São Paulo, terça-feira, 27 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LUÍS NASSIF

Diplomacia e comércio

O Brasil aprendeu a fazer diplomacia comercial. É das poucas áreas do governo em que existe ação coordenada e busca de resultados. Itamaraty, Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior, Ministério da Agricultura, Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) têm atuado de forma coordenada e com resultados palpáveis.
Na viagem que começa na Índia, há uma agenda ampla de visitas de Lula a fabricantes de semicondutores, dentro da estratégia previamente desenhada de trazer fábricas para o Brasil. Há dúvidas sobre se o setor deve ser encarado de forma prioritária. No caso, o que importa é o exemplo de ação coordenada buscando resultados.
Outra ação rápida foi no caso da cota de carne da Rússia. A Rússia planejava cotas tomando por base a média dos últimos quatro anos. Como as vendas brasileiras se aceleraram no último ano, corria-se o risco de perder mercado. Uma ação rápida, com a viagem de três ministros para o país, permitiu manter a participação brasileira.
A viagem para a Índia foi precedida de estudos para identificar áreas de interesse comum -tanto para parceria quanto para aprendizado. A Índia exporta US$ 17 bilhões em serviços e softwares. A meta do Brasil é chegar a US$ 1 bilhão nos próximos dois anos. A idéia é assinar acordos que permitam ao país adquirir alguma musculatura na área, para desenvolver mais adiante.
Outra área prioritária é a de exportação de serviços. A meta é chegar a US$ 2 bilhões em curto prazo. A vantagem, na exportação de serviços, é o projetista poder definir as normas para as licitações posteriores.
No caso dos Estados Unidos e Japão, as firmas de serviço conquistam a licitação, depois definem normas sofisticadas para os componentes, muitas delas com o único intuito de criar barreiras a concorrentes. O parque industrial brasileiro dispõe de equipamentos universais e de marcas internacionais. A diplomacia comercial consiste em demonstrar que se pode fazer engenharia sofisticada sem ficar preso a tipos de equipamentos não tão universais assim.
Mesmo assim, ainda há críticas ao fato de as negociações comerciais serem conduzidas pelo Itamaraty. Se não se fecharem acordos comerciais relevantes nos próximos anos, especialmente na Alca, o setor sucroalcooleiro corre o risco de soçobrar. O plantio e a produção estão aumentando sensivelmente e, se não se abrirem mercados, haverá excesso de oferta, derrubando os preços. Para Eduardo Pereira de Carvalho, presidente da Unica (a central do setor), a demora decorre da subordinação da visão comercial à visão geopolítica -importante nos tempos da Guerra Fria, como moeda de troca, mas irrelevante hoje em dia, segundo ele.
Em sua opinião, o ideal seria separar ambos os campos, como ocorre nos Estados Unidos -com Colin Powell cuidando do campo político e Robert Zoellick do comercial-, ou na União Européia, com Pascal Lamy.
De qualquer forma, a discussão se dá em cima de uma base concreta. Desde o caso Embraer-Bombardier, o país passou a aprender rapidamente como juntar diplomacia e comércio.

E-mail -
Luisnassif@uol.com.br


Texto Anterior: Aposentados: Previdência deve parcelar dívidas
Próximo Texto: Leite derramado: Parmalat cria unidade para auxiliar a filial no Brasil
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.