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Débito em moeda estrangeira das empresas pode ultrapassar US$ 60 bi
DA REPORTAGEM LOCAL
A dívida em moeda estrangeira das empresas com ação
em Bolsa pode ter passado de
US$ 60 bilhões e aumentado
para quase 40% a sua proporção em relação ao total do endividamento só com a correção
cambial no terceiro trimestre.
Levantamento da consultoria Economática mostra que
até junho essa dívida estava em
US$ 51,875 bilhões -o equivalente, à época, a 35,3% do total
de R$ 234,139 bilhões da dívida
corporativa total. A Economática analisou 179 empresas,
mas excluiu Vale e Petrobras.
Para cobrir essa dívida, as
companhias abertas empenhavam, até junho, pouco mais de
dois anos e meio do lucro operacional total, estimado, então,
em R$ 88,42 bilhões anuais.
Agora, essa "rolagem" pode levar três anos, nível considerado
crítico especialmente em um
período de desaceleração.
"É uma paulada muito séria
para as empresas. O câmbio fez
a dívida subir bastante. Começa a chegar em um nível preocupante", disse Fernando Exel,
presidente da Economática.
"As empresas com dívida em
dólar ficaram mais pobres. A
gente espera que elas tenham
instrumentos para conter isso,
mas o hedge [proteção] cambial
nunca é total e há setores em
que ele se inviabiliza", disse Fabio da Paz, especialista em hedge empresarial do Ibmec-SP.
Entre os setores mais endividados em dólar, estão as empresas do setor elétrico e de telecomunicações, que costumam se financiar no exterior,
mas têm um baixo patamar de
hedge cambial natural por terem receitas apenas em reais.
No estudo, as distribuidoras
e geradoras de eletricidade tinham dívidas de quase US$ 7,5
bilhões, enquanto as empresas
de telecomunicações somavam
outros US$ 7,8 bilhões.
Para administrar suas obrigações em dólar, as empresas
de grande porte costumam
contratar hedge com seus banqueiros. Normalmente, as
companhias faziam uma estimativa de sua receita em dólar
e de quanto deveriam pagar em
juros -ou outras despesas-
em moeda estrangeira.
A diferença -ou o descasamento entre receitas e despesas- é a exposição líquida das
empresa. É para essa exposição
que costumavam contratar o
hedge, que tem um custo financeiro variável.
"A questão é que tivemos
uma alavancagem para dar
uma taxa de financiamento
mais baixa. Essas operações
que deram problema envolvem
ou reduzir taxa [de juros] ou
converter a exportação em um
câmbio mais favorável. Por isso, a empresa ficou mais exposta do que precisava", disse Paz.
Algumas dessas empresas e
seus acionistas estudam questionar na Justiça os contratos,
alegando que não tiveram conhecimento do risco envolvido.
"Não acho razoável querer
questionar os contratos. São
empresas grandes, que estão
acostumadas a fazer hedge. Se
tivessem ganho, como ganharam no passado, iriam questionar também? Não acredito que
esse tipo de questionamento
prospere", disse o advogado José Eduardo Carneiro Queiroz,
sócio do escritório Mattos Filho, que representa os bancos.
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