São Paulo, sexta-feira, 26 de julho de 2002

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Nos bastidores, número 2 do FMI e Malan criticam redução de juros

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A vice-diretora-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Anne Krueger, criticou, nas conversas desta semana com autoridades brasileiras, a queda da taxa de juros básicos da economia de 18,5% para 18% ao ano. A diminuição aconteceu na semana passada e teve componente político, embora não eleitoral.
A Folha apurou que Krueger, se o governo brasileiro considerar necessário, estará disposta a avalizar um novo acordo do Fundo com o país, como cogita o presidente do Banco Central, Armínio Fraga. No entanto, o acerto só deverá sair se a taxa de juros não tiver trajetória declinante. A campanha presidencial do tucano José Serra, candidato do governo, pede nova redução.
Segundo a Folha apurou, Krueger considerou um erro diminuir a taxa de juros básica da economia em um momento em que a economia brasileira e a americana enfrentam fortes dificuldades simultaneamente, ainda que de naturezas diferentes. Motivo: a necessidade do Brasil de atrair investimentos para superar a turbulência financeira atual não recomenda juros em queda.
As avaliações da número 2 do FMI foram transmitidas a Fraga, que se encontrou com Anne Krueger na segunda-feira, e ao ministro da Fazenda, Pedro Malan, que almoçou com a economista na terça-feira, acompanhado do presidente do BC.
Na mesma terça-feira, Krueger esteve com o presidente Fernando Henrique Cardoso. A conversa entre o presidente e a economista tratou de problemas econômicos de maneira mais genérica, sem crítica direta à queda da taxa de juros, mas com manifestações de preocupação em relação à manutenção da taxa num patamar suficientemente alto.

Malan contra queda
A Folha apurou que Malan também julgou equivocada a diminuição dos juros. Malan ficou contrariado com a queda da semana passada e manifestou essa posição claramente a FHC.
O ministro da Fazenda desejava manter os 18,5% anuais. Mas FHC, contrariando sua decisão histórica de deixar a queda de juros a cargo apenas das autoridades econômicas, fez gestões sutis junto a Fraga e ao próprio Malan a fim de diminuir a taxa em 0,5 ponto percentual.
Pressionado por Serra, candidato oficial que responsabiliza as más notícias na economia por seu terceiro lugar no páreo presidencial, FHC tem tentado estimular o crescimento econômico sem comprometer a estabilidade monetária e o ajuste fiscal.
Malan, porém, teme que medidas recentes, como a intervenção no mercado de combustíveis a fim de baixar o preço do gás de cozinha, produto cujo aumento de 472% em oito anos é tido como o vilão da campanha serrista, minem a credibilidade da política econômica e tenham efeito contrário na política, transmitindo idéia de desespero eleitoral.
Malan lembrou a FHC que, no segundo semestre de 1998, quando o presidente era candidato a reeleição, o governo editou um forte pacote fiscal. Ou seja, FHC estaria fazendo por Serra o que não fez nem por ele.



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