|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Projeto exclui Brasil de ajuda dos EUA
Proposta apresentada no Congresso americano tira país de sistema de benefícios comerciais a nações em desenvolvimento
Fiesp e empresários viajam a Washington para fazer lobby pela manutenção no sistema; país exportou em 2005 pelo SGP US$ 3,6 bi
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Um projeto de lei apresentado
por um congressista exclui o Brasil do SGP (Sistema Geral de Preferências), um programa de exportação que concede vantagens
comerciais a países e produtos de
nações em desenvolvimento. Segundo proposta do republicano
Bill Thomas, ficam fora do acordo países que tenham renda per
capita maior que US 3.400 ou
com um produto que responda
sozinho por mais de US$ 1,5 bilhão
de exportações pelo SGP.
O Brasil se encaixa na primeira
categoria. Segundo dados do ano
passado do Banco Mundial, a
renda per capita do brasileiro foi
de US 3.460. No total, o país exportou US 3,6 bilhões -ou 15%
do total vendido aos EUA- pelo
sistema em 2005. Caso a lei seja
aprovada, um dos setores mais
atingidos será o de autopeças. Estudo encomendado pela Fiesp
calcula em 20 mil o total de empregos perdidos no geral.
O SGP expira em 31 de dezembro e sua renovação deve ser
aprovada com modificações pelo
próximo Congresso norte-americano. O comando do Legislativo
tem boas chances de passar para
as mãos da oposição democrata
nas eleições de novembro. Enquanto isso, o presidente tem poderes para prorrogar o acordo, e
o governo de George W. Bush é a
favor da renovação, mas está no
meio de uma revisão que caminha para excluir ou pelo menos
diminuir o acesso de grandes países beneficiários, como o Brasil.
O cerne do projeto de lei do representante Thomas, presidente
do comitê de Meios e Procedimentos, que cuida de impostos e
gestão orçamentária, é estender o
benefício por mais dois anos e incluir países pobres, principalmente da África. Detalhes da lei,
no entanto, feitos sob medida para excluir Brasil e Índia, impedem
boa parte de exportadores dos
dois países de utilizar o acordo.
Charles Grassley, presidente do
comitê de Finanças, equivalente
de Bill Thomas no Senado, foi
ainda mais duro. Para o republicano do Iowa, representante da
bancada rural conservadora, as
regras propostas por seu colega
californiano não são suficientes.
Grassley não acha que Brasil e Índia devam continuar se beneficiando do sistema, ponto final.
"Só vou considerar agir por uma
extensão do acordo se os EUA excluírem os dois países."
Reação
O potencial desfecho negativo
fez com que o Brasil detonasse
uma ofensiva para a manutenção
do SGP nos atuais termos, comandado pelo embaixador do
país nos EUA, Roberto Abdenur.
"Não sou pessimista", disse ele
à Folha. "Acho que o cenário de
uma exclusão do Brasil é improvável." Dele discorda Joel Velasco, vice-presidente da Stonebridge International de Washington,
que representa algumas multinacionais com negócios no Brasil:
"A indústria brasileira terá de lutar forte em Washington. Só fazer
discurso não garantirá vitória".
O fato é que, na semana passada, a Fiesp e uma delegação de
empresários brasileiros e americanos com negócios no Brasil
viajaram a Washington. O grupo,
batizado de Comissão de Renovação do SGP, já com escritório
na capital, foi recebido pelos comitês de Thomas e de Grassley.
Os empresários falaram com 19
parlamentares e representantes
dos departamentos de Estado e
de Comércio, do Tesouro e do
USTR, o escritório do Comércio
Exterior dos Estados Unidos..
O site deste órgão, aliás, sofreria
uma verdadeira "blitzkrieg" do
empresariado nacional interessado no SGP. É que uma das regras
anunciadas pela titular do USTR,
Susan Schwab, quando comunicou a revisão do atual acordo, era
um sistema de consultas públicas
em que interessados em mudanças ou na manutenção do SGP
poderiam enviar e-mails com
seus pontos de vista. Entre os 15
países que responderam ao apelo,
o domínio absoluto é do Brasil.
Foram 210 comentários, seguidos por 172 da Índia e 113 da Tailândia -não por acaso, os três
países que seriam os mais afetados pela extinção do acordo. Nas
manifestações brasileiras, há de
tudo um pouco, muita coisa sem
revisão. Há uma carta da rede
Home Depot que traz a versão
confidencial com as últimas alterações feitas para a versão pública
-ambas foram colocadas no ar.
Texto Anterior: Banda larga: Anatel quer solução rápida em leilão de internet Próximo Texto: Brasileiros roubam vagas, diz sindicato Índice
|