São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2008

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Empresários prevêem menor demanda e estoques maiores

Pesquisa da Fiesp mostra que indústrias estão mais cautelosas com efeitos da crise

Índice de confiança do empresariado paulista na economia, que vai de zero a cem, marca 48,7 pontos, menor que a média nacional


FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Consulta com 243 indústrias feita pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) entre os dias 30 de setembro e 20 deste mês mostra que os empresários prevêem para os próximos seis meses retração de demanda, de compras de insumos e de empregos, além de aumento de estoques.
A falta de crédito para produzir, vender e exportar e o esfriamento da demanda mundial, como efeito da crise financeira internacional, tiraram o ânimo dos empresários, que já congelam investimentos e reavaliam neste momento a produção e o emprego para o ano que vem.
"A percepção vinda do exterior de que os mercados vão encolher abalou de forma desproporcional os empresários no país", afirma Paulo Francini, diretor titular do Departamento de Economia da Fiesp.
Na consulta feita aos empresários, o indicador para o item demanda atingiu 49 pontos, dez pontos abaixo da pontuação obtida na sondagem do segundo trimestre deste ano (59,1 pontos); para o item emprego, 47,5 pontos (ante 52,6 pontos no trimestre anterior) e, para o item compras de matérias-primas, 47,4 pontos (ante 57 pontos no trimestre anterior).
A sondagem da Fiesp também registra que os empresários prevêem que os estoques devem ficar acima do desejado nos próximos seis meses.
O indicador de sondagem da indústria vai de zero a cem pontos. Quanto mais próximo de 100, melhor o indicador. Variações da pontuação acima de 50, no entender da Fiesp, diz-se que o empresário está mais ou menos otimista. Abaixo de 50, mais ou menos pessimista.
O índice de confiança dos empresários paulistas na economia brasileira, de 48,7 pontos -pior do que o índice nacional-, é também o mais baixo desde o segundo trimestre de 2005 (49,1 pontos). O índice nacional no terceiro trimestre deste ano foi de 52,5 pontos, segundo a CNI (Confederação Nacional da Indústria).
"O que a gente observa é que de setembro para outubro houve uma mudança radical na economia brasileira. Até setembro, os indicadores de produção, emprego e crédito eram positivos. Essa situação virou de cabeça para baixo neste mês. Os indícios são de que o nível de atividade da economia está em forte desaceleração", afirma Marcelo Nonnenberg, coordenador do Grupo de Análise e Previsões do Ipea. As vendas de carros e do comércio paulista já diminuíram em outubro, segundo alguns indicadores.
A falta de crédito para financiamento nos mercados interno e externo, na sua avaliação, é o principal problema das indústrias. "E a oferta de crédito demora para voltar porque houve uma quebra de confiança nos mercados. Enquanto essa confiança não volta, não haverá crédito disponível", diz.
Os empresários brasileiros estão pessimistas porque o mundo está pessimista, na avaliação de Jackson Schneider, presidente da Anfavea, associação das montadoras. "Nós não estamos absolutamente desanimados, mas preocupados com o crédito, já que nosso setor depende dele", afirma.
A indústria eletroeletrônica tem a mesma preocupação. "Está muito difícil fazer qualquer estimativa. O momento é de profunda reflexão, pois existe muita indefinição quanto ao crédito e à taxa de câmbio", diz Lourival Kiçula, presidente da Eletros, associação do setor.
A indústria de máquinas informa que só o setor de açúcar e álcool pediu até agora adiamento -de 90 dias- de contratos de entregas de equipamentos por conta de efeitos da crise.
"Os setores de petróleo e gás, siderurgia e de papel e celulose, com poucas exceções, continuam mantendo os pedidos. O que temos dúvida é em relação ao ano que vem. E tudo depende das medidas estruturais que o governo venha a tomar. Se os juros caírem, a situação já melhor", afirma Luiz Aubert, presidente da Abimaq, associação da indústria de máquinas.
Para Fábio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, o resultado da consulta da Fiesp aos empresários revela o ajuste da economia brasileira à crise internacional. "A contaminação está sendo feita de maneira rápida. E, dependendo do grau desse impacto, pode ter início até um processo de corte de pessoal, o que seria uma medida de maior austeridade", diz.
Na avaliação de Silveira, a partir de meados de 2009, o esfriamento da economia vai se tornar mais intenso e o país deverá conviver com taxas menores de crescimento de produção e emprego.
"Não dá para dizer que fomos atingidos por um tsunami e que vamos enfrentar uma recessão. Mas também não dá para dizer que a economia irá a pleno vapor. Estamos em uma fase que é preciso ter cautela, nos investimentos e nas perspectivas", diz Merheg Cachum, presidente da Abiplast (associação que reúne a indústria plástica).
O Sebrae-SP avalia que a cautela é ainda maior entre os pequenos e micro empresários. Camila Machado, dona da Lascivite Confecções Femininas, diz que adiou os planos para abrir uma segunda loja em São Paulo, diminuiu os estoques para conter gastos e já sentiu a pressão de custos de fornecedores. "Há uma semana fui informada de que o preço do tecido importado subiu em torno de 15% e sofrerá ajustes semanais. Como a dimensão da crise ainda não está clara, preferi adiar para 2009 a ampliação da loja e da confecção. Vamos nos concentrar em ampliar o número de clientes, especialmente no atacado, para evitar possíveis queda na vendas."


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