São Paulo, terça-feira, 26 de outubro de 2004

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Maria da Conceição ataca diretoria do BC

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Crítica contumaz da política econômica liberal, a economista Maria da Conceição Tavares afirmou ontem no Rio que "não existe macroeconomia de esquerda" e que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tinha outra opção nessa área a não ser a do conservadorismo.
Ela não poupou, porém, a atual gestão do Banco Central, instituição que classificou de "fraca" e "ruim". Sem citar nomes, chamou os diretores do banco de "bando de falcõezinhos", "débeis mentais" e "ignorantes", que usam o prestígio adquirido no governo para depois voltarem ao mercado e fazerem fortunas.
Para Maria da Conceição, "a política macroeconômica não determina a natureza do regime". Tem de ser, segundo ela, conduzida de acordo com a situação fiscal e cambial do país. Sob essa ótica, disse, "não havia outro jeito" a não ser adotar uma política monetária conservadora, que, segundo ela, já foi utilizada em praticamente todos os governos anteriores do país, de Getúlio Vargas a Juscelino Kubitschek.
"A política macroeconômica depende da conjuntura cambial. Depende de credores internacionais e se o país está endividado", afirmou em entrevista, após participar do seminário Vargas e o Projeto de Desenvolvimento Nacional, promovido pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
O que determina a natureza de um regime, segundo a economista, são "as linhas maiores", como a política para a educação. O governo Lula se enquadra nesse caso, diz ela, por ter retomado o papel desenvolvimentista do BNDES. "O Lula barra [o neoliberalismo]. Volta ao que é natural [no Brasil], que é o BC cuidar da política monetária restritiva quando há inflação. E do outro lado tem o BNDES. Essa é a história do Brasil contraditório", disse.
Para ela, é "natural" ter na Fazenda e no BC pessoas com perfil conservador. O problema, na sua opinião, são os atuais ocupantes desses postos, especialmente no Banco Central. Ela não citou nomes. "Quem está sentado na Fazenda e no BC, em geral, é conservador. Daí a ser vendido, débil metal, ignorante, piranha financeira e fazer um rentismo [privilegiar os ganhos de capital, no lugar da produção] desvairado, as coisas mudam de figura."
Na visão dela, o BC passa por uma crise: "O nosso BC agora está mal. Está ruim. É um aparelho fraco. Foi dos aparelhos de Estado que mais sofreram deterioração".
Novamente sem explicitar nomes, Maria da Conceição criticou os diretores do BC. "São um bando de falcõezinhos, que nem sabem o que estão fazendo. Depois de passarem por lá, viram banqueiros. É uma vergonha".
Também disse que o atual cenário impede o uso de mecanismos de controle de fluxos externos de capitais. "Eu gostaria, mas acontece que toda a história foi de liberalização progressiva [do ingresso de capitais estrangeiros]. Não dá para chegar e dizer: "Agora eu fecho." Isso não se faz."


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