São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 2008

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Agrofolha

Cortador de cana entra em confronto com PM Confronto entre canavieiros e PM fere 6

Três trabalhadores rurais foram presos e seis ficaram feridos com balas de borracha na cidade de Pontal, interior de SP

Trabalhadores reivindicam reajuste de 10% no piso salarial e aumento no valor pago pelo metro de cana cortada, para R$ 0,20

VERIDIANA RIBEIRO
DA FOLHA RIBEIRÃO

Três trabalhadores rurais presos, seis feridos com balas de borracha, comércio fechado, moradores aterrorizados.
Esse foi o resultado do confronto ontem de manhã, na principal rua de Pontal (SP), entre cortadores de cana que estão em greve há uma semana e policiais militares que foram chamados para cumprir liminar dada na última sexta-feira a usinas. A decisão garantiu a saída dos ônibus para os canaviais com os trabalhadores que não aderiram à paralisação.
Foi o segundo confronto entre PMs e bóias-frias em três dias -o primeiro ocorreu no sábado em Cruz das Posses, distrito de Sertãozinho, quando os trabalhadores da usina Albertina tentaram fechar a rua para impedir a saída dos ônibus com trabalhadores. Quatro grevistas foram feridos.
O conflito de ontem começou por volta de 9h30 quando, após a saída de 60 ônibus de rurais com escolta de policiais, cerca de 150 cortadores de cana das usinas Bazan, Bela Vista e Carolo, todas em Pontal, apoiados pela Feraesp (Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo), decidiram protestar em frente à sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Pontal, que não apóia o movimento.
Do outro lado da rua, 16 homens da Tropa de Choque da PM de Sertãozinho e Jaboticabal mandaram os trabalhadores recuarem. Não foram atendidos e passaram a atirar bombas de gás lacrimogêneo, gás pimenta e balas de borracha.
As lojas da rua e o restaurante da rodoviária fecharam as portas. A diretora de uma escola pública que mora em frente à rodoviária, Reginalva de Lourdes Negrão de Carvalho, 46, se agarrou a uma imagem de Santo Expedito -a reportagem acompanhou o conflito da varanda da professora-, rezando para que o confronto, que durou cerca de 20 minutos, acabasse. "Fiquei apavorada. Isso nunca aconteceu aqui", disse.
"A polícia se utiliza primeiro do diálogo, depois dos meios não-letais dos quais dispomos e, se preciso, de outros meios legais para evitar o dano do patrimônio público e privado", disse o tenente Eduardo Martins Ribeiro.
Os trabalhadores reivindicam reajuste de 10% no piso salarial, que chegaria a R$ 500, e aumento no valor pago pelo metro de cana cortada para R$ 0,20 -hoje varia entre R$ 0,08 e R$ 0,13.
Querem também que as usinas criem comissões, com representantes dos patrões e dos trabalhadores, para a aferição da medição da cana, por meio da qual as usinas calculam o valor do adicional de produtividade pago aos cortadores -na edição do último domingo, no caderno Mais, reportagem da Folha revelou que documentos mostram não ser incomum fraudes ou erros na medição provocarem um pagamento aos trabalhadores abaixo do previsto nos acordos salariais.
Os três trabalhadores presos são indígenas. Sidnei Pereira das Neves, 22, Júlio Marcos da Silva, 28, e José Alípio Guimarães, 32, pertencem à tribo Xacriabá, de São João das Missões, norte de Minas Gerais. O trio foi solto no final da tarde.
Segundo o delegado de polícia de Pontal, Maurício José Furtado Nucci, os trabalhadores detidos participaram da invasão da sede do sindicato e, por esse motivo, foram indiciados pelo crime de dano.
A reportagem tentou localizar os representantes das usinas. Só duas se pronunciaram. A Bela Vista e a Bazan informaram não reconhecer a Feraesp como parte legítima da negociação e afirmaram que o acordo fechado com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Pontal vale até abril de 2009.


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