São Paulo, sábado, 26 de setembro de 2009

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Governo deve adiar anistia para dinheiro que está no exterior

Se for aprovado, projeto não será vetado por Lula, mas regulamentação não sairá antes das eleições

VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo não pretende se posicionar oficialmente sobre o projeto de repatriação de capitais enviados ilegalmente ao exterior. Se ele for aprovado, contudo, o presidente Lula não deverá vetá-lo, mas também não irá regulamentá-lo antes da eleição do próximo ano.
Segundo a Folha apurou, o governo avalia que a ideia não é ruim e já foi defendida publicamente por ministros, mas hoje enfrenta dois complicadores para ser posta em prática: a valorização do real e as suspeitas de que poderia ser usada para trazer dinheiro ilegal para a campanha eleitoral.
O primeiro ponto é o que mais preocupa o governo. Defendida antes pelo ministro Guido Mantega (Fazenda) num momento de escassez de dólares na economia brasileira, hoje sua equipe teme que a medida fortaleça o processo de desvalorização cambial.
Atualmente, a Fazenda tem debatido o que fazer para reduzir a valorização do real, que tem prejudicado as exportações. Segundo um assessor de Mantega, o objetivo do governo no momento é "mais manter dólar lá fora do que atraí-lo".
Isso não significa, porém, que a Fazenda não apoie a medida, mas que é contra sua implementação neste momento. O ideal seria aprovar o projeto e segurar sua regulamentação, para ser colocada em prática no momento mais adequado.
As suspeitas de que dinheiro ilegal poderia vir a financiar políticos no próximo ano também preocupa, mas a avaliação dentro do governo é que os textos em tramitação no Congresso contêm dispositivos que devem inibir esse movimento -como proibir pessoas ou empresas com processo na Justiça por evasão de divisas de se beneficiar da medida.
Hoje, há dois projetos sobre o tema em tramitação no Congresso. Depois de quatro anos parado, o projeto do deputado José Mentor (PT-SP) foi aprovado na Comissão de Finanças da Casa, principal fase de análise de mérito na tramitação. O outro é de autoria do senador Delcídio Amaral (PT-MS), ainda sem data para ser votado.
Os dois preveem a cobrança de impostos para pessoas físicas e jurídicas que optem por legalizar recursos depositados ilegalmente no exterior. O argumento principal é que não se pode deixar capital brasileiro parado no exterior. O texto prevê anistia para sonegação fiscal e evasão de divisas, e exclui acusados de terem obtido o recurso a partir de tráfico, terrorismo, pornografia infantil, improbidade administrativa, extorsão e outros crimes.
O projeto de Mentor sofreu alterações e foi aprovado fixando imposto de 10% para o capital que voltar, obrigando-o a ficar no Brasil, aplicado em títulos públicos, pelo prazo mínimo de dois anos. Se o contribuinte deixar o dinheiro no exterior, pagará 15% de imposto.


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