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Bric leva 5% mais no FMI e Lula festeja
Brasil, Rússia, China e Índia queriam mais 7% no Fundo, mas G20 concede menos e deixa para mais tarde os detalhes
Documento final diz que G20 se torna "1º fórum" de cooperação econômica global e que estímulos ainda são necessários contra crise
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PITTSBURGH
O Brasil e seus parceiros no
Bric (Rússia, Índia e China)
queriam uma transferência de
7% nas cotas do FMI (Fundo
Monetário Internacional) dos
países ricos para os emergentes
e em desenvolvimento e saíram
com "pelo menos 5%", mas o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva festejou: "Foi uma vitória
extraordinária".
Pode até ser, pela imensa dificuldade na negociação (veja
texto à pág. B4), mas significa
na prática que o poder de fogo
dos países emergentes/em desenvolvimento passará a ser de
apenas 45%, grosso modo, ante
55% dos ricos, em vez do empate meio a meio que ocorreria
com os 7%.
Além disso, na reforma do
Banco Mundial, o Bric queria
uma troca de 6% das cotas dos
ricos para os emergentes/em
desenvolvimento. Levaram a
metade.
Além disso, a formulação do
comunicado final da cúpula do
G20 encerrada ontem em Pittsburgh joga para a frente a negociação dos detalhes, conforme
admite um dos mais importantes negociadores brasileiros.
Diz: "Estamos comprometidos
com uma mudança na fatia das
cotas do FMI para mercados
emergentes dinâmicos e países
em desenvolvimento de ao menos 5% de países sobrerrepresentados para países subrrepresentados usando a atual fórmula de cotas como base para
trabalhar".
Fica, portanto, para novas
negociações definir se há países
emergentes também sobrerrepresentados, caso em que teriam que ceder cotas, como há
um país europeu (a Espanha)
subrrepresentado, sem contar
o fato de que o conceito de "países emergentes dinâmicos" é
suficientemente vago para que
surjam vários candidatos à redistribuição.
Comunicado final
De todo modo, o comunicado
final adotou um tom de grandiloquência, à beira da euforia:
"Reunimo-nos no meio de uma
transição crítica para a recuperação para virar a página de
uma era de irresponsabilidade
e adotar um conjunto de políticas, regulações e reformas para
enfrentar as necessidades da
economia global do século 21".
Por partes: os líderes reconhecem que ainda não se chegou à recuperação, ao dizerem
que se está em transição para
ela, até porque afirmam também que, "em muitos países, o
desemprego permanece inaceitavelmente alto" e que "as condições para uma recuperação
da demanda privada ainda não
estão totalmente dadas".
Por isso mesmo, jogaram para "o momento certo" no futuro
"a retirada de nossa extraordinária política de apoio de uma
maneira coordenada e em cooperação".
Quando mencionam o conjunto de políticas para o século
21, referem-se à proposta norte-americana, recolhida só no
nome no documento final
("Moldura para Crescimento
Forte, Sustentável e Equilibrado").
Como a Folha informou ontem, essa moldura será discutida no G20, em vez de no FMI,
como queriam os Estados Unidos, e a discussão não terá caráter intrusivo. "Não haverá ingerência em nenhum país.
Nunca deu certo", resumiu o
presidente Lula.
O G20 foi designado como
"primeiro fórum para nossa
cooperação econômica internacional". A palavra fórum é
eloquente: o grupo não determinará políticas nem sanções,
mas claramente substitui o G8
no gerenciamento da política
econômica global.
No capítulo regulação, há um
longo caminho a andar para
que se possa dar por encerrada
a "era da irresponsabilidade": o
G20 adotou o conjunto de propostas já aprovadas pelo FSB
(Conselho de Estabilidade Financeira, na sigla em inglês) há
três semanas. De fato, preveem
aumentar o capital próprio dos
bancos, para evitar o excesso
de alavancagem que foi uma
das marcas da "irresponsabilidade". Preveem igualmente limitar a remuneração dos agentes financeiros, mas os detalhes, que são críticos nesse assunto, ficaram para 2010.
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