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LUCIANO COUTINHO
Política e economia
A criação do círculo virtuoso do crescimento sustentado pelo investimento depende de uma construção política
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O PRESIDENTE Lula, com o respaldo da avalanche de votos
obtidos no segundo turno,
vem buscando construir uma base
política confiável e operacional para
poder governar eficazmente. Esse
passo é essencial, pois o desempenho econômico futuro -que pode
vir a ser muito melhor que o do passado recente- depende de reformas
fiscais (especialmente a da Previdência Social) que revigorem a capacidade pública de investimento. Essas reformas requerem mudanças
legais relevantes que exigem maioria ampla e estável no Congresso.
Por isso, o presidente Lula procura
construir essa base política em torno de um programa de reformas que
tenha como norte a aceleração sustentável do crescimento econômico.
Foi esse, por exemplo, o fulcro dos
entendimentos com o PMDB.
As condições econômicas (inflação controlada e robustez das contas
externas) viabilizam um salto qualitativo no desempenho da economia
se a capacidade fiscal do Estado, reforçada por reformas, permitir ao
governo aumentar os investimentos
públicos, reduzir mais rapidamente
os juros e induzir uma ascensão firme do investimento privado. A criação do círculo virtuoso do crescimento sustentado pelo investimento depende, assim, de uma construção política.
Será a partir da solidez
dessa construção -o anverso de um
novo ministério politicamente forte- que o presidente poderá liderar
a agenda das mudanças e dialogar
com a oposição. A interação construtiva entre política e economia é
chave, portanto, neste momento especial de alta capacidade de aglutinação do presidente. Sendo esse
momento passageiro, é importante
não perder o foco e a iniciativa.
A agenda relevante de interesse nacional é a do crescimento sustentado e
seria muito frustrante vê-la submergir sob o fragor das disputas partidárias, por exemplo, motivadas pelas eleições para as presidências da
Câmara dos Deputados e do Senado.
Mas a consolidação dessa agenda
do crescimento requer que o governo também avance logo na formulação técnica e jurídica das medidas e
reformas para ter o que propor concretamente. É preciso combinar viabilidade política e uma formulação
consistente com a política macroeconômica. Vale dizer, as medidas e
as reformas precisam produzir resultados fiscais suficientes para reforçar a poupança pública, aumentar o investimento e permitir a redução da taxa de juros com a estabilidade dos preços. Há, ademais, o desafio de melhorar substancialmente a qualidade gerencial do governo.
Sob severa escassez de recursos
fiscais livres para alocação, o governo precisará aumentar os investimentos ante fortes pressões por outros gastos, benefícios e isenções.
Por isso, a necessidade imperiosa de
ter mais eficiência operacional e de
combater os desperdícios e os desvios. Por outro lado, a governabilidade, além de um bom suporte parlamentar, não prescinde da força popular do presidente.
Assim, é necessário que os ganhos de distribuição
de renda, inflação baixa e alívio à pobreza sejam protegidos e, doravante,
reforçados pela expansão mais firme do emprego que o crescimento
sustentado propiciará. Essa é a outra vertente do círculo virtuoso, difícil mas possível, entre a política e a
economia.
LUCIANO COUTINHO , 60, é consultor e professor
convidado do IE/Unicamp.
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