São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2008

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Débito em moeda estrangeira das empresas pode ultrapassar US$ 60 bi

DA REPORTAGEM LOCAL

A dívida em moeda estrangeira das empresas com ação em Bolsa pode ter passado de US$ 60 bilhões e aumentado para quase 40% a sua proporção em relação ao total do endividamento só com a correção cambial no terceiro trimestre.
Levantamento da consultoria Economática mostra que até junho essa dívida estava em US$ 51,875 bilhões -o equivalente, à época, a 35,3% do total de R$ 234,139 bilhões da dívida corporativa total. A Economática analisou 179 empresas, mas excluiu Vale e Petrobras.
Para cobrir essa dívida, as companhias abertas empenhavam, até junho, pouco mais de dois anos e meio do lucro operacional total, estimado, então, em R$ 88,42 bilhões anuais. Agora, essa "rolagem" pode levar três anos, nível considerado crítico especialmente em um período de desaceleração.
"É uma paulada muito séria para as empresas. O câmbio fez a dívida subir bastante. Começa a chegar em um nível preocupante", disse Fernando Exel, presidente da Economática.
"As empresas com dívida em dólar ficaram mais pobres. A gente espera que elas tenham instrumentos para conter isso, mas o hedge [proteção] cambial nunca é total e há setores em que ele se inviabiliza", disse Fabio da Paz, especialista em hedge empresarial do Ibmec-SP.
Entre os setores mais endividados em dólar, estão as empresas do setor elétrico e de telecomunicações, que costumam se financiar no exterior, mas têm um baixo patamar de hedge cambial natural por terem receitas apenas em reais.
No estudo, as distribuidoras e geradoras de eletricidade tinham dívidas de quase US$ 7,5 bilhões, enquanto as empresas de telecomunicações somavam outros US$ 7,8 bilhões.
Para administrar suas obrigações em dólar, as empresas de grande porte costumam contratar hedge com seus banqueiros. Normalmente, as companhias faziam uma estimativa de sua receita em dólar e de quanto deveriam pagar em juros -ou outras despesas- em moeda estrangeira.
A diferença -ou o descasamento entre receitas e despesas- é a exposição líquida das empresa. É para essa exposição que costumavam contratar o hedge, que tem um custo financeiro variável.
"A questão é que tivemos uma alavancagem para dar uma taxa de financiamento mais baixa. Essas operações que deram problema envolvem ou reduzir taxa [de juros] ou converter a exportação em um câmbio mais favorável. Por isso, a empresa ficou mais exposta do que precisava", disse Paz.
Algumas dessas empresas e seus acionistas estudam questionar na Justiça os contratos, alegando que não tiveram conhecimento do risco envolvido.
"Não acho razoável querer questionar os contratos. São empresas grandes, que estão acostumadas a fazer hedge. Se tivessem ganho, como ganharam no passado, iriam questionar também? Não acredito que esse tipo de questionamento prospere", disse o advogado José Eduardo Carneiro Queiroz, sócio do escritório Mattos Filho, que representa os bancos.


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