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LUÍS NASSIF
O avalista da transição
Há cerca de um ano, em
um programa "Roda Viva", na TV Cultura de São Paulo, o presidente do PT, deputado
federal José Dirceu, apresentou
as linhas gerais da estratégia
para trazer o partido para o
centro e conquistar o poder no
país. A partir desta segunda-feira, com a estratégia provavelmente vitoriosa, Dirceu desponta como um dos grandes avalistas da transição.
Na época, era longínqua a
perspectiva do PT vencer as eleições presidenciais. Lula demonstrava desânimo com a
possibilidade de uma nova campanha e uma nova derrota e a
crise cambial de 1999 havia deflagrado processo de radicalização geral do país, que acabou
afastando o partido da trajetória centrista que vinha perseguindo.
Há três momentos na vida de
um partido. A fase inicial, de
criação; a fase de consolidação e
a fase em que se prepara para se
tornar poder. Aparentemente o
PT começou a se preparar para
a terceira fase por aqueles dias
em que Dirceu foi entrevistado
pelo "Roda Viva".
É um projeto que passava por
três etapas: consolidar o poder
dentro do PT, segurando seus
radicais; vencer as eleições e assegurar a governabilidade. As
duas primeiras foram cumpridas com uma eficiência raras
vezes vista na moderna história
política brasileira. O grupo de
centro venceu as eleições internas do partido. Eleito presidente, Dirceu passou como uma
motoniveladora sobre os radicais, ajudando a consolidar o
poder dos moderados sobre o
partido.
A segunda etapa da estratégia
-convencer os setores de fora
do partido das mudanças ocorridas- começou no primeiro
semestre, pouco antes do início
da campanha. Montou-se a assessoria econômica, indicaram-se os porta-vozes, disciplinou-se
o discurso e o próprio Dirceu
passou a circular entre empresários, agentes do mercado, banqueiros internacionais. O PT
passou a se dar conta da gravidade da crise e da importância
de não brincar em serviço. E
gradativamente foi convencendo os interlocutores de que as
mudanças internas não eram
meramente táticas, mas representavam processo profundo em
direção ao centro.
O discurso foi se impondo sobre as dúvidas e, na medida em
que clareava, provocava movimentos das alas mais radicais,
que começam a se organizar em
bloco, tornando mais nítida a
imagem do PT aos de fora.
Em determinado momento,
aqui mesmo supus que o fracasso de um projeto moderado poderia levar o grupo de Dirceu a
uma aliança tática com os radicais. A campanha do segundo
turno ajudou a clarear melhor
as posições. Ficou claro que a
aposta na moderação dificilmente terá volta. O sucesso do
atual grupo hegemônico do PT
está umbilicalmente ligado ao
sucesso da estratégia de coalizão.
A partir desta segunda-feira, o
destino do partido deverá estar
ligado ao destino do país. Há
um enorme desafio econômico
pela frente, de cujo desfecho dependem os desdobramentos políticos das eleições. Vencido o
desafio, parece claro que se terá
um PT assumindo de forma cada vez mais nítida a social-democracia, disputando esse espaço com o PSDB, e os núcleos
mais à esquerda se aliando a
movimentos populares (tipo
MST) para a constituição de um
partido de ultra-esquerda.
Não está claro ainda como se
comportará Lula nesse jogo político, mesmo porque ele não
tem perfil para papéis decorativos. Lula é um sujeito determinado, cujo estilo de política é
não permitir que nenhum assessor se sinta suficientemente poderoso.
Em estando na cadeira de presidente, será inevitável render-se ao personalismo que não
poupa nem professores PhDs. Se
o porre da vitória durar pouco e
ele se efetivamente tiver sido
conquistado para a causa da
moderação, a transição política
no país será vitoriosa.
E-mail -
LNassif@uol.com.br
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