São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2004

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"Apenas crise justificaria novo acordo com FMI"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Neste trecho da entrevista à Folha, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, fala sobre crescimento da demanda, câmbio, contas externas, autonomia do Banco Central e o acordo com o FMI.
 

Folha - Apesar da estabilidade do dólar [a moeda acumula desvalorização de 1,07% neste ano, cotada a R$ 2,871], a balança comercial registrou, até agora, um bom desempenho em 2004 [o superávit acumulado no ano está em US$ 23,969 bilhões]. Será que a atual cotação do dólar é adequada ou não estaria na hora de o governo atuar, por meio do Banco Central ou do Tesouro Nacional, para elevar o valor da moeda?
Meirelles -
O Banco Central não tem uma meta de taxa de câmbio, tem uma meta de inflação. E um Banco Central de sucesso tem apenas uma meta, não trabalha com mais de uma meta, porque elas podem ser incompatíveis num determinado momento.

Folha - Os números das contas externas mostram que o Brasil conseguiu reduzir sua vulnerabilidade [a conta de transações correntes -que inclui todas as negociações de bens e serviços com outros países- acumulou, nos últimos 12 meses, um saldo positivo recorde de US$ 9,536 bilhões, valor equivalente a 1,77% do PIB (Produto Interno Bruto)]. Já está na hora de o país caminhar sem a tutela do FMI (Fundo Monetário Internacional) ou a prorrogação do acordo seria o caminho mais natural?
Meirelles -
A nossa expectativa é não renovar [o acordo com o Fundo]. A hipótese de uma grande crise internacional é que pode justificar a manutenção do acordo, mas não estamos vendo a possibilidade dessa crise.
A economia do país está forte, todos os indicadores são positivos, o que faz o Brasil ter condições de encerrar amigavelmente seu período de acordos com o FMI.

Folha - O governo chegou a anunciar o envio da proposta de autonomia do Banco Central ao Congresso, mas, por falta de consenso, adiou. O governo desistiu da autonomia do BC?
Meirelles -
Pelas indicações que nós temos tido, o governo continua acreditando que a autonomia é uma questão a ser encaminhada ao Congresso no devido tempo. É uma decisão do presidente, do governo.

Folha - O sr. sofreu várias acusações, recentemente, de irregularidades em sua declaração de Imposto de Renda, no seu patrimônio, em movimentações financeiras realizadas nos Estados Unidos. Algo estava errado em sua situação bancária e fiscal?
Meirelles -
Bem, passei por um período estressante, mas agora me parece que, do ponto de vista institucional e pessoal, eu me sinto mais forte e tranqüilo do que antes de entrar nesse processo. Tentou-se procurar acusações de todas as formas, para desestabilizar a pessoa, e não conseguiram localizar absolutamente nada de substância.


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