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São Paulo, sexta-feira, 26 de dezembro de 2003

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MAL DA VACA LOUCA

Agência do Reino Unido confirma descoberta da doença; 25 países suspenderam compra do produto

Veto à carne dos EUA pode custar US$ 2 bi

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Devem chegar a pelo menos US$ 2 bilhões anuais os prejuízos causados pela descoberta do primeira caso da doença da vaca louca nos Estados Unidos.
Esse cálculo é extremamente conservador e leva em conta apenas o impacto da queda das vendas externas, que representam cerca de 10% da receita dos produtores de carne.
A descoberta foi reconfirmada ontem por checagem independente feita pela Agência de Laboratórios Veterinários do Reino Unido. A agência assegurou que os testes norte-americanos que indicaram a existência da doença foram feitos corretamente.
Em nota, o Departamento de Agricultura dos EUA limitou-se a informar que ainda estava ""considerando a confirmação".
Além de checar a correção dos procedimentos feitos nos EUA, a agência no Reino Unido também fez novos testes diretamente com amostras de tecidos da mesma vaca leiteira que gerou o caso -abatida no último dia 9 no Estado de Washington, na Costa Oeste.
O resultado dos testes diretos feitos no Reino Unido deve ser divulgado neste final de semana.
Pelo menos 25 países já haviam anunciado até ontem a suspensão das importações de carne bovina produzida nos EUA.
A China foi um dos países que anunciaram ontem a suspensão. Em 2004, os chineses esperavam aumentar em pelo menos 11% as importações de carne norte-americana para atender ao aumento da demanda interna.
Cerca de dois terços das vendas externas norte-americanas -estimadas em até US$ 3,5 bilhões ao ano- já estão comprometidos.
O cálculo de US$ 2 bilhões em prejuízos foi feito pelo economista agrícola Chris Hurt, da Purdue University (Indiana), e aceito por produtores nos EUA.
Segundo estimativas de especialistas, a queda nas exportações poderá acarretar uma redução entre 12% e 16% nos preços da carne nos EUA.
Mas a grande incógnita agora é saber qual será a reação ao problema entre a população norte-americana, que consome cerca de 90% da carne produzida no país.
Dependendo da resposta dos consumidores a partir de hoje, quando supermercados reabrem após o feriado de Natal, as estimativas de prejuízos poderão crescer rapidamente.
Na média, os consumidores norte-americanos têm um consumo individual de cerca de 29 quilos de carne por ano.
Anteontem, as ações negociadas na Bolsa de Nova York de grandes redes de restaurantes e empresas ligadas ao setor já antecipavam um movimento esperado a partir de hoje.
O valor das ações de algumas grandes redes de restaurantes especializados em carne chegaram a cair 7,4%, caso da Rare Hospitality International. Já grandes empresas de carnes não-bovinas, como a Pilgrim"s Pride, produtora de frango, subiram até 12%.
Em uma tentativa de reverter o ""efeito dominó" entre vários países, a embaixada norte-americana em Tóquio lançou ontem um apelo ao governo japonês para que o país reconsidere a sua decisão de suspender a compra de carne bovina dos EUA.
Individualmente, o Japão é o maior comprador de carne dos EUA, com aquisições totais médias de US$ 1,8 bilhão ao ano.
Ontem, reportagem do ""New York Times" informou que Stanley Prusiner, um neurologista vencedor do Prêmio Nobel de 1997 por pesquisas relacionadas ao mal da vaca louca, havia alertado o Departamento de Agricultura dos EUA em maio sobre a iminência do risco da doença no país.
Segundo Prusiner, o departamento deliberadamente fechou os olhos à ameaça. Para o neurologista, a única razão para que não houvesse registro de doença da vaca louca nos Estados Unidos é que a agência estava testando número muito pequeno de animais.
Ontem, autoridades admitiram que podem rever o sistema de monitoramento da doença.


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