São Paulo, quinta-feira, 26 de agosto de 2004

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IMPASSE

Candidato da oposição, Skaf é eleito na Fiesp; Vaz, da situação, é anunciado vencedor extra-oficial no Ciesp, mas é contestado

Eleição racha liderança da indústria de SP

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Pela primeira vez na história, a liderança dos industriais paulistas rachou ontem na eleição para a presidência da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo). Os dois lados trocaram acusações, e o resultado final da campanha mais acirrada do setor só deve ser conhecido na semana que vem.
Com uma folga de 18 votos, o candidato da oposição, Paulo Skaf, venceu a eleição para a presidência da Fiesp, com o apoio de 70 sindicatos. O candidato Claudio Vaz, da situação, teve 52 votos e admitiu a derrota. Skaf assume na Fiesp no final de setembro.
Já no Ciesp, foi anunciado por volta das 20h30 que Vaz teve a maioria dos votos, apesar de protestos do grupo de Skaf, que ameaça impugnar a contagem.
Partidários dos dois passaram a trocar acusações: "Não vamos aceitar!", gritavam simpatizantes de Skaf. "Chapa branca! Chapa branca!", gritavam simpatizantes de Vaz, aludindo a uma suposta posição pró-governo de Skaf. Os ânimos se exaltaram, com troca de xingamentos, e alguns simpatizantes tiveram de ser contidos.
O resultado da eleição no Ciesp pode ser anunciado só na semana que vem, por causa de pedido de Skaf de recontagem dos votos.
Integrantes da chapa de Skaf alegam suspeita de irregularidades na contagem de votos em algumas urnas da zona sul, com uma diferença entre o número de votos e o número de credenciamentos nessas urnas. Vaz diz, no entanto, que o número de votos sem credenciamentos é pequeno e não irá alterar o resultado da eleição.
Segundo dados da comissão eleitoral, dos cerca de 7.500 empresários aptos a votar no Ciesp, 3.807 o fizeram, com 2.097 para Vaz e 1.681 para Skaf, além de nulos e em branco. O grupo de Skaf tenta impugnar todos os votos da zona sul, que tem 598 votos. Mas apenas 278 empresários votaram na região, número insuficiente para tirar a vitória de Vaz.
O atual presidente da Fiesp/ Ciesp, Horacio Lafer Piva, disse acreditar na superação do impasse: "Isso não vai afetar a indústria porque as duas chapas terão responsabilidade suficiente para encontrar um mecanismo para manter nosso maior ativo [a união do setor]".
Antes dos ânimos esquentarem, Skaf chegou a brincar sobre a disputa mais acirrada e cara das entidades. "Tudo o que é muito disputado é mais legítimo", declarou logo após a apuração na Fiesp. "É a primeira vez na história da Fiesp que um candidato da oposição registra a chapa com maioria absoluta dos votos", completou.
A única vez em que um candidato da oposição tinha vencido a eleição na Fiesp foi em 1980.
Skaf, naquele momento, não acreditava em um possível racha entre Fiesp e Ciesp caso as duas entidades sejam dirigidas por chapas diferentes. "Não há risco de divisão. Viemos para somar, não para dividir", disse Skaf. Vaz também estava conciliador. "Provavelmente o eleitorado entendeu que a proposta do Paulo era melhor. Eu tenho que respeitar, o eleitor é soberano no processo."
Ao longo do dia, antes do impasse, comentava-se a possibilidade de um acordo entre as duas chapas em caso de diferentes presidentes ocuparem a presidência das duas entidades.

Fiesp balançada
Logo cedo, Mário Amato, apoiador de Vaz, defendeu a conciliação. "A Fiesp está balançada", afirmou o ex-presidente da entidade. Ele disse que um racha "não seria muito conveniente". "Temos que conciliar. Estou tentando ser o poder moderador", disse. "Se ocorrer uma divisão, as atividades industriais podem ser muito prejudicadas. Talvez uma alternativa nesse caso seja dividir os cargos: os dois candidatos seriam presidentes e vice-presidentes das entidades."
Também antes da crise, Piva declarou que a indústria não perderia com um racha. "Pode haver mágoa, mas a tendência é as entidades se reaglutinarem", disse ele, que, no entanto, preferiu não se posicionar em relação à possibilidade de um acordo.
Também apoiador de Vaz, Paulo Butori, presidente do Sindipeças, declarou que, apesar de acreditar que uma conciliação iria prejudicar as entidades, um acordo seria pouco provável. "Não havendo união, vamos para a desunião", disse. "Compor o quê? Ao vencedor, as batatas", dizia Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq e candidato a vice-presidência na chapa de Vaz.


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