|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Corte do IPI não vai todo para consumidor
Veículos é setor que mais alavancou vendas com estímulo do governo e o que mais repassou ao cliente corte no imposto
Já linha branca e materiais de construção, também desonerados, não passaram boa parte do ganho para os consumidores
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O estímulo do governo à economia com a redução do IPI para setores tidos como estratégicos ajudou principalmente a
indústria automobilística, cuja
produção e vendas no varejo
cresceram mais do que os demais. Foi também o único a repassar integralmente para os
preços finais o benefício.
É o que revela levantamento
da Folha com base em indicadores de produção industrial e
comércio do IBGE e de preços
ao consumidor da FGV.
Os dados mostram que o preço dos veículos novos foram os
que mais caíram: 7,14%, em linha com a redução de 7 pontos
do IPI, zerado para os modelos
de mil cilindradas.
O mesmo não ocorreu para a
linha branca e materiais de
construção -o setor que menos se beneficiou da desoneração e cujo repasse aos preços
também se deu no menor nível.
O repasse nesses ramos ficou
aquém do percentual de desoneração em quase todos os produtos. A geladeira teve IPI reduzido em 10 pontos, mas a
queda no varejo foi de 7,4% entre abril e novembro. No caso
da máquina de lavar (também
corte de 10 pontos), houve redução de 8,3%.
Os materiais de construção
receberam o benefício de redução de 5 a 8 pontos da alíquota
IPI, mas a queda dos preços de
artigos de reparo de residência
foi só de 0,69%, segundo a
FGV.
Para Bernardo Wjuniski,
economista da Tendências
Consultoria, a desoneração
provocou uma antecipação do
consumo, tendência que beneficiou mais o ramo de veículos.
Ou seja, quem planejava trocar de carro optou por aproveitar, já que trata-se de um bem
de maior valor, e os descontos
também são proporcionalmente mais altos. Tal fenômeno,
diz, teve menor impacto nos
demais setores. Isso explica o
melhor desempenho da produção de veículos -favorecida
também pela redução maior
dos preços que outros ramos.
Já nos materiais de construção, o receio de comprar e reformar um imóvel (bem de custo maior do que um veículo e
com financiamento mais dilatado) impediu uma reação
mais forte, segundo Wjuniski.
A produção de veículos avançou 107,1% no período da desoneração (dezembro de 2008 a
outubro de 2009). Já os insumos da construção (minerais
não metálicos) cresceram, por
exemplo, apenas 6,8% de abril
a outubro deste ano.
"O setor automobilístico é
muito sensível a preço por vender bens de alto valor. Qualquer redução tem impacto nas
vendas", diz Aurélio Bicalho,
do Itaú BBA.
Para Bicalho, a decisão do
governo foi acertada e permitiu
"reavivar" a economia rapidamente. Segundo estudo do
banco, as políticas de estímulo
à economia -dentre elas, a redução do IPI foi o carro chefe
com desoneração de R$ 5,6 bilhões neste ano- evitaram
uma contração recorde de
3,2% do PIB neste ano.
Fim das desonerações
Ambos os economistas dizem, porém, que já não é mais
necessário tal tipo de estímulo,
que já poderia acabar. "São medidas que devem ser de curto
prazo e transitórias", afirma Bicalho.
Em novembro, o governo
prorrogou a redução do IPI para veículos, eletrodomésticos,
materiais de construção e incluiu o setor de móveis na lista.
Para Bicalho, os investimentos já retomaram, e a economia
crescerá sustentada em 2010
pelo avanço do emprego e da
renda. Diante de tal cenário,
diz, não há mais necessidade de
desonerações.
Ele crê que o fim de parte dos
benefícios e o crescimento da
arrecadação permitirão ao governo elevar a meta de superavit e reforçar sua política fiscal
em 2010.
Já Wjuniski critica a decisão
do governo de desonerar apenas alguns setores e escolher de
modo aleatório os beneficiados. Defende um corte de impostos "horizontal". Reconhece, porém, a importância da indústria automobilística como
indutora de toda uma extensa
cadeia de fornecedores.
Bicalho diz, por sua vez, que
os estímulos atenderam a setores importantes da economia,
especialmente ao de veículos.
Texto Anterior: Hollywood se sai bem em ano de crise econômica Próximo Texto: Frase Índice
|