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COLAPSO DA ARGENTINA
Desemprego sobe no país e bate novo recorde, 21,5%
Proteção do "corralito" é criticada
JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES
Com apenas um dia de vigência,
o decreto do governo argentino
que adia até janeiro o pagamento
de recursos liberados dos bancos
por meio de processos judiciais se
tornou alvo de críticas do Congresso e de correntistas e já foi até
mesmo declarado inconstitucional por uma juíza de Buenos Aires.
Para aumentar o descontentamento da população, o governo
também divulgou ontem que o
desemprego chegou ao nível recorde de 21,5% em maio.
As derrotas do governo começaram no início da tarde, quando
a juíza Liliana Heilano, de um tribunal especializado em processos
contra as restrições bancárias conhecidas na Argentina como
"corralito", considerou inconstitucional o decreto que dá um prazo de 120 dias úteis para os bancos
obedecerem sentenças judiciais
para a liberação de depósitos congelados.
A sentença vale apenas para a
correntista Sofica Adela Andina
-que entrou com a ação- mas a
decisão abriu um precedente para
outros correntistas.
Abuso de autoridade
Além disso, dois outros procuradores do país também entraram com ações ontem pedindo a
inconstitucionalidade do decreto.
O presidente Eduardo Duhalde,
responsável por sua publicação,
também foi acusado de "abuso de
autoridade e violação dos deveres
de funcionário público" pela intervenção em "outro Poder soberano, o Judiciário".
O decreto ainda virou alvo do
Congresso. O senador peronista
Jorge Yoma, que apesar de fazer
parte do partido de Duhalde faz
oposição ao governo, disse que
vai apresentar um projeto na segunda-feira para declarar inconstitucional o decreto. Ele afirmou
ter o apoio de vários senadores
governistas.
Acuado, o governo tentou se defender. Para o chefe de gabinete,
Alfredo Atanasof, não há condições de reduzir as restrições bancárias para todos os correntistas
se houver processos judiciais contra o "corralito".
Já o ministro Roberto Lavagna
(Economia) disse, em entrevista
ao jornal "La Nación", que a contestação do decreto já era esperada pelo governo, que agora deverá
recorrer à Suprema Corte.
O Indec (o IBGE local) divulgou
ontem que a taxa de desemprego
cresceu de 18,3% em outubro de
2001 para 21,5% em maio.
O índice representa um novo
recorde histórico na Argentina e
não é superado por nenhum outro país da América do Sul. O recorde anterior era de maio de
1995, quando a taxa foi de 18,4%.
Agora, existem 3 milhões de desempregados na Argentina, ou
500 mil a mais do que em outubro. Além disso, também foi divulgado que 18,6% dos trabalhadores argentinos possuem subempregos. São considerados subempreegadas aquelas pessoas
que têm trabalho de apenas meio-período.
Para consultorias do país, o cenário é ainda mais negativo: o desemprego chegaria a 25%. A diferença deve-se ao fato de que a pesquisa do Indec não inclui cidades
pequenas, onde haveria maiores
problemas trabalhistas.
Linha da pobreza
Além disso, os consultores consideram que, com o agravamento
da situação, muitas pessoas desistiram de procurar emprego e, por
isso, não aparecem nas estatísticas do Indec.
O instituto também revisou ontem os números de pobreza. No
país estão abaixo da linha da pobreza as família de quatro pessaos
com renda mensal inferior a 600
pessoas. De acordo com os dados
divulgados, 49,7% dos moradores
da Grande Buenos Aires são pobres, sendo que 22,7% são indigentes.
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