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LUÍS NASSIF
Diplomacia e comércio
O Brasil aprendeu a fazer
diplomacia comercial. É
das poucas áreas do governo
em que existe ação coordenada e busca de resultados. Itamaraty, Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior, Ministério da
Agricultura, Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada)
têm atuado de forma coordenada e com resultados palpáveis.
Na viagem que começa na
Índia, há uma agenda ampla
de visitas de Lula a fabricantes
de semicondutores, dentro da
estratégia previamente desenhada de trazer fábricas para
o Brasil. Há dúvidas sobre se o
setor deve ser encarado de forma prioritária. No caso, o que
importa é o exemplo de ação
coordenada buscando resultados.
Outra ação rápida foi no caso da cota de carne da Rússia.
A Rússia planejava cotas tomando por base a média dos
últimos quatro anos. Como as
vendas brasileiras se aceleraram no último ano, corria-se o
risco de perder mercado. Uma
ação rápida, com a viagem de
três ministros para o país, permitiu manter a participação
brasileira.
A viagem para a Índia foi
precedida de estudos para
identificar áreas de interesse
comum -tanto para parceria
quanto para aprendizado. A
Índia exporta US$ 17 bilhões
em serviços e softwares. A meta
do Brasil é chegar a US$ 1 bilhão nos próximos dois anos. A
idéia é assinar acordos que
permitam ao país adquirir alguma musculatura na área,
para desenvolver mais adiante.
Outra área prioritária é a de
exportação de serviços. A meta
é chegar a US$ 2 bilhões em
curto prazo. A vantagem, na
exportação de serviços, é o projetista poder definir as normas
para as licitações posteriores.
No caso dos Estados Unidos e
Japão, as firmas de serviço conquistam a licitação, depois definem normas sofisticadas para os componentes, muitas delas com o único intuito de criar
barreiras a concorrentes. O
parque industrial brasileiro
dispõe de equipamentos universais e de marcas internacionais. A diplomacia comercial
consiste em demonstrar que se
pode fazer engenharia sofisticada sem ficar preso a tipos de
equipamentos não tão universais assim.
Mesmo assim, ainda há críticas ao fato de as negociações
comerciais serem conduzidas
pelo Itamaraty. Se não se fecharem acordos comerciais relevantes nos próximos anos, especialmente na Alca, o setor
sucroalcooleiro corre o risco de
soçobrar. O plantio e a produção estão aumentando sensivelmente e, se não se abrirem
mercados, haverá excesso de
oferta, derrubando os preços.
Para Eduardo Pereira de Carvalho, presidente da Unica (a
central do setor), a demora decorre da subordinação da visão comercial à visão geopolítica -importante nos tempos
da Guerra Fria, como moeda
de troca, mas irrelevante hoje
em dia, segundo ele.
Em sua opinião, o ideal seria
separar ambos os campos, como ocorre nos Estados Unidos
-com Colin Powell cuidando
do campo político e Robert
Zoellick do comercial-, ou na
União Européia, com Pascal
Lamy.
De qualquer forma, a discussão se dá em cima de uma base
concreta. Desde o caso Embraer-Bombardier, o país passou a aprender rapidamente
como juntar diplomacia e comércio.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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