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JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMAN
Bernanke e a crise do crédito
Com uma veemência de dar
inveja à Fiesp, Wall Street faz
intenso lobby por um corte
no juro para aliviar os bancos
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QUANDO ESCREVO este artigo,
as Bolsas estão mais calmas e
mesmo o mercado de crédito
melhorou, mas a diminuição do apetite para risco entre os investidores
ainda afeta os preços dos ativos. No
começo desta semana, a diferença
entre a taxa que os bancos de primeira linha americanos pagavam no
interbancário por um empréstimo
de três meses e a taxa do Tesouro
norte-americano ultrapassou 2,4%,
o maior nível em mais de 20 anos,
uma forte indicação da demanda
por papéis mais seguros. Na Europa,
no mercado de promissórias lastreadas em ativos, uma importante
fonte de financiamento para os bancos, apenas 20% dos papéis que venceram foram renovados. Em Nova
York, há dúvidas sobre a saúde financeira de uma imobiliária proprietária de alguns dos edifícios comerciais mais conhecidos na cidade.
O problema no "subprime", um pequeno segmento de hipotecas nos
Estados Unidos, contagiou a totalidade dos mercados de ativos de risco
no mundo e é impossível prever
quando a volatilidade vai cair.
Nessa tempestade, todos aguardam as próximas medidas da Fed
(Federal Reserve), o banco central
norte-americano. Com uma veemência de dar inveja à Fiesp, Wall
Street faz desde o começo da crise
um intenso lobby por um corte imediato da taxa básica de juros para aliviar a situação dos bancos e fundos de hedge. Nos canais da televisão especializados em notícias sobre os
mercados financeiros, comentaristas conservadores que sempre reclamaram de intervenções do governo
na economia pedem uma ação urgente e proclamam que Ben Bernanke, o presidente do Fed, simplesmente não entende a profundidade do problema.
A legislação americana dá ao Federal Reserve um mandato claro:
Controlar a inflação e preservar o
nível de emprego. Como todo banco
central, o Fed também se ocupa em
regular e manter a solidez do sistema bancário porque isso é necessário para atingir os seus objetivos de crescimento da economia e estabilidade de preços. Mas garantir os ganhos dos investidores não é parte da sua missão.
Há poucos profissionais tão preparados quanto Bernanke para enfrentar essa crise. Na sua carreira
acadêmica, ele estudou a crise de 29
e ressaltou o papel desempenhado
pelos problemas no mercado financeiro na Grande Depressão. As medidas tomadas até agora pelo BC
americano enfatizam sua preocupação com a liquidez no sistema bancário e o desejo de evitar criar um
precedente que indique que ele está
disposto a salvar os investidores de
suas má decisões, o que produziria
mais e maiores problemas no futuro. Nesse aspecto, Bernanke parece
querer se diferenciar de seu predecessor, Alan Greenspan, que adquiriu uma reputação de se preocupar
excessivamente com a saúde financeira de Wall Street, um fator que
pode ter gerado o inusitado apetite
por ativos arriscados dos investidores nos últimos anos.
Como Bernanke realçou no seu
trabalho acadêmico, o banco central
precisa estar atento aos efeitos da
crise no crédito na economia real.
Há indícios de que a construção civil, um setor importante para o emprego, já está sendo atingida, mas
ainda não se sabe o quanto o gasto
dos consumidores e o investimento
das empresas vão ser afetados. Nada
impede que o Fed baixe os juros na
sua próxima reunião, em setembro,
mas, com a evidência de que dispomos, não parece haver necessidade
de um corte antes dessa reunião ou
de outras medidas de emergência.
JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMAN , 59, professor de economia na Universidade Princeton (EUA), escreve quinzenalmente aos domingos nesta coluna.
jose.scheinkman@gmail.com
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