista com transparência", diz Acerbi, cuja atenção
está voltada, hoje, para as propostas de restrição de publicidade de alimentos. A Kraft, explica, tem interesse em se manter informada em temas que
circulam na Vigilância Sanitária, na Receita Federal e no Ministério da Agricultura, entre
outros. "Se vamos encontrar alguma autoridade, fazemos pedido formal de reunião protocolado no órgão", afirma.
"A concentração da coordenação é importante para a criação de um histórico de relacionamento", diz Nelson Mussolini, diretor corporativo da Novartis. "Melhorou muito o relacionamento entre iniciativa
privada e governo, mas a palavra "lobby" sempre foi mal empregada no país, criando uma
imagem negativa."
Os profissionais dedicados às
relações públicas, diz, analisam
as informações sobre processos
nas diversas instâncias do governo para identificar ameaças
e oportunidades. Também promovem alinhamento interno e
traçam estratégia para agir nos
temas prioritários.
O tema é mais rotineiro em
subsidiárias de multinacionais,
que ficam sujeitas a princípios
de governança estabelecidos
nos EUA ou na Europa. A Basf,
por exemplo, tem profissionais
dedicados à atividade há mais
de 30 anos. A área está organizada mundialmente, com um
departamento central na matriz, na Alemanha, e divisões
regionais -no Brasil, tem duas
pessoas dedicadas ao tema.
Mas brasileiras como a Natura buscam avanços nessa seara.
Rodolfo Guttilla, diretor de assuntos corporativos e relações
governamentais, ressalta que a
inexistência de regulamentação "cria ambiente" para corrupção e tráfico de influência.
"A zona cinzenta dá margem a
tudo de ruim", afirma o executivo, que também é dirigente da
Aberje (Associação Brasileira
de Comunicação Empresarial).
O debate sobre a regulamentação da atividade não avançou
no Congresso, analisa, porque
para alguns parlamentares o
tema está ligado à reforma política -"um bicho maior".
Eduardo Ricardo, sócio-diretor da Patri Relações Governamentais e Políticas Públicas,
empresa com equipe de 70 pessoas que busca e analisa informações públicas para 40 clientes, compara a necessidade de
regulamentação da atividade
de lobby com a de normatização das doações de campanha.
Mesmo que não eliminem definitivamente as relações deturpadas, diz, ao menos criam instrumento de controle.
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