São Paulo, sábado, 26 de dezembro de 2009

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Corte do IPI não vai todo para consumidor

Veículos é setor que mais alavancou vendas com estímulo do governo e o que mais repassou ao cliente corte no imposto

Já linha branca e materiais de construção, também desonerados, não passaram boa parte do ganho para os consumidores


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O estímulo do governo à economia com a redução do IPI para setores tidos como estratégicos ajudou principalmente a indústria automobilística, cuja produção e vendas no varejo cresceram mais do que os demais. Foi também o único a repassar integralmente para os preços finais o benefício.
É o que revela levantamento da Folha com base em indicadores de produção industrial e comércio do IBGE e de preços ao consumidor da FGV.
Os dados mostram que o preço dos veículos novos foram os que mais caíram: 7,14%, em linha com a redução de 7 pontos do IPI, zerado para os modelos de mil cilindradas.
O mesmo não ocorreu para a linha branca e materiais de construção -o setor que menos se beneficiou da desoneração e cujo repasse aos preços também se deu no menor nível.
O repasse nesses ramos ficou aquém do percentual de desoneração em quase todos os produtos. A geladeira teve IPI reduzido em 10 pontos, mas a queda no varejo foi de 7,4% entre abril e novembro. No caso da máquina de lavar (também corte de 10 pontos), houve redução de 8,3%.
Os materiais de construção receberam o benefício de redução de 5 a 8 pontos da alíquota IPI, mas a queda dos preços de artigos de reparo de residência foi só de 0,69%, segundo a FGV.
Para Bernardo Wjuniski, economista da Tendências Consultoria, a desoneração provocou uma antecipação do consumo, tendência que beneficiou mais o ramo de veículos.
Ou seja, quem planejava trocar de carro optou por aproveitar, já que trata-se de um bem de maior valor, e os descontos também são proporcionalmente mais altos. Tal fenômeno, diz, teve menor impacto nos demais setores. Isso explica o melhor desempenho da produção de veículos -favorecida também pela redução maior dos preços que outros ramos.
Já nos materiais de construção, o receio de comprar e reformar um imóvel (bem de custo maior do que um veículo e com financiamento mais dilatado) impediu uma reação mais forte, segundo Wjuniski.
A produção de veículos avançou 107,1% no período da desoneração (dezembro de 2008 a outubro de 2009). Já os insumos da construção (minerais não metálicos) cresceram, por exemplo, apenas 6,8% de abril a outubro deste ano.
"O setor automobilístico é muito sensível a preço por vender bens de alto valor. Qualquer redução tem impacto nas vendas", diz Aurélio Bicalho, do Itaú BBA.
Para Bicalho, a decisão do governo foi acertada e permitiu "reavivar" a economia rapidamente. Segundo estudo do banco, as políticas de estímulo à economia -dentre elas, a redução do IPI foi o carro chefe com desoneração de R$ 5,6 bilhões neste ano- evitaram uma contração recorde de 3,2% do PIB neste ano.

Fim das desonerações
Ambos os economistas dizem, porém, que já não é mais necessário tal tipo de estímulo, que já poderia acabar. "São medidas que devem ser de curto prazo e transitórias", afirma Bicalho.
Em novembro, o governo prorrogou a redução do IPI para veículos, eletrodomésticos, materiais de construção e incluiu o setor de móveis na lista.
Para Bicalho, os investimentos já retomaram, e a economia crescerá sustentada em 2010 pelo avanço do emprego e da renda. Diante de tal cenário, diz, não há mais necessidade de desonerações.
Ele crê que o fim de parte dos benefícios e o crescimento da arrecadação permitirão ao governo elevar a meta de superavit e reforçar sua política fiscal em 2010.
Já Wjuniski critica a decisão do governo de desonerar apenas alguns setores e escolher de modo aleatório os beneficiados. Defende um corte de impostos "horizontal". Reconhece, porém, a importância da indústria automobilística como indutora de toda uma extensa cadeia de fornecedores.
Bicalho diz, por sua vez, que os estímulos atenderam a setores importantes da economia, especialmente ao de veículos.


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