São Paulo, quinta-feira, 26 de julho de 2007

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análise

Dívida pode pôr fim a boom de aquisições

PAUL J. DAVIES
SASKIA SCHOLTES
DO "FINANCIAL TIMES"

Os mercados de capitais e títulos de dívida dos Estados Unidos e da Europa começaram ontem a receber claros sinais de uma compressão de crédito, quando surgiram informações de que duas das maiores aquisições alavancadas que estão sendo organizadas encontraram dificuldades significativas.
Na Europa, os bancos responsáveis pelo refinanciamento dos 9 bilhões de libras em dívidas da Alliance Boots, que está sendo adquirida na maior transação alavancada da história britânica, abandonaram as tentativas de colocar no mercado 5 bilhões de libras em títulos de dívida preferenciais, optando por emitir mais papéis de retorno mais alto, com desconto superior ao esperado nos valores de face, o que expôs a prejuízos as instituições que subscreveram a transação.
Nos EUA, o financiamento da aquisição da montadora de automóveis Chrysler pela Cerberus, uma transação de US$ 20 bilhões, também encontrou dificuldades, e os bancos decidiram adiar a colocação de US$ 12 bilhões em títulos de dívida, que seriam vinculados ao lado operacional da montadora, e não à sua divisão financeira.
Em ambos os casos, os papéis oferecidos não conseguiram atrair compradores em volume suficiente mesmo depois que termos mais favoráveis foram oferecidos. Os problemas de colocação de dívida em transações desse porte podem sinalizar que acabou o pico do recente boom no segmento de aquisições alavancadas, estimulado pela atividade de grupos de capital privado dotados de grandes recursos de caixa.
Essa tendência provavelmente causará problemas aos investidores tanto no mercado de títulos de dívida quanto no de ações, que muita gente acredita que se tenha beneficiado de avaliações superiores devido à suposição de que ofertas pela aquisição de quase qualquer empresa eram factíveis.
Marek Gumienny, diretor-executivo da Candover, empresa britânica especializada em aquisições, diz acreditar que os volumes transacionados se reduzam, agora, como conseqüência do tumulto nos mercados de crédito.
"A principal questão é o volume de papéis de dívida nas mãos das empresas subscritoras. Ouvimos boatos de que alguns bancos decidiram encerrar as operações até o final do trimestre -chega de crédito."
Alguns executivos do setor bancário insistem em que continuam no mercado e que suas normas para subscrição de transações não mudaram. Mas, à medida que crescem o número e o montante das transações dos bancos, é provável que isso mude, a não ser que surja uma melhora considerável nos mercados de títulos de dívida.
A Europa prepara algumas aquisições alavancadas de valor mais baixo para os próximos meses, mas os EUA têm um excedente de mais de US$ 300 bilhões em bônus e certificados de empréstimos. Os investidores já estavam nervosos quanto à capacidade do mercado para absorver esses papéis de dívida antes que a oferta de papéis da Chrysler fracassasse em encontrar compradores.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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