São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 2008

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Confiança do consumidor cai para o menor nível em 3 anos

Dúvidas sobre situação financeira, trabalho e consumo puxaram índice para baixo

Mau humor brasileiro já é comparável ao americano, ao europeu e ao argentino, que sentem a crise há mais tempo, afirma pesquisador

DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO

Após duas quedas consecutivas, a confiança do consumidor brasileiro atingiu em novembro, às vésperas do Natal, o menor nível da série iniciada em setembro de 2005. Com 96,9 pontos, o índice medido pela FGV (Fundação Getulio Vargas) teve recuo de 4,2% em relação a outubro, quando bateu 101,1, e de 15,2% em relação a novembro do ano passado, quando chegou a 114,3.
O resultado foi puxado principalmente pela pior avaliação do consumidor sobre a situação financeira de sua família e pelo menor ímpeto para compras. Esses fatores ajudaram a derrubar os dois eixos da pesquisa -as avaliações da situação presente e as expectativas para os próximos seis meses.
Também pesou para o resultado uma visão mais pessimista do mercado de trabalho. Em novembro, 37% dos entrevistados disseram acreditar que será mais difícil arranjar emprego nos próximos meses, contra apenas 15,2% que afirmaram que será mais fácil. Há um ano, esses números eram de 22,1% e 17,5%, respectivamente.
"O consumidor está mais cauteloso", afirma o coordenador do Núcleo de Pesquisas e Análises Econômicas da FGV, Aloisio Campelo. Segundo ele, a confiança no Brasil já pode ser comparada a regiões que experimentam a crise há mais tempo. "O mau humor brasileiro já é comparável ao americano, ao europeu e ao argentino."
A sondagem constatou também que a deterioração do índice ocorreu principalmente nas classes mais altas, cuja confiança na economia era maior, já que as baixas sofreram mais com a inflação dos alimentos.
A maior perda de confiança ocorreu em São Paulo, com queda de 22,6% em relação a novembro de 2007 e de 6,7% em relação a outubro.
Apesar do cenário negativo, o chefe do departamento de economia da CNC (Confederação Nacional do Comércio), Carlos Thadeu de Freitas, não acredita num impacto forte sobre as vendas neste Natal. "A massa salarial ainda está razoável e o crédito para o consumidor não foi tão afetado", afirma.
O consultor de varejo Marco Quintarelli cita ainda as liquidações de fim de ano como um estímulo para as vendas. Segundo ele, a perspectiva de um ano de "vacas magras" em 2009 já está fazendo com que os lojistas tentem acabar com os estoques. "Os varejistas estão preferindo diminuir as margens [de lucro]", diz.
Para muitos consumidores, porém, a crise já afetou a decisão de compras. É o caso de Sylvia Barbosa, 28, que trabalha na área financeira da AmBev. Ela decidiu adiar a compra de uma geladeira para a mãe e de uma televisão de LCD para a casa nova: "Este vai ser o Natal da lembrancinha".


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