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LUÍS NASSIF
Superávit e balança
Uma conspiração entre
a indústria farmacêutica
e a psiquiátrica, especialmente
nos Estados Unidos, originou
um processo nefasto, com reflexos no Brasil. Um analista
qualquer, de preferência de
mente inquieta, junta um conjunto de sintomas, alguns presentes até em pessoas "normais", e cria um estereótipo,
uma "doença" -que, obviamente, além de permitir escrever best-sellers, abre espaço para um novo medicamento específico.
Algo similar ocorre com essa
marketinização das idéias econômicas. Há um conjunto de
ferramentas com as quais se
constroem políticas econômicas. A arte da política consiste
em recorrer pragmaticamente
a cada uma delas, utilizando-as de acordo com as circunstâncias e na dosagem correta.
Na discussão econômica brasileira atual, nessa simplificação criada pelos "cabeças de
planilha", tudo é estereotipado. Um caso clássico é essa
idéia de que o que importa para a estabilização da economia
é o tamanho do comércio exterior, não necessariamente o do
superávit comercial.
De acordo com essa visão, até
para exportar mais o país precisa de importações -vide
exemplo da Embraer. Ora, esse
argumento -largamente repetido nos últimos dias- só é
adequado para rebater propostas de controle administrativo das importações. Do jeito
que vem sendo brandido, causa a impressão de que todos
aqueles que são a favor do aumento do superávit comercial
são contra o crescimento das
importações. É justamente o
contrário.
Desde os anos 50, todo processo de retomada do crescimento esbarrou no estrangulamento externo. O que se tem
hoje é um equilíbrio nas contas
externas fundado em rescaldo
de uma desvalorização cambial -que está sendo perdida- e em recessão. Em um
quadro de crescimento, haverá
muito maior pressão sobre as
importações, especialmente se
houver necessidade de novos
investimentos. Garantir superávits comerciais, portanto, é
medida prudencial para preparar o terreno para que, na
hipótese de retomada dos investimentos, haja espaço para
importar mais.
Nesse quadro se insere também a questão da substituição
das importações. Para a nova
etapa de desenvolvimento, o
país necessitará de investimentos em áreas de ponta. A substituição de importações se dá
em áreas tradicionais, nas
quais o país já tenha capacitação. Por isso, ao se substituírem importações nessas áreas,
se estará abrindo espaço para
a importação de novas tecnologias.
Vinculação de receita
Uma das "verdades" repetidas a torto e a direito pelos "cabeças de planilha" é a idéia de
que a crise brasileira é decorrência da vinculação orçamentária -que destina obrigatoriamente recursos para determinadas áreas, como saúde e
educação.
Estudos de especialistas em
"focalização" da Faculdade de
Administração e Economia da
USP constataram que o único
indicador brasileiro que melhorou sensivelmente na última década foi o ensino básico.
Motivo: a vinculação orçamentária, criada pela Constituição
de 1988, e o Fundef, que municipalizou o ensino básico. Não
fosse isso, esse dinheiro teria
ido pelo ralo, assim como foram todos os recursos da privatização.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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