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Empresários prevêem menor demanda e estoques maiores
Pesquisa da Fiesp mostra que indústrias estão mais cautelosas com efeitos da crise
Índice de confiança do
empresariado paulista na
economia, que vai de zero a
cem, marca 48,7 pontos,
menor que a média nacional
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Consulta com 243 indústrias
feita pela Fiesp (Federação das
Indústrias do Estado de São
Paulo) entre os dias 30 de setembro e 20 deste mês mostra
que os empresários prevêem
para os próximos seis meses retração de demanda, de compras
de insumos e de empregos,
além de aumento de estoques.
A falta de crédito para produzir, vender e exportar e o esfriamento da demanda mundial,
como efeito da crise financeira
internacional, tiraram o ânimo
dos empresários, que já congelam investimentos e reavaliam
neste momento a produção e o
emprego para o ano que vem.
"A percepção vinda do exterior de que os mercados vão encolher abalou de forma desproporcional os empresários no
país", afirma Paulo Francini,
diretor titular do Departamento de Economia da Fiesp.
Na consulta feita aos empresários, o indicador para o item
demanda atingiu 49 pontos,
dez pontos abaixo da pontuação obtida na sondagem do segundo trimestre deste ano (59,1
pontos); para o item emprego,
47,5 pontos (ante 52,6 pontos
no trimestre anterior) e, para o
item compras de matérias-primas, 47,4 pontos (ante 57 pontos no trimestre anterior).
A sondagem da Fiesp também registra que os empresários prevêem que os estoques
devem ficar acima do desejado
nos próximos seis meses.
O indicador de sondagem da
indústria vai de zero a cem pontos. Quanto mais próximo de
100, melhor o indicador. Variações da pontuação acima de 50,
no entender da Fiesp, diz-se
que o empresário está mais ou
menos otimista. Abaixo de 50,
mais ou menos pessimista.
O índice de confiança dos
empresários paulistas na economia brasileira, de 48,7 pontos -pior do que o índice nacional-, é também o mais baixo
desde o segundo trimestre de
2005 (49,1 pontos). O índice
nacional no terceiro trimestre
deste ano foi de 52,5 pontos, segundo a CNI (Confederação
Nacional da Indústria).
"O que a gente observa é que
de setembro para outubro houve uma mudança radical na
economia brasileira. Até setembro, os indicadores de produção, emprego e crédito eram
positivos. Essa situação virou
de cabeça para baixo neste mês.
Os indícios são de que o nível de
atividade da economia está em
forte desaceleração", afirma
Marcelo Nonnenberg, coordenador do Grupo de Análise e
Previsões do Ipea. As vendas de
carros e do comércio paulista já
diminuíram em outubro, segundo alguns indicadores.
A falta de crédito para financiamento nos mercados interno e externo, na sua avaliação, é
o principal problema das indústrias. "E a oferta de crédito
demora para voltar porque
houve uma quebra de confiança nos mercados. Enquanto essa confiança não volta, não haverá crédito disponível", diz.
Os empresários brasileiros
estão pessimistas porque o
mundo está pessimista, na avaliação de Jackson Schneider,
presidente da Anfavea, associação das montadoras. "Nós não
estamos absolutamente desanimados, mas preocupados
com o crédito, já que nosso setor depende dele", afirma.
A indústria eletroeletrônica
tem a mesma preocupação.
"Está muito difícil fazer qualquer estimativa. O momento é
de profunda reflexão, pois existe muita indefinição quanto ao
crédito e à taxa de câmbio", diz
Lourival Kiçula, presidente da
Eletros, associação do setor.
A indústria de máquinas informa que só o setor de açúcar e
álcool pediu até agora adiamento -de 90 dias- de contratos de entregas de equipamentos por conta de efeitos da crise.
"Os setores de petróleo e gás,
siderurgia e de papel e celulose,
com poucas exceções, continuam mantendo os pedidos. O
que temos dúvida é em relação
ao ano que vem. E tudo depende das medidas estruturais que
o governo venha a tomar. Se os
juros caírem, a situação já melhor", afirma Luiz Aubert, presidente da Abimaq, associação
da indústria de máquinas.
Para Fábio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, o resultado da consulta da Fiesp
aos empresários revela o ajuste
da economia brasileira à crise
internacional. "A contaminação está sendo feita de maneira
rápida. E, dependendo do grau
desse impacto, pode ter início
até um processo de corte de
pessoal, o que seria uma medida de maior austeridade", diz.
Na avaliação de Silveira, a
partir de meados de 2009, o esfriamento da economia vai se
tornar mais intenso e o país deverá conviver com taxas menores de crescimento de produção e emprego.
"Não dá para dizer que fomos
atingidos por um tsunami e que
vamos enfrentar uma recessão.
Mas também não dá para dizer
que a economia irá a pleno vapor. Estamos em uma fase que
é preciso ter cautela, nos investimentos e nas perspectivas",
diz Merheg Cachum, presidente da Abiplast (associação que
reúne a indústria plástica).
O Sebrae-SP avalia que a cautela é ainda maior entre os pequenos e micro empresários.
Camila Machado, dona da Lascivite Confecções Femininas,
diz que adiou os planos para
abrir uma segunda loja em São
Paulo, diminuiu os estoques
para conter gastos e já sentiu a
pressão de custos de fornecedores. "Há uma semana fui informada de que o preço do tecido importado subiu em torno
de 15% e sofrerá ajustes semanais. Como a dimensão da crise
ainda não está clara, preferi
adiar para 2009 a ampliação da
loja e da confecção. Vamos nos
concentrar em ampliar o número de clientes, especialmente no atacado, para evitar possíveis queda na vendas."
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