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FOLHA INVEST
No pico da crise, relação entre saques e aplicações era de 31; agora é de 3
Intervenção do BC reduz fuga dos fundos em 90%
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise de confiança nos fundos
de investimento, intensificada em
maio quando o Banco Central
mudou as normas do setor, começa a refluir. Na última quarta-feira, uma semana após o pacote
de medidas do BC para conter a
debandada dos investidores, para
cada R$ 1 de aplicação nova os
fundos registraram R$ 3 de saque
-90,3% inferior ao verificado no
período de saída maciça de reais.
No auge da crise, entre 1º de julho e 15 de agosto, essa relação era
de R$ 1 de entrada para R$ 31 de
saída. "A captação líquida dos
fundos [aplicações menos resgates" ainda é negativa, mas caiu
muito", observa Marcelo D'Agosto, diretor do site Fortuna.
Do dia 29 de maio -quando os
fundos começaram a contabilizar
suas carteiras pelo valor diário
dos títulos no mercado secundário- até o dia 28 de junho, saíram R$ 28 para cada R$ 1 captado.
Segundo D'Agosto, que fez o levantamento da movimentação
dos fundos desde o início de abril,
o atual cenário de resgates está
voltando aos níveis anteriores à
crise da marcação a mercado.
Do dia 1º de abril ao dia 28 de
maio, véspera da mudança na
contabilidade dos fundos, entrava
R$ 1 para R$ 3 que eram resgatados pelos cotistas.
Outro sintoma da volta da confiança dos investidores é que aumentou significativamente o número de instituições financeiras
com captação positiva (mais aplicações que resgates). Esse número saltou de 27 instituições, entre
1º de julho e 15 de agosto, para 61
na última quarta-feira. Antes da
marcação a mercado, 35 instituições estavam com captação positiva (veja gráfico).
Mudanças
Na opinião de D'Agosto, a reversão na rota de fuga dos investidores é consequência da melhor
rentabilidade que os fundos DI e
de renda fixa passaram a registrar
desde o dia 14, após as medidas
adotadas pelo BC. Eram essas categorias que registravam o maior
volume de saques até então.
A autoridade monetária passou
a recomprar LFTs (Letras Financeiras do Tesouro), o principal
papel das carteiras dos fundos,
que vencem este ano, pagando
um preço um pouco acima da
média do mercado secundário de
títulos. Isso melhorou a rentabilidade dos fundos.
O BC também vem realizando
leilões de troca de LFTs, com vencimentos até 2006, por papéis
mais curtos, que vencem este ano.
Essa medida foi importante para
reduzir a oscilação das cotas dos
fundos, pois quanto maior o prazo de vencimento desses títulos,
maior o deságio (desconto) que
eles vinham tendo no mercado
secundário.
Como os gestores dos fundos,
desde maio, tinham de contabilizar esses papéis diariamente pelo
seu valor de mercado, quanto
maior o volume de títulos longos
na carteira do fundo, mais ele oscilava e perdia rentabilidade.
Outra medida do BC foi permitir que os gestores de fundos pudessem contabilizar parte dos títulos públicos de acordo com a taxa de juro embutida no papel, e
não pelo seu valor diário. Isso para reduzir a oscilação das cotas.
"Como os leilões do BC deram
maior estabilidade aos fundos, essa medida se tornou inócua e a
maioria dos gestores continua
com a marcação a mercado que é
mais transparente", diz Wilson
Risolia, diretor de ativos de terceiros da Caixa Econômica Federal.
Os analistas do setor dizem que,
apesar de toda a turbulência vivida este ano, os fundos ainda são a
melhor aplicação para o pequeno
e médio investidor.
"Por trás de um fundo de investimento há uma empresa inteira
de gestão de recursos trabalhando
exclusivamente para garantir
uma boa rentabilidade ao cotista.
Ela não acerta sempre, mas tem
mais condições técnicas de traçar
uma estratégia do que o investidor sozinho", observa Carlos Otero, diretor de renda fixa da Bradesco Asset Management.
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