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Corretora rebaixa papéis do Brasil
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Citando a liderança isolada do
petista Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) nas pesquisas de opinião, a
corretora de valores Merrill
Lynch anunciou ontem que rebaixou a avaliação dos bônus do Brasil de "marketweight" (valor de
mercado) para "underweight"
(abaixo do valor de mercado) em
seu portfólio de títulos da dívida
de mercados emergentes.
Em relatório reservado distribuído a seus clientes, o banco norte-americano afirma que o candidato do PT vem ganhando apoio
mesmo com os ataques que vem
sofrendo por parte do candidato
governista, José Serra (PSDB), o
favorito dos investidores estrangeiros, que vêem nele a continuidade da atual política econômica
de Fernando Henrique Cardoso e
um risco menor de incertezas financeiras.
"O significado da tendência
dessas pesquisas não está associado apenas à alta probabilidade de
uma vitória de Lula no primeiro
turno", afirma o texto. "Embora
vejamos esse cenário como provável neste momento, ainda acreditamos que as chances favoreçam a possibilidade para a realização de um segundo turno."
Segundo pesquisa Datafolha
publicada na edição de domingo,
Lula tem 48% dos votos válidos e
está a dois pontos percentuais de
vencer as eleições de 6 de outubro
já no primeiro turno.
Já em pesquisa divulgada anteontem pelo Ibope, o petista estacionou em 41% das intenções de
voto, mas mesmo assim ganharia
do tucano em um possível segundo turno, por 55% contra 35% do
ex-ministro da Saúde.
Fragilidade externa
O texto da Merrill Lynch, assinado pelo economista-chefe para
a América Latina, cita ainda a fragilidade da economia mundial
como justificativa para o rebaixamento: "O cenário externo está
mostrando novamente o aumento na aversão ao risco".
Os títulos da dívida externa brasileira mais negociados, como os
C-Bonds, caíram mais de 30%
desde meados de abril, em parte
devido à preocupação de Wall
Street com o resultado das eleições. "Agora nós vemos uma probabilidade maior de novas reduções dos bônus no período eleitoral", diz o relatório.
A credibilidade das classificações dos bancos e agências de risco em relação ao mercado brasileiro não anda em sua melhor fase, desde que as entidades citaram
o crescimento de Lula nas pesquisas eleitorais como motivo para
rebaixar os papéis do Brasil já no
começo de maio.
Um analista do banco Goldman
Sachs chegou mesmo a inventar o
termo "lulômetro", o que causou
protesto de diversos políticos brasileiros.
Nas semanas seguintes, porém,
alguns economistas, inclusive os
ligados às próprias empresas, afirmaram que a verdadeira causa do
rebaixamento eram os fundamentos e o desempenho da economia brasileira e que a candidatura petista estaria sendo usada
apenas como bode expiatório.
Além disso, diversas empresas
classificadoras de risco tiveram
seus nomes envolvidos na série de
escândalos contábeis que aflige a
economia norte-americana desde
dezembro do ano passado.
Há quatro meses, a própria
Merrill Lynch teve de pagar US$ 100 milhões de multa ao Estado e à cidade de Nova York sob acusação de manipular análises financeiras do mesmo formato da divulgada ontem sobre a situação no Brasil.
Goldman Sachs
Ontem, a Goldman Sachs rebaixou a nota de crédito dos três maiores bancos privados do Brasil por causa da maior probabilidade de Lula vencer as eleições
em outubro.
As notas do Bradesco, do Itaú e do Unibanco foram cortadas pela corretora americana de "performance de mercado" para "abaixo da performance de mercado".
"Uma vitória [de Lula] no primeiro turno aumenta significativamente os riscos de esses bancos se tornarem "a principal variável de ajuste" da política monetária
de gerenciamento da dívida do novo governo", afirmou a corretora em uma nota.
Outro motivo citado pela Goldman para o rebaixamento foi a declaração de Lula de que, se eleito, tirará Armínio Fraga da presidência do BC. "O PT tem gente da mais alta qualidade", disse Lula.
A presença de Armínio no cargo é considerada pela corretora como "uma das âncoras da estabilidade do atual governo".
Colaboraram a Redação e as agências internacionais
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