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LUÍS NASSIF
A estratégia para
enfrentar a Alca
O seminário sobre a Alca
(Área de Livre Comércio
das Américas) realizado pela
Câmara dos Deputados marca o
início efetivo do envolvimento
de todos os setores nacionais na
discussão sobre acordos comerciais. Foi um ato importante do
presidente da Câmara, deputado Aécio Neves, e do deputado
Marcos Cintra.
O que está ocorrendo hoje são
ações isoladas, sem nenhuma
coordenação maior e sem envolvimento das partes interessadas.
Há dois tipos principais de personagens envolvidos nessa história. Na linha de frente, há os
negociadores -em geral, egressos do Itamaraty. Na linha de
trás, os setores econômicos (empresários e trabalhadores) que
serão diretamente afetados, positiva ou negativamente, pelas
negociações.
Processos desse tipo exigem
negociações caso a caso, exigem
que se entenda o que se está perdendo ou ganhando em cada setor, para poder negociar o todo.
O setor produtivo está ausente
do processo. Há pouca mobilização de empresários e sindicalistas, que acabam se escudando
em uma posição defensiva genérica. Essa alienação entregou
um superpoder nas mãos dos
negociadores, cujo exemplo
mais patente foi a manifestação
da doutora Vera Thorstensen
na mesa de encerramento do seminário.
Pensador refinado da diplomacia brasileira, o embaixador
do Brasil em Paris, Marcos
Azambuja, reconhece que longe
se vão os tempos em que o Itamaraty era o único braço internacional e modernizador do
país. O Brasil tornou-se economia sofisticada, e o grande papel da diplomacia brasileira é se
inserir na sociedade civil, conversar, se integrar e entender
suas reais necessidades.
Egressa da FGV-SP, negociadora competente, membro da
missão brasileira na OMC, dona Vera defendeu a curiosa tese
de que, sendo especialistas em
negociações, tendo sentado à
mesa de diversas rodadas comerciais, os negociadores são os
únicos aptos a negociar. Ótimo!
Negociadores são insubstituíveis nas negociações, como pilotos são insubstituíveis para pilotar aviões. Eles sabem "como"
negociar. "O que" negociar é algo que vai além de suas atribuições, como definir a rota do
avião não é papel do piloto. Para saber "o que" negociar, exige-se conhecimento sobre o objeto
a ser negociado e mandato para
tal. E objeto a ser negociado não
são descrições setoriais vagas
nem conceitos no vazio (tipo
"toda abertura comercial é
boa", ou seu oposto, "toda abertura comercial é ruim"), mas
amplo conhecimento sobre as
condições nas quais opera cada
setor brasileiro no tema a ser
tratado.
Na mesma mesa, com a fria
objetividade que caracteriza o
pensamento norte-americano, o
dr. Peter Hakim, reputado presidente da Inter-American Dialogue, descreveu em minúcias o
papel do Congresso norte-americano e o jogo de forças que influi na posição dos parlamentares. Deputados liberais tornam-se protecionistas quando entram em jogo os interesses de
seu distrito, e vice-versa. O que
abre uma nova linha estratégica, que é a exploração das divergências internas dos países com
quem se negocia.
Posto isso, que os negociadores
baixem a crista -por justiça,
saliente-se que essa postura não
é generalizada entre os negociadores brasileiros- e que os setores da economia levantem a voz
e participem.
Há um hábito tipicamente latino-americano de entrar nessas
negociações brandindo conceitos genéricos. Esses conceitos
têm que ser transformados em
propostas concretas, caso a caso.
É trabalho muito mais complexo do que a mera formulação
genérica.
Para tanto impõe-se a exigência de um fórum institucionalizado que defina claramente o
papel de cada parte. Os negociadores trazem suas informações
acerca das estratégias e dos limites das negociações. O setor produtivo -associações empresariais e sindicatos- define claramente seus interesses. Desse conhecimento recíproco dependerá o sucesso das negociações.
Internet: www.dinheirovivo.com.br
E-mail: lnassif@uol.com.br
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