|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OLHAR ESTRANGEIRO
Sem capital privado, país sofre com gargalos de infra-estrutura
Brasil pode ter apagão, diz jornal inglês
JONATHAN WHEATLEY
DO "FINANCIAL TIMES"
Os investidores estão otimistas
quanto às perspectivas de crescimento econômico no Brasil neste
ano. O mais recente consenso do
mercado é o de que o PIB (Produto Interno Bruto) se expandirá em
mais de 4,5%, bem acima da meta
de 3,5% definida pelo governo no
começo de 2004.
Mas crescem as preocupações
quanto à possibilidade de que a
envelhecida infra-estrutura do
país não suporte o ritmo. Neste
mês, a ONS (organização conjunta do setor público e privado cuja
missão é fiscalizar o setor de eletricidade) alertou de que o país
poderá ter escassez de energia a
partir de 2008. O último período
de escassez aconteceu em 2000/
2001, um momento em que a economia também vinha crescendo à
razão de 4,5%. O racionamento
de eletricidade pôs fim ao bom
momento, e o crescimento anual
médio está em 1% desde então.
A consultoria Tendências, de
São Paulo, diz que o setor de eletricidade precisa de investimentos da ordem de R$ 20 bilhões
(US$ 7 bilhões) ao ano, pelos próximos dez anos, para acompanhar a demanda. O governo deve
arcar com um terço do total. Muitos grupos internacionais de energia que se arrependem dos pesados investimentos realizados no
Brasil no final dos anos 90 enfrentam problemas ainda maiores em
seus mercados de origem, e é improvável que cubram a diferença.
Fundos de pensão
A conclusão talvez pudesse ser a
de que as luzes começarão a se
apagar em breve. Mas existe um
vislumbre de esperança. Um motivo de otimismo é o interesse que
os fundos de pensão vêm demonstrando pelo setor. Eles são
exatamente a espécie de instituição, com seus compromissos de
longo prazo e a necessidade de
ativos de longo prazo, que deveria
ser vista como investidor natural.
Tradicionalmente, porém, vêm limitando os seus investimentos à
aplicação em papéis de dívida pública de curto prazo.
Isso começa a mudar. A taxa básica de juros do Banco Central
caiu de 26,5% no começo de 2003
para 16% no segundo trimestre
deste ano, ainda que um reaquecimento na inflação ao consumidor
a tenha devolvido aos 16,75%. Títulos públicos de rendimento
mais baixo e um aumento superior ao esperado nos índices de
preços do atacado, aos quais muitos fundos vinculam suas metas
atuariais de retornos, dificultaram a realização dos objetivos
dessas instituições neste ano.
Guilherme Lacerda, presidente
do Funcef (fundo de pensão da
Caixa Econômica Federal), diz
que quaisquer dificuldades são
estritamente de curto prazo e que
os papéis do governo continuam
a ser um investimento seguro. O
Funcef tem R$ 17 bilhões sob administração e dedica cerca de dois
terços de seu fundo aos títulos do
governo, com vencimento médio
de menos de quatro anos. Mesmo
que mantenha a fé nesse tipo de
papel, Lacerda diz que o fundo
vem trabalhando com afinco para
alongar a vida de seus ativos.
O Funcef, de fato, liderou a tendência no que tange ao investimento em títulos públicos de prazo mais longo. Neste mês, adquiriu R$ 200 milhões dos R$ 210 milhões em títulos emitidos pelo governo para vencimento em 2045.
Agora, a instituição está se preparando para procurar dinheiro
novo para a eletricidade. O Funcef
responderá por até um quarto do
capital de um fundo a ser lançado
nas próximas semanas pelo
BNDES, com o objetivo de arrecadar pelo menos R$ 600 milhões
para investimento em usinas termelétricas. O fundo também está
criando uma empresa com propósitos especiais, em parceria
com outros fundos de investimento, para adquirir equipamento de prospecção de petróleo.
Outros segmentos da infra-estrutura brasileira também precisam de investimento. Neste ano,
haverá um déficit de 20 milhões
de toneladas no sistema de transporte que conduz cargas aos portos do Sul, dizem os exportadores
de grãos. O Ministério do Comércio e Indústria diz que é preciso
criar capacidade para o transporte de 200 milhões de toneladas
adicionais ao ano, até 2007.
Uma fonte potencial de recursos é um novo fundo que será lançado pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). O
Brazil Infrastructure Investment
Fund planeja arrecadar R$ 1,5 bilhão, dos quais o banco fornecerá
R$ 75 milhões em capital básico.
PPPs
Iniciativas como essa não serão
o bastante sem outras medidas. O
governo espera que mais dinheiro
seja levantado por meio de uma
nova legislação que permite parcerias entre o setor público e o privado (as PPPs). Mas o potencial
das PPPs continua indefinido.
Os investidores também estão
preocupados com as intenções do
governo. Embora tecnocratas
afeitos ao liberalismo no BC e no
Ministério da Fazenda venham
pressionando por reformas que
abram mais o mercado, alguns investidores temem que ideólogos
próximos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva continuem a suspeitar da iniciativa privada.
Todos sabem que a necessidade
é a mãe da invenção. Poucos duvidam da necessidade de mais capital privado para a infra-estrutura
brasileira. E um caminho para isso começa a ser traçado.
Tradução de Paulo Migliacci
Texto Anterior: Opinião econômica - Benjamin Steinbruch: Muita estrada pela frente Próximo Texto: Outro lado: Governo nega risco de crise energética no país até 2008 Índice
|