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POLÍTICA CAMBIAL
Presidente nega mudança já e diz que não foi procurado pela equipe econômica para discutir o assunto
FHC admite desvalorizar menos o real
VALDO CRUZ
Diretor-executivo da Sucursal de Brasília
VIVALDO DE SOUSA
CARI RODRIGUES
da Sucursal de Brasília
O presidente Fernando Henrique Cardoso disse que tem "lógica" reduzir a desvalorização cambial, medida que permitiria uma
queda maior das taxas de juros.
"Que é lógico, é lógico, mas não
significa que vamos adotar isso",
afirmou FHC.
Segundo o presidente, uma redução na desvalorização cambial
permitiria uma queda maior nas
taxas de juros do Banco Central.
"Há margem para desvalorizar (o
câmbio) menos e reduzir mais os
juros."
FHC comentava declarações
atribuídas ao presidente do Banco
Central, Gustavo Franco, que teria
defendido uma redução nas desvalorizações cambiais devido à
queda da inflação.
Anteontem, o Banco Central reduziu sua taxa básica de 21,75%
para 21% ao ano, praticamente
voltando ao patamar anterior ao
auge da crise asiática, em outubro
do ano passado (20,7%).
Até agora, o Banco Central tem
fixado os juros levando em conta a
necessidade de manter os rendimentos dos investidores externos,
que o país precisa atrair para compensar suas perdas na balança comercial.
Como a desvalorização do real
significa perda para os investidores, os juros precisam ser altos o
suficiente para cobrir essa perda.
O governo, porém, quer reduzir
os juros.
Expectativas
No mercado, já há quem aposte
que o Banco Central vá optar por
reduzir o ritmo de desvalorização
cambial para que as taxas de juros
possam cair mais.
O ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola disse à Folha
que espera para este ano uma desvalorização abaixo de 7%. No ano
passado, a desvalorização da moeda brasileira em relação ao dólar
ficou em 7,49%.
Nas projeções feitas pela Tendências Consultores Associados,
da qual Loyola é um dos sócios, a
desvalorização mensal do real em
relação ao dólar deve ficar em
0,52% no próximo mês e em
0,43% de agosto a novembro.
Em dezembro, a desvalorização
ficaria em 0,42%. De acordo com
as estimativas, as desvalorizações
feitas ao longo do ano ficariam
acumuladas em 6,3%, para uma
inflação estimada entre 3% e 4%.
"Não há outro caminho para reduzir os juros", disse o economista Roberto Padovani, da Tendências Consultores.
Segundo ele, o principal ponto
indefinido é quando o governo reduzirá o ritmo de desvalorização
do real.
Prazo
Ontem, o "Jornal do Brasil" publicou declarações atribuídas ao
presidente do Banco Central, Gustavo Franco, segundo as quais a
desvalorização cambial poderia
ser reduzida no curto prazo.
A assessoria do BC negou as declarações, divulgando que Franco
defendeu a tese para o médio e o
longo prazos, como já fazia a equipe econômica.
FHC afirmou que não foi procurado pela equipe econômica para
discutir o assunto. "Ele (Gustavo
Franco) não conversou comigo.
Ninguém da equipe me procurou.
O governo não está discutindo esse tema."
FHC comentou as declarações
de Gustavo Franco durante almoço com um grupo de jornalistas
no Palácio da Alvorada.
Ele aproveitou a discussão sobre
economia para dizer que a redução nas taxas de juros não tem
motivação política.
"Não há nenhuma implicação
política nisso. Estamos reduzindo
é a taxa de juros do Banco Central.
O maior problema é o juro para o
consumidor."
FHC repetiu que não concorda
com a proposta do PT de acelerar
a desvalorização cambial para aumentar as exportações. "Não precisa. Tanto não precisa que as exportações estão crescendo", disse.
Ele apontou que as exportações
de manufaturados estão crescendo 11% ao ano. Acelerar a desvalorização cambial, segundo FHC, é
punir o trabalhador.
Maio
O mês de maio registrou a menor taxa de desvalorização do real
em relação ao dólar no ano:
0,54%. Foi, em 98, a primeira desvalorização mensal abaixo de
0,6% -índice que, em 12 meses,
acumularia 7,4%, taxa registrada
em 97.
A cotação do dólar passou de R$
1,1443 em 30 de abril para R$
1,1505 no último dia útil de maio.
No mês passado, o governo permitiu uma variação mais livre das
cotações do dólar.
O Banco Central conduz uma
política de alargamento gradual
das chamadas minibandas cambiais -os intervalos dentro dos
quais as cotações podem flutuar
livremente.
O sistema de bandas e minibandas teve início em março de 95, logo após a crise mexicana.
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