São Paulo, segunda-feira, 26 de agosto de 2002

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FOLHA INVEST

No pico da crise, relação entre saques e aplicações era de 31; agora é de 3

Intervenção do BC reduz fuga dos fundos em 90%

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise de confiança nos fundos de investimento, intensificada em maio quando o Banco Central mudou as normas do setor, começa a refluir. Na última quarta-feira, uma semana após o pacote de medidas do BC para conter a debandada dos investidores, para cada R$ 1 de aplicação nova os fundos registraram R$ 3 de saque -90,3% inferior ao verificado no período de saída maciça de reais.
No auge da crise, entre 1º de julho e 15 de agosto, essa relação era de R$ 1 de entrada para R$ 31 de saída. "A captação líquida dos fundos [aplicações menos resgates" ainda é negativa, mas caiu muito", observa Marcelo D'Agosto, diretor do site Fortuna.
Do dia 29 de maio -quando os fundos começaram a contabilizar suas carteiras pelo valor diário dos títulos no mercado secundário- até o dia 28 de junho, saíram R$ 28 para cada R$ 1 captado.
Segundo D'Agosto, que fez o levantamento da movimentação dos fundos desde o início de abril, o atual cenário de resgates está voltando aos níveis anteriores à crise da marcação a mercado.
Do dia 1º de abril ao dia 28 de maio, véspera da mudança na contabilidade dos fundos, entrava R$ 1 para R$ 3 que eram resgatados pelos cotistas.
Outro sintoma da volta da confiança dos investidores é que aumentou significativamente o número de instituições financeiras com captação positiva (mais aplicações que resgates). Esse número saltou de 27 instituições, entre 1º de julho e 15 de agosto, para 61 na última quarta-feira. Antes da marcação a mercado, 35 instituições estavam com captação positiva (veja gráfico).

Mudanças
Na opinião de D'Agosto, a reversão na rota de fuga dos investidores é consequência da melhor rentabilidade que os fundos DI e de renda fixa passaram a registrar desde o dia 14, após as medidas adotadas pelo BC. Eram essas categorias que registravam o maior volume de saques até então.
A autoridade monetária passou a recomprar LFTs (Letras Financeiras do Tesouro), o principal papel das carteiras dos fundos, que vencem este ano, pagando um preço um pouco acima da média do mercado secundário de títulos. Isso melhorou a rentabilidade dos fundos.
O BC também vem realizando leilões de troca de LFTs, com vencimentos até 2006, por papéis mais curtos, que vencem este ano. Essa medida foi importante para reduzir a oscilação das cotas dos fundos, pois quanto maior o prazo de vencimento desses títulos, maior o deságio (desconto) que eles vinham tendo no mercado secundário.
Como os gestores dos fundos, desde maio, tinham de contabilizar esses papéis diariamente pelo seu valor de mercado, quanto maior o volume de títulos longos na carteira do fundo, mais ele oscilava e perdia rentabilidade.
Outra medida do BC foi permitir que os gestores de fundos pudessem contabilizar parte dos títulos públicos de acordo com a taxa de juro embutida no papel, e não pelo seu valor diário. Isso para reduzir a oscilação das cotas.
"Como os leilões do BC deram maior estabilidade aos fundos, essa medida se tornou inócua e a maioria dos gestores continua com a marcação a mercado que é mais transparente", diz Wilson Risolia, diretor de ativos de terceiros da Caixa Econômica Federal.
Os analistas do setor dizem que, apesar de toda a turbulência vivida este ano, os fundos ainda são a melhor aplicação para o pequeno e médio investidor.
"Por trás de um fundo de investimento há uma empresa inteira de gestão de recursos trabalhando exclusivamente para garantir uma boa rentabilidade ao cotista. Ela não acerta sempre, mas tem mais condições técnicas de traçar uma estratégia do que o investidor sozinho", observa Carlos Otero, diretor de renda fixa da Bradesco Asset Management.


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