São Paulo, segunda-feira, 26 de outubro de 2009

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Crédito direcionado puxa financiamentos

Até agosto, de cada R$ 100 de aumento do estoque de crédito, R$ 62 vieram de recursos direcionados, como os do BNDES

Redução de crédito causada pela crise global abriu espaço para avanço, estimulado pelos juros altos cobrados no mercado

EDUARDO CUCOLO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os empréstimos com taxas controladas pelo governo foram responsáveis pela maior parte do crescimento no estoque de crédito na economia brasileira neste ano. Nos oito primeiros meses de 2009, de cada R$ 100 de aumento no estoque de crédito, R$ 62 se referem a recursos direcionados.
Entram nessa conta, principalmente, os financiamentos do BNDES e o direcionamento obrigatório para crédito rural e habitação.
Desde o início do governo Lula, quando o país ainda sofria com a falta de crédito provocada pela crise econômica nos anos anteriores, os recursos direcionados não ampliavam o seu peso na economia.
Esse dinheiro tem como origem, principalmente, recursos dos trabalhadores e da caderneta de poupança. Por isso, sua destinação e suas taxas são controladas pelo governo e ficam abaixo dos juros praticados pelo mercado.
O principal agente do crédito direcionado no país é o BNDES. A maior parte do dinheiro utilizado pelo banco estatal de desenvolvimento vem dos recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), e os empréstimos têm como base a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), hoje em 6% ao ano, abaixo da taxa básica de juros (a Selic, hoje em 8,75% ao ano) e muito abaixo das taxas oferecidas pelo mercado.
Neste ano, o estoque de empréstimos feitos pelo BNDES cresceu 21%, bem acima dos 8% registrados em todo o sistema financeiro. Foram R$ 43 bilhões de aumento, dos quase R$ 100 bilhões de crescimento no estoque de crédito no país nesse período. Esse avanço fez com que o banco de fomento ocupasse o espaço aberto pela redução do crédito para empresas no setor privado, fora e dentro do país. Além do desembolso de R$ 25 bilhões para a Petrobras em julho, o banco apoiou grandes fusões neste ano, como a entre Votorantim Celulose e Aracruz.
No início do governo Lula, o crédito direcionado foi foco de um debate entre o Banco Central e o BNDES. Na época, um estudo do BC dizia que esses empréstimos ajudavam a encarecer os juros no Brasil.
Pelo raciocínio, as instituições financeiras cobram juros mais altos nas modalidades mais tradicionais de empréstimo (como o crédito pessoal e o cheque especial) para compensar as baixas taxas de modalidades como o financiamento habitacional. Haveria, portanto, um "subsídio cruzado" que onera grande parte dos tomadores de empréstimos.
Para o assessor técnico da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) Ademiro Vian, esse impacto existe, mas a redução dos empréstimos com taxas controladas depende da recuperação do crédito e da queda na taxa básica de juros. Ele lembra que o governo aumentou o direcionamento para crédito rural e para cooperativas desde a piora da crise econômica e que isso terá de ser revisto em breve.
"Os recursos direcionados são mais baratos, mas a empresa tem de preencher uma série de requisitos, o que tem custo. Isso só compensa quando a taxa de juros do crédito livre é muito mais alta."
Para Ricardo Araújo, professor de finanças da FGV, as altas taxas de juros no Brasil fazem com que o crédito direcionado seja uma opção mais barata para empresas de menor porte e para investimentos em setores estratégicos, como infraestrutura. "Isso é uma deficiência do mercado brasileiro. Na medida em que o "spread" [diferença entra a taxa que os bancos pagam ao captar recursos e a que aplicam aos clientes] é muito alto, o empresário precisa do direcionado para ter acesso a um crédito mais barato."


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