São Paulo, sábado, 26 de outubro de 2002

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AUTOMÓVEIS

Desvalorização do real e do peso eleva prejuízos na região; presidente da empresa diz que tem "plano final"

Ford dá "última chance" à América do Sul

JEREMY GRANT
DO "FINANCIAL TIMES", EM CHICAGO

A Ford Motor Company sinalizou ontem que um plano de negócios para restaurar a saúde de suas problemáticas operações na América do Sul seria a última chance para a sobrevivência delas.
Bill Ford, presidente e executivo-chefe do grupo, disse que a Ford estava agora em seu "quinto plano final" para a região, onde os prejuízos da empresa se agravaram acentuadamente no terceiro trimestre, depois de anos de fraco desempenho.
"Se o plano funcionar, acredito que teremos um projeto de negócios viável para a América do Sul. Se não, suspeito que não teremos um novo 'plano final'", disse.
"Essa é realmente a nossa melhor tentativa de entender como as coisas funcionam por lá [na América do Sul]", disse Ford a analistas em um evento.
A Ford emprega cerca de 12,5 mil trabalhadores em quatro fábricas no Brasil, três na Argentina e uma na Venezuela. As unidades produzem carros, vans e componentes para os mercados desses países. No total, o grupo tem 110 fábricas no mundo.

Prejuízo
Os prejuízos das operações sul-americanas da Ford no terceiro trimestre foram de US$ 138 milhões, ante US$ 56 milhões no mesmo período de 2001, em larga medida devido à desvalorização do real brasileiro e do peso argentino, que cancelaram os ganhos de desempenho que a empresa obteve em termos de custos.
Como muitas outras montadoras estrangeiras, a Ford vem lutando há anos para obter lucros na América do Sul e fez numerosas reestruturações para tentar tirar suas operações do vermelho.
As montadoras de automóveis têm de enfrentar as condições econômicas debilitadas da região, bem como mudanças súbitas nas políticas governamentais quanto à inflação e aos déficits públicos.
A Ford não obtém lucros anuais no continente desde a dissolução da joint venture com a Volkswagen, em 94 (a Autolatina).
Em 2001, a fatia combinada de mercado para carros e caminhões leves da Ford no Brasil -seu maior mercado na região- caiu em 1,3% em relação ao ano anterior, para 7,8%. Na Argentina, a queda foi de 0,6% em 2001 na comparação com 2000, para 14,3% do mercado daquele país.
Em maio, a Ford iniciou a produção do modelo Fiesta em uma fábrica na Bahia. O carro ajudou a elevar a fatia de mercado da Ford no Brasil para 11,3% em agosto, ante 6,6% no mesmo mês de 2001.
A direção da Ford diz que o mais recente plano de negócios, recentemente aprovado pelo conselho, envolve usar a fábrica da Bahia para exportação, em busca de "estabilidade cambial".
A Ford, que está no décimo mês de uma penosa reestruturação ao custo de US$ 9 bilhões, investiu US$ 1,2 bilhão na fábrica da Bahia, na cidade de Camaçari, inaugurada em outubro do ano passado.
"Apesar do turbulento ambiente econômico, a nossa participação de mercado e as exportações têm crescido, os custos caíram e o volume de vendas necessário para atingirmos o equilíbrio financeiro tem diminuído. Esses resultados nos deixam confiantes no futuro na América do Sul", afirmou Richard Canny, presidente das operações da Ford no continente.


Colaborou a Reportagem Local


Tradução de Paulo Migliacci

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