São Paulo, terça-feira, 27 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAFRA

País terminou 2003 com vendas externas contratadas de 800 mil toneladas do produto; previsão era de 600 mil toneladas

Exportações de trigo superam expectativa

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

O ano passado foi um período de ouro para o agronegócio brasileiro. O país assumiu a liderança mundial em receitas nas exportações de soja, passou a liderar as exportações mundiais de carne bovina, desbancou os Estados Unidos nas receitas com exportações de frango e, o que jamais se esperava, terminou o ano com vendas externas contratadas de 800 mil toneladas de trigo. Essas exportações superam as previsões iniciais de 600 mil toneladas feitas no semestre passado.
Líder mundial nas importações de trigo, as exportações brasileiras ocorrem devido a uma safra interna recorde de 5,5 milhões de toneladas e a uma quebra na produção mundial devido à seca em várias regiões produtoras. Apesar dessas exportações, o país continua dependente do mercado externo. Todo o trigo que sai voltará na forma de importações. Isso porque os brasileiros consomem 9,5 milhões de toneladas por ano, 4 milhões acima da produção do ano passado.
Essas exportações se devem a uma situação conjuntural, mas são importantes para firmar o país como grande produtor do cereal, diz Benami Bacaltchuk, chefe-geral da Embrapa Trigo.
"O Brasil nunca vai ser auto-suficiente em trigo se não buscar outros mercados", diz ele. As exportações garantem estabilidade de preços, evitando quedas bruscas no período de colheita, e exigem que os brasileiros produzam um trigo de qualidade para que seja aceito no mercado externo.
Para o chefe-geral da Embrapa Trigo, essas exportações abrem novos caminhos para o mercado futuro de trigo. "O país tem tecnologia e genética para aumentar a produção, mas precisamos de mercado", acrescenta.
Jairo Facchio, diretor da JF Corretora, diz que se começa a desenhar um novo quadro para o trigo no país. O produto do Rio Grande do Sul, especial para bolachas, é bem aceito em vários países, inclusive na Europa. Já o produto paranaense, mais rico em glúten, fica no mercado interno.
Os gaúchos vão produzir cada vez mais trigo brando, e os paranaenses, se dedicar mais ao trigo para pães, acrescenta. Os elevados custos internos de transporte do produto também colocam cada vez mais o trigo gaúcho fora do mercado nacional.
O custo do envio de uma tonelada de trigo gaúcho para o Nordeste é de US$ 45. Para a Europa, é de US$ 18. Na lista dos compradores de trigo nacional no ano passado estão Itália, Alemanha, Ucrânia, Egito, Tunísia e Marrocos. A Itália, um dos países precursores a dar suporte à produção de trigo no Brasil, comprou 50 mil toneladas. O Brasil não exportava trigo desde o século 19, quando vendia o produto para a Argentina.

Avanço para o centro
Em busca da auto-suficiência na produção, o plantio de trigo deverá avançar para o Centro-Oeste e cerrados. A Embrapa desenvolve novas cultivares para a região e já mantém vários programas conjuntos com governos e indústrias nessas regiões. Essas novas cultivares procuram maior adaptação às regiões de plantio para uma redução nos riscos do cultivo.
Bacaltchuk acredita, ainda, no avanço do trigo para as regiões centrais do país devido aos elevados custos de transporte. A necessidade de beneficiamento do produto na região vai forçar as indústrias a pagar mais pelo trigo da região, já que os custos de transporte do Sul para o Centro-Oeste chegam a R$ 80 por tonelada. Para as indústrias, é mais vantajoso incentivar o plantio na região do que ficar dependente do Sul ou do produto importado, acrescenta o técnico da Embrapa.

Mercado interno
Os moinhos, que viveram dias difíceis no ano passado, esperam uma reação do mercado neste ano. Lawrence Pih, do moinho Pacífico, diz que o consumo de 2003 certamente ficou abaixo dos 9 milhões de toneladas, mas que, para este ano, a indústria espera 9,5 milhões.
As importações de trigo nos últimos dois anos foram prejudicadas por uma queda no volume mundial produzido e pela elevação do dólar diante do real. No segundo semestre de 2003, os preços voltaram a recuar, mas ainda estão próximos de US$ 170 por tonelada no norte da Argentina.
Essa elevação de preços no mercado internacional e a entrada em vigor da nova taxa da Cofins fará com que os moinhos iniciem fevereiro com ajuste de 5% nos preços da farinha.
O crescimento de produção brasileira vem em um bom momento. Problemas climáticos em alguns dos principais produtores mundiais, como Canadá, Austrália e Argentina, derrubaram os estoques mundiais. Os dados mais recentes do Usda (Departamento de Agricultura dos EUA) indicam volumes mundiais atuais de 127 milhões, contra 201 milhões há dois anos. A produção mundial de 2003/4 recua para 553 milhões de toneladas -em 2002 eram 582 milhões-, e o consumo fica próximo dos 600 milhões de toneladas nas previsões do Usda.


Texto Anterior: O vaivém das commodities
Próximo Texto: Reciclagem: Projeto da Embrapa reaproveita a casca do coco verde em Fortaleza
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.