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EUA lançam pacote para reativar crédito
Com US$ 800 bi, intervenção é a maior da história dos EUA e a 4ª anunciada pelo governo em 3 meses; valor equivale ao PIB da Holanda
Montante será direcionado às gigantes do setor de imóveis, além de financeiras que atuam com crédito estudantil, veículos e cartões
Jason Reed/Reuters
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O secretário do Tesouro norte-americano, Henry Paulson, chega para anunciar o novo pacote
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Em sua quarta intervenção
no mercado financeiro em três
meses e a segunda em menos
de 48 horas, o governo americano anunciou um pacote de US$
800 bilhões para descongelar o
crédito. Equivalente ao PIB da
Holanda, é o maior valor empregado em iniciativas do tipo
na história dos EUA, ultrapassando em US$ 100 bilhões o recorde anterior, do pacote de auxílio a instituições financeiras
aprovado no Congresso.
O plano parte da constatação
da administração do republicano George W. Bush de que,
mesmo com todas as intervenções e injeções de dinheiro que
fez ou se comprometeu a fazer
até agora, os bancos ainda não
voltaram a emprestar ao consumidor final no ritmo de antes
da crise. Isso vem enfraquecendo como um todo uma economia em que o consumo responde por 70% do PIB.
Pelo pacote, anunciado ontem em Washington pelo secretário do Tesouro, Henry
Paulson, o Federal Reserve de
Nova York, a mais importante
das 12 subdivisões do banco
central americano, compromete-se a emprestar até US$ 200
bilhões a instituições financeiras com papéis baseados em títulos de dívidas de consumo,
como financiamento de carro,
dívidas de crédito e financiamento estudantil.
É uma das frentes principais,
que ajuda diretamente consumidores e pequenas empresas
endividados. O plano "dá liquidez às instituições, e parece claro que é o empréstimo direto
que ajudará os consumidores",
disse Henry Paulson.
Outra é a compra pelo Fed de
até US$ 500 bilhões em títulos
lastreados em hipotecas garantidas por Fannie Mae, Freddie
Mac e Ginnie Mae, as três gigantes hipotecárias, parcialmente
operadas pelo governo. Outros
US$ 100 bilhões serão gastos em
papéis de dívida emitidos por essas instituições. É a frente voltada a fazer o mercado imobiliário
voltar a financiar.
O pacote foi divulgado no
mesmo dia em que o Departamento de Comércio anunciou
revisão dos dados do PIB dos
EUA no terceiro trimestre. A
economia recuou 0,5%, sua
maior retração desde o terceiro
trimestre de 2001, ano do ataque terrorista de 11 de Setembro. A avaliação anterior era de
uma retração de 0,3% -a diferença é atribuída a uma queda
maior nos gastos de consumo.
Chega ainda no momento em
que o presidente eleito, Barack
Obama, insinua-se mais na
condução da economia, ao
apressar-se em revelar seus
responsáveis para o setor. Após
anunciar na segunda-feira o secretário do Tesouro, Timothy
Geithner, apontou ontem o diretor de Orçamento da Casa
Branca, Peter Orszag, e disse
que faria uma reforma no plano
de gastos do governo. O democrata convocou nova coletiva
sobre economia para hoje.
Só o começo
Os valores envolvidos na
transação impressionam. Com
o pacote de ontem, o total gasto
ou comprometido pelo governo
norte-americano até agora chega a US$ 5,4 trilhões, ou 8% da
riqueza produzida pelo mundo
inteiro em um ano. Para efeito
de comparação, o PIB brasileiro é de US$ 1,4 trilhão, ou pouco menos do que apenas dois
dos pacotes principais do governo americano, o de ontem e
o aprovado em outubro.
Ainda assim, é só o começo,
como disse ontem Henry Paulson. "Vai levar um tempo para
colocar esse programa de pé e
funcionando, mas ele pode ser
expandido e aumentado com o
tempo", afirmou o secretário
do Tesouro. O número 1 da economia norte-americana vem
sendo criticado por mandar sinais contraditórios e erráticos
em suas ações, o que assusta os
mercados ao sugerir que o governo esgota suas opções.
Há pouco mais de uma semana, Paulson foi ao Congresso
dizer que os mercados estavam
estabilizados e ele não precisaria usar a segunda metade do
pacote de US$ 700 bilhões
aprovados pelo Legislativo.
Disse também que havia mudado de idéia quanto à proposta
original, de comprar os chamados papéis podres de instituições financeiras em dificuldade, e que injeções diretas de capital faziam mais sentido.
Poucos dias depois, o governo teve de aprontar às pressas
novo pacote de resgate ao Citigroup, cujos detalhes foram revelados anteontem. O plano de
salvamento do segundo maior
banco norte-americano marcou um novo passo, que mistura os dois primeiros. Já o de ontem mostra um outro rumo.
"O governo parece não saber
o que está fazendo", disse à Folha Simon Johnson, ex-economista-chefe do FMI (Fundo
Monetário Internacional), hoje
no Instituto de Tecnologia de
Massachusetts. "E o que está
fazendo não está dando resultado."
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