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Vietnã se fortalece no setor externo de café
Com custo menor e produção o dobro da brasileira, asiáticos se preparam para disputar fatia do mercado
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
O mercado internacional de
café ganhará um competidor
mais eficiente nos próximos
anos. Com produção crescente,
mas um mercado exportador
ainda desorganizado, o Vietnã,
que está entrando para a OMC
(Organização Mundial do Comércio), abre as portas a tradicionais empresas estrangeiras
do setor. Com isso, o país deverá ficar mais competitivo no
mercado externo.
A avaliação é de Guilherme
Braga, diretor-geral do Cecafé
(Conselho dos Exportadores de
Café do Brasil). Após visitar as
principais regiões cafeeiras daquele país, Braga diz que, ao
contrário do que pode parecer à
primeira vista, essa profissionalização das exportações do
Vietnã é favorável ao Brasil.
Até agora, as exportações estão basicamente nas mãos de
órgãos estatais, que colocam o
produto no mercado sem muito critério.
A adoção de estruturas de exportação no Vietnã, tão modernas como as do Brasil, vai tornar a comercialização daquele
país asiático mais eficaz e com
menores oscilações de preço,
segundo Braga.
Atualmente, os vietnamitas
chegam a vender o café robusta
a até US$ 150 por tonelada
abaixo dos preços praticados
na Bolsa de Londres.
Com custos relativamente
baixos e produtividade elevada,
o Vietnã é competitivo e eficiente, diz Braga. As maiores
dificuldades do país, no entanto, estão nas exportações. Muitos exportadores olham o mercado vietnamita com reservas
devido à qualidade do produto
entregue ou às dificuldades no
cumprimento de compromissos. A OMC deve trazer uma
nova estrutura de comercialização ao país, diz Braga.
Essa mudança no Vietnã deverá proporcionar uma melhoria para o Brasil e para o comércio mundial, diz o diretor-geral
do Cecafé. Mais experientes, as
empresas privadas vão buscar
margem melhor nas vendas,
impedindo as quedas bruscas
de preços no mercado internacional.
Competitividade
Essa mudança de cenário dará maior competitividade ao
café robusta brasileiro no mercado externo. Atualmente, devido à demanda interna, os preços do produto nacional são superiores aos do vietnamita. Esses preços são sustentados pelas dificuldades de importações
que as indústrias brasileiras
têm, principalmente devido às
exigências fitossanitárias.
Essa profissionalização do
Vietnã pode, no entanto, não
ser benéfica ao Brasil se houver
expansão de área e de produção
no país asiático. Mas Braga não
acredita nessa possibilidade.
A cafeicultura vietnamita foi
montada no início da década de
90 em áreas de matas. Essas
áreas hoje são restritas e estão
protegidas por legislação ambiental.
O formato da propriedade
também é propício à manutenção da área atual. A propriedade média é de 1,5 hectare, cultivada apenas pelo casal e um ou
dois filhos.
O país cresce a uma média de
7% ao ano e a industrialização
está levando a mão-de-obra do
campo para a cidade. Há dois
anos, o salário dos trabalhadores nas áreas de produção de
café era de US$ 1 a US$ 1,50 por
dia. Já está em US$ 3.
Braga destaca, ainda, que o
volume atual de produção, de
14 milhões a 16 milhões de sacas por ano, chegou à meta estabelecida pelo governo no inicio da cafeicultura no país.
A cultura do café no Vietnã
surpreende, diz Braga. A produtividade deles é de 30 a 35 sacas do tipo robusta por hectare
-o dobro da do Brasil-, com
custos de US$ 30 por saca.
No Brasil, os custos médios
são de US$ 50 por saca. As lavouras são boas, devido à terra,
e o país cultiva variedades de
árvores resistentes.
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