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Navios saem vazios, afirma transportadora
Crise financeira mundial afetou fluxo de cargas transportadas pela Hamburg Süd, diz diretor da empresa
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
A exportação brasileira de
carne para a Rússia e o transporte de produtos eletroeletrônicos do Pólo Industrial de Manaus (AM) para os centros de
consumo do país foram afetados pela crise financeira global.
Os efeitos nesses setores
atingiram o fluxo de cargas
transportadas pela Hamburg
Süd, a maior companhia de navegação em operação nos portos brasileiros -proprietária
da Aliança. A falta de crédito e o
sobe-e-desce do real ante o dólar chegaram aos porões da navegação transoceânica e de cabotagem.
Para a Rússia, deixaram de
sair entre 250 e 300 contêineres por semana, um problema
que pode se estender até o fim
do ano. Preocupa a empresa.
Da Zona Franca, a companhia
começou a enfrentar dificuldades para conseguir embarcar,
semanalmente, mil contêineres com eletroeletrônicos. A
crise no Pólo de Manaus tem
potencial para afetar o abastecimento do Natal, avalia a
Hamburg Süd.
"A maior dificuldade dos
clientes é decidir o que fazer
com as incertezas do câmbio.
Fazer uma importação ou exportação sem saber em que patamar o câmbio vai estar é muito complicado", disse Julian
Thomas, diretor da companhia.
Mesmo com menor fluxo de
contêineres, a empresa anunciou a expansão do número de
navios operando no país a partir de novembro. Parece contra-senso, mas a razão para isso
está em outra crise: a portuária,
pela deficiência operacional
dos portos. A seguir, os principais trechos da entrevista.
FOLHA - A Hamburg Süd foi afetada pela crise?
JULIAN THOMAS - O mercado de
carnes e de alimentos para a
Rússia foi afetado imediatamente. Os embarques pararam.
Felizmente, quando houve a
parada, uma parte da carga foi
desviada para a Ásia. Mas é algo
preocupante, porque pelo menos até o final do ano estimamos que não haverá quase nada
desse embarque. Embarcávamos entre 250 e 300 contêineres por semana para a Rússia.
Obviamente que isso tem grande impacto.
FOLHA - O que ocorreu com a Rússia?
THOMAS - Eles tinham grandes
estoques. Os nossos clientes lá
[na Rússia] alegaram dificuldades na obtenção de crédito para
pagar as importações. Os importadores também estão querendo renegociar os preços devido à desvalorização do real.
Adotam o seguinte raciocínio:
"Bem, se vocês [no Brasil] vão
receber mais reais [devido à
desvalorização do real], quero
uma parte desse ganho".
FOLHA - Que outro tipo de carga foi
afetada?
THOMAS - Muitos clientes estão
falando que a carga regular
continua seguindo. O pessoal
está cumprindo os contratos. A
expectativa é que até o início de
dezembro os negócios correntes devem continuar. O impacto maior será sentido apenas no
início de 2009, mas, de qualquer forma, esse é um período
mais fraco. A maior dificuldade
dos clientes é decidir o que fazer com as incertezas no câmbio. Fazer uma importação ou
exportação sem saber em que
patamar o câmbio vai estar é
muito complicado. Há o impacto provocado pelo crédito, que
ainda é cedo para avaliar.
FOLHA - O que pode acontecer com
o comércio exterior brasileiro?
THOMAS - Isso vai depender do
câmbio e da conjuntura mundial. Se o câmbio se estabilizar
em R$ 2 ou R$ 2,10, o impacto
na exportação será positivo.
Acho que o crescimento da importação não será tão pujante,
como foi em 2007 e neste ano.
FOLHA - Qual o número de embarques da Hamburg Süd no Brasil?
THOMAS - Embarcamos entre
14 mil e 15 mil contêineres de
20 pés por semana. Isso inclui a
cabotagem, que também está
sendo afetada pela crise. O setor eletroeletrônico está com a
mesma insegurança em relação
ao câmbio. Com isso, a indústria em Manaus não está mandando carga para o Sul porque
-como no caso da exportação- eles não sabem definir o
preço de venda. Como a base de
tudo é o dólar, a incerteza do
câmbio está dificultando a comercialização para eles.
FOLHA - Mas qual o fluxo de carga
de Manaus para a região Sul do país
que está sendo afetado?
THOMAS - Numa época pujante,
a gente costuma embarcar mil
contêineres por semana de Manaus para a região Sul. Por isso,
essa incerteza pode afetar as
vendas do Natal. Não posso dizer que vai [afetar], é um pouco
cedo para avaliar, mas estamos
sentindo uma redução no volume dos embarques. Temos alguns navios que estão embarcando esse volume de mil contêineres, mas já estamos notando uma diminuição.
FOLHA - Essa baixa no fluxo internacional e doméstico de contêineres
fez a Hamburg Süd reduzir o número de navios em operação no Brasil?
THOMAS - Pelo contrário, estamos aumentando.
FOLHA - Como?
THOMAS - O que estamos fazendo não tem muito a ver com a
crise, mas no momento estamos tendo dificuldades muito
grandes devido às limitações da
infra-estrutura nos portos. Estamos colocando mais navios
para conseguirmos ficar mais
tempo nos portos. Por exemplo, na nossa linha que atende a
Ásia, temos um serviço semanal que opera com dez navios,
numa rota que faz uma volta
completa em 70 dias. A gente
vai mudar a viagem completa
para 77 dias e colocar mais um
navio. Isso gera uma semana a
mais de tempo para uma viagem redonda. Uma parte dessa
semana adicional para o giro
completo dos dez navios será
usada para podermos operar
mais tempo no porto. A gente
vê que precisa de mais tempo
para ter um serviço confiável. O
mesmo vai ocorrer na rota Brasil-EUA e na rota Golfo-Caribe.
Nos dois casos, vamos elevar o
número de seis para sete navios. Isso permite compensar o
tempo que a gente está perdendo no porto com esperas para
atracação e com a produtividade baixa nos terminais.
FOLHA - Isso vai custar mais?
THOMAS - Vai. Para cada navio
pequeno, o custo estimado será
de US$ 18 milhões por ano. Para um navio grande, do tipo que
operamos na linha para a Ásia,
o custo por navio será de US$
30 milhões por ano. Os problemas de infra-estrutura são um
assunto velho no Brasil. Mas
vale dizer que essas medidas
não foram tomadas apenas por
problemas no país. Também temos problemas na África do
Sul, na região do Caribe, na Venezuela. Não posso dizer que
esse seja um problema exclusivamente brasileiro, mas o país
tem um peso grande.
FOLHA - Quando a companhia vai
adotar a medida?
THOMAS - Até novembro estará
em pleno funcionamento.
FOLHA - E deve ser mantida por
muito tempo?
THOMAS - Sim, porque a infra-estrutura não melhora no curto
prazo. Há uma indefinição do
marco regulatório. [O governo
promete há um ano um decreto
que regulamente a forma como
autorizará terminais privativos
no país]. Acho que os investimentos virão, são absolutamente necessários. Com crise
ou sem crise, a gente acredita
que os investimentos virão porque a necessidade de infra-estrutura é tão grande que não há
como reduzir os projetos por
conta da crise. Agora, o prazo
de maturação dos investimentos será longo. Só um terminal
de contêineres demora, entre
as licenças e o funcionamento,
no mínimo cinco anos. O mais
normal é de oito a dez anos.
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