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ENTREVISTA
ANTÔNIO FRANCISCO DE LIMA NETO
Em hipótese alguma o Banco do Brasil vai comprar "mico"
Presidente do BB afirma que o banco analisará ofertas de compra apenas quando o negócio for considerado saudável
Sérgio Lima/Folha Imagem
|
Antônio Francisco de Lima Neto, presidente do Banco do Brasil |
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Prevendo uma "nova onda de
fusões e aquisições" diante da
crise que assola a área financeira no Brasil e no mundo, o presidente do Banco do Brasil, Antônio Francisco de Lima Neto,
defende a edição da medida
provisória nº 443 -que deu ao
BB e à Caixa Econômica Federal poderes para comprar bancos e empresas- como um instrumento necessário para não deixar a instituição fragilizada
em relação à concorrência.
Ele afirmou, em entrevista à
Folha, que o foco inicial do
Banco do Brasil é a área de veículos, com ênfase no consumo
final. Na semana passada, a instituição comprou mais de R$ 1
bilhão em carteiras de financiamento de veículos.
Declarações do presidente
Lula sobre a atuação do Banco
do Brasil nesse setor reforçaram os boatos de que a instituição estaria adquirindo bancos
ligados a montadoras. Cauteloso, Lima Neto evita se comprometer com operações específicas. "Se vamos comprar ou não,
o tempo dirá."
Segundo ele, a decisão de
avançar na negociação das carteiras para instituições é uma
questão de oportunidade e de
afinidade com o banco. "Só vamos avaliar [ofertas] que considerarmos saudáveis. Instituições que tenham tecnologia
boa, administração de risco e
força de venda."
Lima Neto não deixa transparecer a tensão e o cansaço
que têm predominado nas mais
de 12 horas diárias de trabalho.
Nega que esteja sendo pressionado pelo governo e que fará
maus negócios. "Em hipótese
alguma compraremos micos.
Temos boa governança".
Ele diz que o mercado não
entendeu a medida provisória.
"A leitura inicial da MP pode
ter levado a uma interpretação
errada de que ela é para entubar o Banco do Brasil com mico. Não é isso. A idéia é fazer
uma ação preventiva."
FOLHA - O que muda na atuação
do BB com a MP 443?
ANTÔNIO FRANCISCO DE LIMA NETO -
A medida provisória dá um instrumento a mais para levar
adiante a estratégia que tínhamos de crescer não apenas organicamente. Nos possibilita
fazer aquisições. Queremos
crescer levando em conta dois
aspectos: 1) geográfico, mirando em regiões onde o BB não
tem posição relevante; e 2) nichos específicos, o mais óbvio é
o de veículos, em que nossa posição não é forte.
FOLHA - Mas o BB já atua nessa
área há algum tempo...
LIMA NETO - Temos uma carteira de veículos desenvolvida de
forma horizontal, dividida em
várias áreas. O ideal é termos
operação verticalizada e força
de venda própria. Assim teremos um foco concentrado.
FOLHA - Veículos é um nicho importante mesmo com o crescimento
menor da economia?
LIMA NETO - É um mercado relevante, que vem crescendo.
Nossa carteira de veículos é de
R$ 6 bilhões, enquanto nossos
competidores têm R$ 40 bilhões. Esse é um ponto fraco do
banco. É um setor dinâmico,
em expansão, além de ter toda
uma cadeia de concessionárias,
autopeças etc. O Banco do Brasil é bom na etapa anterior ao
consumo. Temos participação
forte com montadoras, mas
não estamos participando tanto na ponta final, no financiamento do consumo.
FOLHA - Em que a medida provisória ajuda se o BB já negocia a compra
de carteiras de veículos?
LIMA NETO - Antes, a participação do BB em iniciativas societárias tinha de ser minoritária.
O banco precisava de autorização específica e, em determinadas situações, isso nos fazia
perder o "timing" do negócio. A
MP dá liberdade ao banco. Como no atual momento da economia mundial é provável que
haja uma nova onda de fusões e
aquisições, se o BB não pudesse
participar [desse processo] seria uma fragilidade.
FOLHA - O BB vai comprar bancos
ligados a montadoras?
LIMA NETO - A conclusão óbvia
do processo, para qualquer
analista que veja o BB -um
banco com R$ 400 bilhões de
ativos-, é que o que falta na
formação de resultado, em
comparação com seus competidores do mesmo tamanho, é
que o banco não tem foco na
área de veículos. Isso nos leva a
olhar esse mercado. Se vamos
comprar ou não, o tempo dirá.
FOLHA - O BB já comprou carteiras
de veículos de outros bancos?
LIMA NETO - Já estamos comprando carteiras de veículos e
hoje [sexta-feira] devemos fechar algo acima de R$ 1 bilhão.
FOLHA - O que vai determinar a hora de o BB avançar para a compra de
outros bancos?
LIMA NETO - Vai depender da
oportunidade que surgir e se
ela faz sentido para o banco.
Não vamos colocar dentro do
BB algo que não tenha a ver
com o nosso interesse estratégico. Se não for assim, não conseguiremos desenvolver. Só vamos avaliar [ofertas] que considerarmos saudáveis. Instituições que tenham tecnologia
boa, administração de risco e
força de venda.
FOLHA - O governo está pressionando o BB para ajudar o mercado a
superar a crise a qualquer custo?
LIMA NETO - Não há pressão do
governo.
FOLHA - O que garante que o BB
não vai comprar um "mico"?
LIMA NETO - Em hipótese alguma compraremos "mico". Temos boa governança, uma administração que tem dado provas concretas da boa gestão do
banco. A medida provisória
não trouxe uma surpresa para
o banco -ela veio com uma estratégia de olhar oportunidades. E o compromisso do governo é ter um banco eficiente.
FOLHA - Por que o mercado reagiu
tão mal à edição da MP? As ações do
BB caíram quase 10%...
LIMA NETO - As ações do BB estão sendo punidas com as dos
demais bancos. Existe um mau
humor em relação a bancos por
causa da crise. Os fundamentos
do banco são bons. A leitura
inicial da medida provisória
pode ter levado a uma interpretação errada de que ela é para
entubar o BB com "mico". Não é
isso. A idéia é fazer uma ação
preventiva.
FOLHA - Qual tem sido o tom das
conversas com o ministro Guido
Mantega e com o presidente Lula
para definir a atuação do BB?
LIMA NETO - As conversas têm
sido sobre como preservar a
eficiência, como reforçar a
atuação do BB. É possível buscar oportunidades nessa crise
para crescer? Tem sido assim.
FOLHA - O BB já analisa a compra
de algum banco?
LIMA NETO - Não estou analisando ainda. Quando estivermos, cumpriremos todos os ritos exigidos para empresas de
capital aberto.
FOLHA - E a compra da Nossa Caixa, vai sair?
LIMA NETO - Estamos negociando. Podemos ter uma forma de
fazer o negócio, mas, por enquanto, só o que podemos dizer
é o que já publicamos: estamos
conversando.
FOLHA - E a oferta de crédito para o
comércio exterior, como está?
LIMA NETO - Tivemos uma restrição também. O governo agiu
pontualmente, e o BB pegou
US$ 1 bilhão no leilão de linha
do Banco Central. Voltamos a
fazer ACCs [operações para antecipar receita aos exportadores] e, ontem [quinta-feira], desembolsamos mais de US$ 300
milhões. As coisas começam a
ser retomadas. O leilão do BC
começa a ter resultado e aí, a
tendência é o mercado seguir
seu fluxo normal.
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