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Crédito direcionado puxa financiamentos
Até agosto, de cada R$ 100 de aumento do estoque de crédito, R$ 62 vieram de recursos direcionados, como os do BNDES
Redução de crédito causada pela crise global abriu espaço para avanço, estimulado pelos juros
altos cobrados no mercado
EDUARDO CUCOLO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os empréstimos com taxas
controladas pelo governo foram responsáveis pela maior
parte do crescimento no estoque de crédito na economia
brasileira neste ano. Nos oito
primeiros meses de 2009, de
cada R$ 100 de aumento no estoque de crédito, R$ 62 se referem a recursos direcionados.
Entram nessa conta, principalmente, os financiamentos
do BNDES e o direcionamento
obrigatório para crédito rural e
habitação.
Desde o início do governo
Lula, quando o país ainda sofria
com a falta de crédito provocada pela crise econômica nos
anos anteriores, os recursos direcionados não ampliavam o
seu peso na economia.
Esse dinheiro tem como origem, principalmente, recursos
dos trabalhadores e da caderneta de poupança. Por isso, sua
destinação e suas taxas são controladas pelo governo e ficam
abaixo dos juros praticados pelo mercado.
O principal agente do crédito
direcionado no país é o BNDES.
A maior parte do dinheiro utilizado pelo banco estatal de desenvolvimento vem dos recursos do FAT (Fundo de Amparo
ao Trabalhador), e os empréstimos têm como base a TJLP
(Taxa de Juros de Longo Prazo), hoje em 6% ao ano, abaixo
da taxa básica de juros (a Selic,
hoje em 8,75% ao ano) e muito
abaixo das taxas oferecidas pelo mercado.
Neste ano, o estoque de empréstimos feitos pelo BNDES
cresceu 21%, bem acima dos 8%
registrados em todo o sistema
financeiro. Foram R$ 43 bilhões de aumento, dos quase
R$ 100 bilhões de crescimento
no estoque de crédito no país
nesse período. Esse avanço fez
com que o banco de fomento
ocupasse o espaço aberto pela
redução do crédito para empresas no setor privado, fora e dentro do país. Além do desembolso de R$ 25 bilhões para a Petrobras em julho, o banco
apoiou grandes fusões neste
ano, como a entre Votorantim
Celulose e Aracruz.
No início do governo Lula, o
crédito direcionado foi foco de
um debate entre o Banco Central e o BNDES. Na época, um
estudo do BC dizia que esses
empréstimos ajudavam a encarecer os juros no Brasil.
Pelo raciocínio, as instituições financeiras cobram juros
mais altos nas modalidades
mais tradicionais de empréstimo (como o crédito pessoal e o
cheque especial) para compensar as baixas taxas de modalidades como o financiamento habitacional. Haveria, portanto,
um "subsídio cruzado" que
onera grande parte dos tomadores de empréstimos.
Para o assessor técnico da
Febraban (Federação Brasileira de Bancos) Ademiro Vian,
esse impacto existe, mas a redução dos empréstimos com
taxas controladas depende da
recuperação do crédito e da
queda na taxa básica de juros.
Ele lembra que o governo aumentou o direcionamento para
crédito rural e para cooperativas desde a piora da crise econômica e que isso terá de ser revisto em breve.
"Os recursos direcionados
são mais baratos, mas a empresa tem de preencher uma série
de requisitos, o que tem custo.
Isso só compensa quando a taxa de juros do crédito livre é
muito mais alta."
Para Ricardo Araújo, professor de finanças da FGV, as altas
taxas de juros no Brasil fazem
com que o crédito direcionado
seja uma opção mais barata para empresas de menor porte e
para investimentos em setores
estratégicos, como infraestrutura. "Isso é uma deficiência do
mercado brasileiro. Na medida
em que o "spread" [diferença
entra a taxa que os bancos pagam ao captar recursos e a que
aplicam aos clientes] é muito
alto, o empresário precisa do
direcionado para ter acesso a
um crédito mais barato."
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