UOL


São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TRABALHO

Desde janeiro, cerca de 500 mil vagas foram criadas fora das regiões metropolitanas em nove Estados brasileiros

Exportações levam empregos ao interior


CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCA

Apesar de o Brasil enfrentar uma das maiores taxas de desemprego de sua história, aumenta o número de vagas com carteira assinada no interior do país.
Crescimento das exportações agrícolas, fiscalização mais intensa e incentivos fiscais resultaram na expansão de empregos nas áreas não pesquisadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que só acompanha a variação do emprego em seis regiões metropolitanas do Brasil.
No interior de nove Estados foram abertos 497.347 postos de trabalho de janeiro a setembro deste ano, enquanto nas regiões metropolitanas dessas mesmas áreas foram criadas 153.107 vagas -menos de um terço. Os postos de trabalho criados no interior desses Estados representam quase 60% do total de vagas abertas no país no período.
Esses números são do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), um dos indicadores do Ministério do Trabalho que medem o emprego formal. Isso é feito a partir de informações sobre admissões e demissões que as empresas têm de enviar mensalmente ao governo.

Sem pesquisas
Não há pesquisas mensais para avaliar o comportamento do emprego no interior do país. Por isso, as informações do Caged despertaram a atenção de quem estuda o mercado de trabalho.
Desde 2000, o interior se destaca na criação de vagas com carteira assinada na comparação com as regiões metropolitanas. Só que, neste ano, o número de vagas abertas no interior (saldo entre admissões e demissões ou desligamentos) já é três vezes maior do que o criado nas áreas urbanas.
De nove Estados -Pará, Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul- nos quais o Caged obtém informações de emprego, só dois -Ceará e Rio- registraram, de janeiro a setembro deste ano, maior aumento de vagas nas regiões metropolitanas. Nos outros sete Estados, o interior estimulou o aumento do emprego formal.
O crescimento de postos de trabalho com carteira assinada no interior do Brasil neste ano surpreendeu até mesmo o governo, que já estuda a possibilidade de realizar pesquisas para medir o mercado de trabalho -formal e informal- nessas regiões.
O ministro do Trabalho, Jaques Wagner, já admitiu que é uma falha não acompanhar o mercado de trabalho no interior e que é preciso viabilizar recursos para estender as pesquisas para as cidades mais distantes. Até porque apenas 28% dos 78 milhões de trabalhadores no país têm carteira assinada, segundo dados da Pnad (Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios) de 2002.
"O dinamismo do interior, a partir dos dados do Caged, nos surpreendeu e nos colocou uma questão: as taxas de desemprego do país verificadas em algumas regiões metropolitanas mostram o que acontece de fato no Brasil?", questiona Rosane Maia, coordenadora do Observatório do Mercado de Trabalho do ministério.
A partir dos dados do Caged, técnicos do ministério entendem que o emprego formal no interior subiu mais que nas regiões metropolitanas porque: 1) a agricultura, puxada especialmente pelas exportações, se tornou um dos setores mais ativos da economia e acabou levando outras empresas (como a de fertilizantes) para as regiões agrícolas; 2) as indústrias estão levando suas fábricas para o interior porque o custo é menor e porque as regiões metropolitanas já estão saturadas; 3) o governo Lula intensificou a fiscalização no interior, especialmente nas áreas rurais, o que resultou no aumento do número de carteiras assinadas; 4) os incentivos fiscais para uma empresa se instalar no interior também são, na maioria das vezes, mais atraentes do que os oferecidos nos grandes centros.

Destaques
O interior de São Paulo, de Minas Gerais e do Paraná lidera o ranking de criação de vagas formais neste ano. Nessas regiões foram abertas 249,6 mil, 85,3 mil e 72,9 mil vagas, respectivamente.
Os setores que puxaram o emprego foram agricultura, pecuária, indústrias de alimentos e bebidas e álcool, calçados, comércio varejista e serviços (imóveis, transportes e comunicações).


Texto Anterior: Painel S.A.
Próximo Texto: IBGE e Fundação Seade buscam recursos para estender pesquisas
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.