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EM TRANSE
Governo cumpre meta de corte de gastos acertada com o FMI, mas dívida pública passa do limite projetado pelo Fundo
Governo corta gastos, mas dívida estoura
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pelo segundo mês seguido, a dívida pública registrou valor recorde. Em junho, o endividamento do governo chegou ao equivalente a 58,6% do PIB (Produto Interno Bruto, o valor de todos os bens finais e serviços produzidos em
um ano no país).
Trata-se do nível mais elevado
da dívida de todos os governos
brasileiros desde 1991, quando os
dados passaram a ser calculados
pela atual metodologia.
Em maio, a relação entre dívida
e PIB havia atingido 56%, o que já
era o patamar mais elevado desde
1991. Desde então, a disparada do
dólar foi o principal responsável
pelo crescimento do endividamento do setor público.
Dólar a R$ 3 estoura a dívida
Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, a manutenção
da taxa de câmbio próxima dos
R$ 3 fará com que a relação entre
dívida e PIB se mantenha próxima dos 59%.
Lopes disse, porém, esperar que
aconteça, em algum momento,
um recuo na cotação do dólar.
"Não dá para ficar imaginando
sempre o pior dos mundos. Ninguém imagina que a taxa de câmbio vá ficar nesse patamar de hoje", afirmou.
Pelos números fechados em junho, a dívida líquida do setor público (compromissos da União,
dos Estados, dos municípios e das
estatais) está em R$ 750 bilhões. O
valor é R$ 25 bilhões superior ao
projetado no acordo com o FMI
(Fundo Monetário Internacional).
Dólar e dívida
Desse total, cerca de 50% é corrigida pela taxa de câmbio. Por isso, as oscilações do dólar têm forte impacto no endividamento do
governo. Atualmente, cada 1% de
alta do dólar provoca um aumento de aproximadamente R$ 3,2 bilhões na dívida pública. Isso equivale a 0,27% do PIB.
A comparação entre a dívida
pública e o PIB é relevante para
indicar a capacidade de pagamento por parte do governo, cujas receitas dependem das dimensões e
do ritmo de crescimento do PIB.
Entre economistas, não existe
um consenso quanto ao nível máximo que a relação dívida/PIB pode atingir sem que fique comprometida a capacidade que o país
tem de continuar honrando seus
compromissos -fatores como o
prazo de vencimento da dívida
também influenciam essa perspectiva.
Mas o patamar atual está longe
dos 46,5% programados pela
equipe econômica em 1998, quando foi dado início ao Programa de
Estabilidade Fiscal. Na época, o
governo passou a fazer uma
maior economia de dinheiro -o
chamado superávit primário, diferença entre receitas e despesas,
exceto gastos com juros.
O objetivo era fazer com que,
num prazo de três anos, a dívida
se estabilizasse. O problema é que,
com a disparada do dólar, o superávit primário registrado pelo governo não tem sido suficiente para conter a alta da dívida.
Superávit no ano
Entre janeiro e junho deste ano,
o setor público acumulou superávit de R$ 28,9 bilhões. O valor foi
suficiente para que o governo
cumprisse a meta fixada no acordo com o FMI, segundo o qual o
Brasil deveria economizar R$ 25
bilhões no primeiro semestre.
Porém o superávit registrado no
período não representa nem metade do crescimento registrado
pela dívida líquida do setor público entre janeiro e junho.
No período, o endividamento
aumentou R$ 89,4 bilhões. Desse
total, segundo o BC, R$ 61,8 bilhões refletem o impacto que a oscilação na taxa de câmbio teve sobre a dívida. Os gastos com juros,
por sua vez, tiveram um impacto
de R$ 46,3 bilhões. Esses dois fatores foram compensados, em parte, pelo superávit primário acumulado pelo governo.
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