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SAFRA
País terminou 2003 com vendas externas contratadas de 800 mil toneladas do produto; previsão era de 600 mil toneladas
Exportações de trigo superam expectativa
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
O ano passado foi um período
de ouro para o agronegócio brasileiro. O país assumiu a liderança
mundial em receitas nas exportações de soja, passou a liderar as
exportações mundiais de carne
bovina, desbancou os Estados
Unidos nas receitas com exportações de frango e, o que jamais se
esperava, terminou o ano com
vendas externas contratadas de
800 mil toneladas de trigo. Essas
exportações superam as previsões
iniciais de 600 mil toneladas feitas
no semestre passado.
Líder mundial nas importações
de trigo, as exportações brasileiras ocorrem devido a uma safra
interna recorde de 5,5 milhões de
toneladas e a uma quebra na produção mundial devido à seca em
várias regiões produtoras. Apesar
dessas exportações, o país continua dependente do mercado externo. Todo o trigo que sai voltará
na forma de importações. Isso
porque os brasileiros consomem
9,5 milhões de toneladas por ano,
4 milhões acima da produção do
ano passado.
Essas exportações se devem a
uma situação conjuntural, mas
são importantes para firmar o
país como grande produtor do cereal, diz Benami Bacaltchuk, chefe-geral da Embrapa Trigo.
"O Brasil nunca vai ser auto-suficiente em trigo se não buscar outros mercados", diz ele. As exportações garantem estabilidade de
preços, evitando quedas bruscas
no período de colheita, e exigem
que os brasileiros produzam um
trigo de qualidade para que seja
aceito no mercado externo.
Para o chefe-geral da Embrapa
Trigo, essas exportações abrem
novos caminhos para o mercado
futuro de trigo. "O país tem tecnologia e genética para aumentar
a produção, mas precisamos de
mercado", acrescenta.
Jairo Facchio, diretor da JF Corretora, diz que se começa a desenhar um novo quadro para o trigo
no país. O produto do Rio Grande
do Sul, especial para bolachas, é
bem aceito em vários países, inclusive na Europa. Já o produto
paranaense, mais rico em glúten,
fica no mercado interno.
Os gaúchos vão produzir cada
vez mais trigo brando, e os paranaenses, se dedicar mais ao trigo
para pães, acrescenta. Os elevados
custos internos de transporte do
produto também colocam cada
vez mais o trigo gaúcho fora do
mercado nacional.
O custo do envio de uma tonelada de trigo gaúcho para o Nordeste é de US$ 45. Para a Europa, é de
US$ 18. Na lista dos compradores
de trigo nacional no ano passado
estão Itália, Alemanha, Ucrânia,
Egito, Tunísia e Marrocos. A Itália, um dos países precursores a
dar suporte à produção de trigo
no Brasil, comprou 50 mil toneladas. O Brasil não exportava trigo
desde o século 19, quando vendia
o produto para a Argentina.
Avanço para o centro
Em busca da auto-suficiência na
produção, o plantio de trigo deverá avançar para o Centro-Oeste e
cerrados. A Embrapa desenvolve
novas cultivares para a região e já
mantém vários programas conjuntos com governos e indústrias
nessas regiões. Essas novas cultivares procuram maior adaptação
às regiões de plantio para uma redução nos riscos do cultivo.
Bacaltchuk acredita, ainda, no
avanço do trigo para as regiões
centrais do país devido aos elevados custos de transporte. A necessidade de beneficiamento do produto na região vai forçar as indústrias a pagar mais pelo trigo da região, já que os custos de transporte do Sul para o Centro-Oeste chegam a R$ 80 por tonelada. Para as
indústrias, é mais vantajoso incentivar o plantio na região do
que ficar dependente do Sul ou do
produto importado, acrescenta o
técnico da Embrapa.
Mercado interno
Os moinhos, que viveram dias
difíceis no ano passado, esperam
uma reação do mercado neste
ano. Lawrence Pih, do moinho
Pacífico, diz que o consumo de
2003 certamente ficou abaixo dos
9 milhões de toneladas, mas que,
para este ano, a indústria espera
9,5 milhões.
As importações de trigo nos últimos dois anos foram prejudicadas por uma queda no volume
mundial produzido e pela elevação do dólar diante do real. No segundo semestre de 2003, os preços voltaram a recuar, mas ainda
estão próximos de US$ 170 por tonelada no norte da Argentina.
Essa elevação de preços no mercado internacional e a entrada em
vigor da nova taxa da Cofins fará
com que os moinhos iniciem fevereiro com ajuste de 5% nos preços da farinha.
O crescimento de produção
brasileira vem em um bom momento. Problemas climáticos em
alguns dos principais produtores
mundiais, como Canadá, Austrália e Argentina, derrubaram os estoques mundiais. Os dados mais
recentes do Usda (Departamento
de Agricultura dos EUA) indicam
volumes mundiais atuais de 127
milhões, contra 201 milhões há
dois anos. A produção mundial
de 2003/4 recua para 553 milhões
de toneladas -em 2002 eram 582
milhões-, e o consumo fica próximo dos 600 milhões de toneladas nas previsões do Usda.
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