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Economistas criticam lógica do plano
Analistas como Rogoff vêem "idiossincrasia" no preço dos títulos lastreados por hipotecas que pode dificultar negociação
Para Raghuram Rajan, da Universidade de Chicago, "adquirir ativos ao preço deprimido de mercado que existe agora não ajudará"
Tim Sloan/Associated Press
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Bush (centro) e os candidatos John McCain (esq.) e Barack Obama (dir.) em reunião com líderes do Congresso na Casa Branca
KRISHNA GUHA
DO "FINANCIAL TIMES"
Quando o secretário do Tesouro, Hank Paulson, expôs pela primeira vez a lógica de seu
plano de resgate de US$ 700 bilhões, ele o fez nos seguintes
termos: os títulos lastreados
por hipotecas e sem liquidez estão "congestionando nosso sistema financeiro" e sufocando o
fluxo de crédito. Ao remover
esses ativos indesejados, o governo permitiria que os ativos
dos bancos ganhassem liquidez, que as instituições limitassem seus prejuízos, levantassem capital novo e voltassem a
emprestar normalmente.
O raciocínio não demorou a
ser contestado por importantes
economistas e figuras de Wall
Street. "O verdadeiro problema
é que o setor financeiro tem
muito pouco capital", disse Raghuram Rajan, da Universidade
de Chicago. "Adquirir ativos ao
preço deprimido de mercado
que existe agora não ajudará."
Caso isso acontecesse, as instituições talvez tivessem de
promover redução ainda maior
de seu capital, a depender de
sua agressividade em contabilizar por valor de mercado as
suas carteiras de ativos, até o
momento, e isso alimentaria
um ciclo vicioso de vendas forçadas que poderiam deprimir
ainda mais o preço dos ativos.
O presidente do Fed, Ben
Bernanke, respondeu que o objetivo do plano era adquirir ativos a valores superiores ao de
seu atual preço de mercado deprimido. Ao fazê-lo, estabeleceria novo conjunto de preços de
mercado, contendo a onda de
prejuízos ligados à contabilização de ativos pelo valor de mercado e potencialmente permitindo a alguns bancos uma recapitalização contábil, aliviando a compressão de crédito.
Bernanke argumentou que
era um erro fundamental imaginar que um ativo tenha apenas um preço de mercado. Os
títulos lastreados por hipotecas
indesejados têm pelo menos
dois preços diferentes: um
"preço de venda forçada" e um
preço de "retenção até o vencimento", baseado em caixa.
Um programa bem planejado
poderia explorar a diferença
entre esses dois preços para
ajudar a recapitalizar os bancos
a custo baixo, se algum, para o
contribuinte, explorando as
normas contábeis que determinam que ativos sejam contabilizados por valor de mercado
para criar um ciclo virtuoso, em
lugar de um ciclo vicioso.
Bernanke afirmou que o plano de US$ 700 bilhões estabeleceria o preço ao qual os vendedores que não estivessem em
apuros venderiam seus ativos a
um comprador que não precise
se preocupar com o risco de liquidez e a aversão generalizada
do mercado a riscos: o governo.
O preço seria mais alto que o
atual preço de venda forçada, e
isso conduziria a uma atualização nos valores dos ativos que
fortaleceria o sistema mas a
preços inferiores ao valor esperado dos títulos em termos de
fluxo de caixa, o que garantiria
proteção ao contribuinte.
Em meio às reações políticas
adversas ao plano, o comandante do Fed se viu forçado a
esclarecer que não estava sugerindo que o governo pagasse
mais do que devia pelos papéis.
Mas isso não altera de maneira alguma a sua lógica, já que o
preço de mercado que existiria
quando o fundo de US$ 700 bilhões estivesse em operação seria maior que o preço de venda
forçada vigente sob as condições atuais, que permitem a
vendedores em dificuldades fazer transações só com compradores privados cujas ações estão restritas pela aversão a riscos e pela falta de liquidez.
Caso o plano funcione, as
compras de títulos pelo governo criariam informação sobre
os preços dos ativos e catalisariam compras de parte das entidades do setor privado dotadas
de capital para investir, já que
elas não teriam mais um incentivo para esperar por novas
vendas forçadas de ativos.
Mas isso presume que as precondições impostas quanto a
salários de executivos e participações acionárias governamentais não sejam proibitivas a
ponto de atrair apenas os vendedores em dificuldades.
Além disso, há economistas
que contestam até mesmo a
versão de Bernanke para o argumento. Ken Rogoff, professor de Harvard, diz que o problema é que os títulos lastreados por hipotecas "são altamente idiossincráticos".
Dado o fator que os economistas designam "informação
assimétrica" (o vendedor conhece mais sobre os papéis do
que o comprador), o governo
poderia terminar pagando mais
que o valor de vencimento, ou
de fluxo de caixa, dos títulos
que adquirir e isso causaria
prejuízos aos contribuintes.
Simon Johnson, do MIT, diz
que seria melhor adotar processo em dois estágios no qual o
governo inicialmente adquiriria ativos sem liquidez a um
preço determinado por ofertas
privadas e depois recapitalizaria os bancos, como necessário,
de maneira transparente.
Além disso, é discutível que o
processo de formação de preço
adotado nos leilões do governo
gere muita informação por causa da grande diferença entre os
títulos.
Para que o plano realmente
funcione, o governo teria de desenvolver um novo e efetivo vocabulário para padronização
dos títulos lastreados por hipotecas. Isso pode parecer simples, mas o setor privado está
tentando há um ano.
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